O guia gastronómico da Repsol regressou a Portugal. Uma notícia que só pode ser boa no geral porque significa que, 10 anos depois, a gasolineira espanhola atribui tanta importância à cozinha portuguesa como o investimento que faz em sua casa, do outro lado da fronteira.
Terminada a gala que marca o primeiro anúncio da nova geração do guia, em Santarém, há alguns azimutes que podemos tirar. O guia nasce com mais de 200 entradas e esta base será a referência para o presente e para o futuro.

Mimetizando a hierarquia do congénere Michelin, com “recomendações”, restaurantes com 1, 2 e 3 “sóis” e também os “sóis sustentáveis”, a Repsol afirma que pretende estar mais próxima dos comensais, das experiências gastronómicas propostas, do serviço e das garrafeiras, propondo desmontar a formalidade que o guia concorrente não anuncia, mas impõe.
Também chega a Portugal apostando mais no digital, nas apps e na proximidade com o utilizador.
Dito isto, a distribuição dos “sóis” pelo país pareceu estar em coerência com o proposto na sua missão.
Pelo menos num dos sentidos, o ascendente… Eu explico. Na minha perspetiva, o guia preocupou-se em valorizar uma gastronomia informal boa, onde a cozinha e o comensal estão mais próximos e o fosso entre estes não é tão grande e rigoroso. Isso explica o sol de espaços como o Mito no Porto, O Fernando na Maia, o Pigmeu em Lisboa ou a Mercearia Gadanha em Estremoz, ou os Clássicos Dom Joaquim em Évora ou O Nobre, na capital. São todos espaços onde sentimos a mão próxima dos chefes e cruzamos frequentemente olhares com os protagonistas da nossa refeição. Nestes exemplos, (mas há mais), temos uma proximidade, real, televisionada ou digital com o chefe ou o dono da casa que se mostra apaixonado por aquilo que oferece!


Já no sentido contrário, o critério parece mais confuso. Casas de maior formalidade, mas de grande gastronomia que parecem estar mais à frente do que o próprio guia estabelece como referência, são desvalorizados. Como explicar que o Antiqvvm, no Porto, o Kabuki, em Lisboa, O DOC em Armamar ou o Desarma, no Funchal, não tenham qualquer referência no guia?
Por outro lado, nesta lista os Açores não foram esquecidos, mas o guia parece não ter ido a Trás-os-Montes nem ao Douro.
O país fica assim polvilhado de “sóis”. É a primeira edição e é obvio que há alegrias inesperadas, tristezas surpreendentes e algumas azias. É sempre assim. Mas o guia existe para crescer e se tornar mais maduro com os próximos anos. Há trabalho e afinações para fazer no futuro. Mais uma referência de recomendações para quem quer comer bem e aproveitar a comida e hospitalidade portuguesa é sempre bem-vindo e melhora a concorrência. Bienvenidos e que se queden mucho tiempo!
Podem encontrar todas as recomendações e distinções do Guia Repsol Portugal aqui.