A primeira visita que fiz ao Eleven Lab Concept foi como convidado de uma amiga. Sempre que passava à porta só via uma loja de roupa, e costumo ser muito desconfiado destas abordagens muito século vinte e um de espaços multiofertas, que se chamam Lab e ainda por cima são concept. Porque querendo estar em todo o lado, às vezes não estão em lado nenhum…
O Eleven Concept Lab, na rua José Falcão, no Porto, começa por ser uma loja de roupa de marcas portuguesas instalada num armazém antigo, de madeira, tardo-oitocentista, no qual foi feita uma intervenção muito boa, elegante e minimalista que manteve a traça e em cuja mezzanine e pátio traseiro foi instalado o restaurante. Deste modo, o espaço torna-se grande e luminoso e é bastante confortável.



A lista é moderna, de brunchs, com bowls, burgers, smothies e benedicts. Também tem uma abordagem multicultural e de fusão, preocupada com a saúde e o hype internacional. Funciona.
Fiz no título menção à sangria. Sou fã delas, os leitores sabem e até podem encontrar uma review delas aqui. Pedi da lista uma lollypop branca que chegou à mesa vermelha. As sangrias de frutos vermelhos são muitas vezes deslavadas e sem sabor, mas esta revelou-se complexa e densa, saborosa e prolongada, sem ser uma água com bolinhas vermelhas a boiar, como outros servem. Tem sabor cítrico fresco e vários espirituosos a dar complexidade à bebida. Deve ser uma das melhores sangrias do Porto, se estas estivessem a concurso.
Nas entradas, comi um hummus, cremoso, húmido, acompanhado de crudités, pepino fatiado fino e vários tipos de cenouras baby. Foi uma boa entrada para preparar o estomago sem encher. Não tão bom foi o anúncio na carta de umas batatas bravas que de bravas nada tinham. Nem um mísero miligrama de capsaicina para aquecer a boca. Eram boas enquanto batatas-doces aos palitos fritas acompanhada de uma mayo sedosa, com sabor ao alho nego evidente. Mas nada de picante. Aqui, o concept falhou.


Nos bowls, o de salmão destaca-se por um peixe bom, firme e fresco, sobre uma quinoa tépida multicolorida, leve e solta, numa boa ligação. O de tataki de atum é que podia chamar-se salada. Estava bom, leve, centrado em folhas frescas e soltas e um tataki bem feito, crocante por fora e uma carne leve, tenra e com sabor. Também se destaca o wrap de frango, de sabores complexos e exóticos, macio e quente, que balanceou entre a refeição rápida e a aconchegante.


A cozinha do mundo fica muito bem representada pela shakshuka servida. Aquele prato do médio oriente que nos transporta para todo o mediterrâneo, a tocar no ratatouille francês (mas mais seco) e no gaspacho andaluz (mas mais quente) com os ovos cozidos a apresentarem-se no ponto da liquidez perfeito quando se esvaziou para a pasta de tomate e pimento, doce e intensa, muito bem temperada. Não fica atrás o risotto de cogumelos trufados, de grão al dente, a sentirem-se os sabores a que se propõe: cogumelos variados nas suas texturas e aroma a trufa, num hino muito outonal que ainda se aproveita no inverno. Ficam para a próxima os ovos benedict, que vi passar para outras mesas e também me pareceram de execução exemplar.
Um sticky toffee, tipo trifle com uma massa esponjosa a lembrar christmas pudding e com gelado no topo, em quantidade generosa, foi o remate de uma das refeições.
O serviço é desprendido e atencioso.
Foi uma crónica com muitos itálicos, mas eram todos precisos. Viajamos pelo mundo. Quando se chega ao final desta viagem, percebe-se que o Eleven Lab Concept é um laboratório onde se fazem experiências boas.
As crónicas dos Passeios Gourmet resultam sempre de várias visitas aos locais
e todas as refeições são pagas pelo Globalnews.pt