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Durante muitos anos tive aquela sensação pós-adolescente que já tinha comido telepizzas e huts suficientes para o resto da vida e que estas, numa reduzidíssima visão da cozinha italiana, tinham completado a minha quota para o resto da vida. Portugal também não ajudou, dado que durante muito tempo as pizzarias e trattorias que apareciam eram amalgamas de uma visão internacionalista da cozinha italiana, muitas vezes com receitas criminalmente adulteradas, como é o caso das natas na carbonara. Foi preciso fazer um par de viagens a Itália para perceber o mundo maravilhoso que a sua gastronomia encerra e apaixonar-me de vez, sem certezas de encontrar esse amor em Portugal.

De modo que foi por recomendação da Catarina que acabamos por lá ir a primeira vez. Ao Obicà Mozzarela Bar, no Porto. Não costumo ser fã dos locais que logo anunciam a sua presença em várias cidades europeias e mundiais, tipo Paris, Roma, Berlim… Porto, a fazer lembrar as lojas de centro comercial. Mas houve simpatia na receção a uma sala que simula um pátio do mediterrâneo, leve e claro, e houve deslumbramento sensorial mal chegou o couvert.

Do bar de mozzarellas vieram a fumada e a straciatella. A fumada é intensa e é preciso gostar do sabor do fumo, que se estende no palato por muito tempo. Já a straciatella, em fios e pedaços, estava fresca e muito macia, ligeiramente amarga, a desfazer-se quando colocada em cima da focaccia com azeite ou envolvida num grissino grosso. O bar tem muitas opções para quem gosta ou para quem quer aprender mais sobre estes queijos, pelo que vale a pena escolher e repetir, se for preciso.



Num outro dia vieram umas almondegas de vitela, salsicha e queijo e uma tábua de antipasti, onde encontrei um Parma DOP de cura média, salame de javali bem denso que se desfazia ao trincar, quadradinhos de queijo Tallegio DOP firmes, umas alcachofras marinadas e assadas a trazer secura à tábua e dois crostinis para acompanhar as proteínas, com queijo mozzarella, e outro de tomate e manjericão. Isto sim, uma viagem a Itália e um marcador de origem, depois da personalidade conferida ao restaurante pelo bar de Mozzarella. Também não se devem perder as ofertas de foccacia. Pedimos uma com tomate cereja e um manjericão intenso soltos em cima da massa fofa.

Num dia ao almoço pedi um “caccio e pepe”, uma das “comfort” pastas mais tradicionais de Itália, servida com spaguettonne. Chegou um pouco salgada, mas o umami do queijo omnipresente e o corte picante da pimenta fresca podem ter feito realçar o lado apetitoso do prato, tornando-o ainda mais intenso e prolongado na boca.

Nos principais, deliciei-me com os gnocchis, aveludados, envolvidos e impregnados em pesto que nunca mais acabava e que foram rematados com uma telha crocante de speck, esse presunto do norte com um fumo tão característico. Finalmente, também veio uma “Valtellina”, panado grande e baixo, a fazer lembrar os de Viena, mas que chegou húmido e com o pão ralado pouco crocante. O sabor acabou sacrificado, não evitando um lado gorduroso mais presente. Para compensar, foi acompanhada de umas batatas cortadas grossas e fritas no ponto, muito boas.

Se ainda pudesse haver mais cliché, será que não se pode medir a qualidade de um restaurante italiano pelo seu Tiramisù? Pois bem, fizemos a prova e o Obicà passou folgado. Bolacha bem embebida, Mascarpone fresco e ligeiro e uma camada de chocolate amargo e seco, para rematar as colheradas.

Estou sempre a ouvir os chefes de cozinha a dizer que o importante é o produto. Ora, de todas as vezes que visitei esta casa percebi a importância que o bom produto tem na experiência e também me rendi à excelência das matérias-primas italianas que o Obicà usa, sejam as da casa ou as Indicações Geográficas que tão bem promovem o país. Por isso, lá me rendi ao facto de estar a comer num restaurante com espaços em vários locais do mundo, porque a comida e o serviço me fixaram no sítio onde devia estar: à mesa, a conversar e a divertir-me!

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