Foi na semana passada galardoado o melhor Pastel de Nata de Lisboa, concurso que tem várias edições e premeia o melhor pastel de nata do ano, entre vários candidatos. A vitória calhou à recentemente aberta confeitaria Glória, na Amadora.
O Porto não tem concursos, mas o pastel de nata já há muito que não é exclusivo da capital. Está por todo o país. E há bons sítios para comer um pastel de nata morno e dourado.
O sucesso do pastel de nata surge na sequência da ação liberal do século XIX que decreta o fim das ordens religiosas. A receita mais conhecida sai do convento de Belém, onde estava guardada, para a loja ali ao lado, que se transforma na atual Fábrica dos Pasteis de Belém. Pode haver versões mais antigas, mas nenhuma ficou não tão conhecida como esta, a de Belém, que na altura era uma localidade nos arredores de Lisboa.
Embora em Portugal seja omnipresente, a nata só recentemente começou a ser reconhecida lá fora como uma iguaria de Portugal. Já tive a oportunidade de comer pasteis de nata em várias cidades do mundo, como Madrid, Genebra, Hong Kong, Macau, e até em Seul. Na Ásia, são apelidados de “egg tarts” e a sua origem está perdida no tempo. No entanto, o sabor e a massa são os mesmos que qualquer pastel de nata em Portugal. A receita veio de cá e entrou na Ásia através d Macau.
No Porto, há várias lojas especializadas em pasteis de nata, com nomes mais ou menos turísticos, apostados em vender este ícone da gastronomia portuguesa. Ao contrário das tripas e da francesinha, de origem portuense, o pastel de nata é um produto verdadeiramente nacional e, portanto, turístico.
Há duas lojas que se destacam na invicta, quer pela qualidade dos seus pastéis, quer pela elegância do espaço e pelo serviço que prestam. Elas são a Manteigaria e a Castro. A Manteigaria abriu em 2014, na praça Camões, em Lisboa, e depois veio para o Porto, e a Castro fez o caminho contrário: inaugurou em 2019, no Porto e, mais tarde, na capital. Encontraram espaços muito elegantes, de arquitetura sóbria e cuidada decoração retro. São locais pequenos e nem sempre acolhedores por causa da sua dimensão, No entanto, dão prioridade em revelar ao público a sua produção de pasteis, contínua e sempre fresca.
Para comer pasteis, coloco sempre uma porção muito pequena de canela no topo. Sem ela, eles ficam frequentemente enjoativos. E se não são enjoativos, perdem a graça. Polvilho levemente a canela e depois retiro o excesso curvando bem o pastel e batendo muito levemente no prato ou nos dedos da outra mão. Deste modo, o sabor intenso da canela nunca se sobrepõe aos outros sabores do pastel. O da Manteigaria é pequeno em tamanho, concentrado, com um creme guloso, intenso e doce, acídulo no final. A massa é firme e crocante e sabe a forno quando a trincamos. O sabor do creme fica na boca durante muito tempo. E a ideal para comer sozinho e desfrutar.
O da Castro é suave, delicado, equilibrado, com sabor a ovo presente no creme. A massa folhada é amanteigada, sedosa e crocante. O final de boca não é longo depois de o comermos, mas é fresco, o que é surpreendente numa nata. Acompanha muito bem um café expresso.
Ainda bem que o pastel de nata se autonomizou das pastelarias convencionais e nos é capaz de oferecer excelência na qualidade e no serviço. Hoje podemos ter uma experiência curta, mas intensa, de comer um pastel de nata morno sempre que quisermos!
