Entram agora os primeiros dias do inverno e já só me apetece pratos de panela, quentinhos. Imagino-os a fervilhar nos potes de três pernas ao lado da lareira. É verdade que a vida das cidades e dos restaurantes já não proporciona estes cenários, mas o importante é que a comida esteja lá e que os cheiros e os sabores nos transportem para o quentinho e o conforto.
Inverno é tempo de homenagem ao porco e será natural que, até meados de março, passem por estas linhas mais propostas e experiências oferecidas pela matança, pelo fumeiro e pelo fogo dos fogões do inverno.
Por isto tudo, não poderia começar o inverno sem uma visita ao Rápido, ali ao lado da estação de São Bento, no Porto. Tem um cozido de prestígio afamado, completo, feito à moda do Douro Litoral com fumeiro transmontano.
Tem arroz, couve portuguesa, batata amarelinha e cenoura doce e bem cozida. O fumeiro vem de Boticas, disseram-me. Veio desde sempre, mas agora está anunciado no menu, o que mostra que a informação sobre a origem dos produtos é cada vez mais importante para o cliente.
A acompanhar os vegetais estavam rodelas de chouriço de sangue denso e saboroso, barriga de porco fumada e salgada, cozida até se desfazer, chouriço de pimentão cortado em pedaços generosos e botelo, raro nos cozidos do litoral, sequinho e curado, com final seco e amargo. A carne para cozer mostrou-se suave e intensa, a condizer com o resto das carnes. Também havia pé de porco. Tinha pouco que comer, mas dava sabor a todos os ingredientes do prato e ao caldo e, por isso, uniu tudo num só repasto.
O que se quer de um cozido é isto.
Há neste prato um denominador comum de sabor, dado pela grande quantidade de umami (o cozido é um dos pratos de confeção portuguesa com mais umami), intercalado com os sabores salgados e frescos das carnes e a textura dos legumes. É por isso que andamos sempre a saltitar de carne em carne e a intercalamos com uma garfada de couve ou um troço de cenoura.
O segredo dos cozidos é não complicar. Conseguir ligar tudo com delicadeza na cozedura e depois deixar os ingredientes falar um a um.
É isto que acontece no cozido do Rápido.
O Rápido
R. da Madeira 194, Porto
22 205 4847
www.restauranteorapido.pt