O sonho de qualquer crítico gastronómico é poder avaliar a comida de um grande chefe mundial. É arriscado, desafiante e até perigoso, e nunca poderá ser pretensioso, se quisermos ser bons avaliadores e produzir boas críticas. Se algum dia teria a intenção de fazer uma crítica gastronómica a Dabiz Muñoz, multiestrelado chefe espanhol? Não.
Já tive a oportunidade de experimentar a sua comida no seu RavioXO, em Madrid, onde apresenta uma linha provocadora e às vezes radical, cheia de apontamentos excessivos, mas harmoniosos e intensos, viajando por várias partes do mundo, sobretudo pela Ásia. É assim a sua cozinha e é assim a sua vida, num estilo punk encrustado no século XXI.
O seu desconcerto e provocação ofereceu-me a oportunidade para eu poder fazer a tal crítica à comida de um grande chefe. Na verdade, foi a Burger King que me permitiu isso, com o lançamento da sanduiche King Dabiz, criada por este.
Afinal, a que sabe o hambúrguer?
Devo começar por dizer que o chefe se preocupou em garantir que as pessoas sentem o sabor dos vários alimentos que compõem o King Dabiz, em vez de apresentar uma pasta saborosa mas homogénea, típica destas lojas de hambúrgueres.
O cuidado foi criar algo mais simples que complexo, sem grandes andares de ingredientes exuberantes, e encontrar pequenos pormenores de sabor que fazem a diferença: O pão, um brioche circular doce e amendoado que marca imediatamente o palato, e o molho, de que falo mais adiante.
De resto, assumiu aquilo que a casa tem de ter de bom: um hambúrguer que sabe a bife, um cornichon acídulo e intenso com sabor marcado a pickle, que lhe confere o exotismo que Muñoz tanto gosta, e o bacon, em grande quantidade, bem grelhado e seco.
Se o brioche envolve todos os componentes da sanduiche, é o molho que os liga. Aliás, os molhos, ou não fossem estes uma das imagens de marca do chefe. O King Dabiz oferece dois, uma maionese de ervas onde parece destacar-se o cebolinho, macia e fresca, que está barrada no pão, e um ketchup agridoce marcante, usado para cobrir a carne. À medida que se mastiga, ambos se misturam na boca e resultam num sabor exótico e prolongado.
O resultado é um hambúrguer ambicioso, guloso e desafiante, que vale a pena provar.
É tempo de deixar de lado a atitude gastro-elitista de que estes espaços não são lugares para se comer e ir experimentar uma oferta tão rara como provocadora, que é afinal o desafio que a Burger King fez a Dabiz Muñoz e que ele respondeu com brio.