É um bom companheiro, o prego.
Comemos pregos a vida toda, mas é em adultos que começamos a dar-lhes valor. Antes de ir para a cama depois de uma noitada, quando nada mais aguenta para fazer face à ressaca, quando só é preciso forrar o estômago num almoço apressado.
Falo de pregos em pão. Saciam o desejo de comer apenas como desejo elementar e, ao mesmo tempo, acrescentam um prazer gastronómico a um momento habitualmente comum. Há dias em que procuramos o prego porque é isso que nos apetece comer.

Servindo para responder a uma necessidade básica, apresenta-se aos paladares exigentes com argumentos de valor. Um mau prego nota-se logo e não satisfaz ninguém. Atira para a frente a saciedade sem cumprir a sua função restauradora. Um prego mau frusta o momento.
Deve ser feito com bife de boa qualidade e tenro (ninguém quer andar a cortar a carne com os dentes demasiado tempo), pão fresco (não torrado nem aquecido), fiambre cortado fresco e, na minha opinião, uma risca de mostarda para lhe dar uma frescura final que o palato vai agradecer.
O porto tem bons pregos. É fruto do norte de Portugal ser conhecido pela vitela, carne jovem e tenra que se adapta muito bem a este petisco. A carne é quase sempre acompanhada de fiambre, ou presunto, ou outras variações, e a forma como cada casa trata o pão faz toda a diferença.

Mas o importante é quando se come. Cada momento tem o seu prego especial, aquele que enche o estomago e o coração.
Deixo-vos três propostas no grande Porto, conforme o momento do dia em que queriam ou precisem dele.
O mais afamado é o do Clube 21, casa que começou no Foco e que agora tem um irmão mais novo na rua Passos Manuel. É o companheiro que entra connosco pela noite dentro, porque as casas só fecham às duas da manhã. Dois pãezinhos pequeninos, fofos, que abraçam dois bifinhos deliberadamente malpassados e muito tenros, encimado com fatias de fiambre e queijo. Chega quentinho e vem acompanhado de batatas fritas de pacote, mas boas e frescas.

No Lareira, casa com vários locais espalhados pelo Porto e Matosinhos, os pregos são refeição de jantar, com peça generosa de carne muito mal passada, acolitada por uma fatia generosa de presunto que liga na perfeição com o grande bife mal-passado. O pão bijou acomoda ainda o ovo malpassado e a gema líquida que escorre para a base do pão. As batatas Chips são cobertas por um molho de azeite e ervas que lhes acrescentam sabor.
Para brunch à moda antiga, sem os salamaleques atuais anglo-saxónicos, rematando um pequeno-almoço tardio, o Milénio, em São Mamede de Infesta, é o local ideal. É um prego digno de almoço, farto, completo, em pão espalmado na tostadeira e sempre quentinho. Oferece também um ovo estrelado, bem passado que ajuda a acrescentar sabores ao petisco, fiambre e queijo. Acompanha com batatas aos palitos, sequinhas e temperadas de sal.
O prego é um amigo de todas as horas, como dizia o anúncio dos anos 80. Confortam-nos quando estamos precisados e sabem sempre bem quando acabamos de os comer!