Foi moda e uma moda valente. Há uns anos, os hambúrgueres artesanais começaram a saltar por todo o lado, acompanhados das mais variadas batatas e acredito que não tenha havido capital de distrito que não tenha visto uma hamburgueria a abrir nas suas ruas. O modelo de negócio parecia um sucesso e devia ser rentável, pelo que experiência de comer hambúrgueres saltou das grandes cadeias de fast food para o fashion food.
Uns anos depois, a poeira assentou e nem todos sobreviveram. Duvido que hoje haja hamburguerias em todos os vilarejos como há quatro ou cinco anos atrás. A concorrência foi tanta e a oferta tão semelhante que se consolidaram as mais fortes, mesmo que (algumas) de pequena dimensão. Resistiram aquelas que especificaram a sua oferta e ofereceram mais do que o cheddar e a cebola caramelizada. Apareceram ingredientes estranhos, apresentações ousadas, preços competitivos, espaços confortáveis e estratégias de marketing vencedoras. Sem nunca pôr em causa a qualidade da experiência.
São essas as propostas de que vos quero falar hoje. Não vou rever todo o menu de todos os espaços, mas aqueles hambúrgueres que fazem a diferença e dão vontade de repetir amiúde.
Começo com dois grandes grupos que nos fazem voltar a lá ir. Há um lado de conforto num e de lifestyle no outro que nos propõem repetir a experiência. Estou a falar do H3 e do Honorato.


No caso do primeiro, a proposta de nos servirem a comida no prato é uma aliciante para o espírito português. A minha preferência vai há uns anos para o mediterranean, que encima a carne com rúcula, parmesão e tomate seco. Embora sejam muito boas, às rodelas e sequinhas, evito as batatas e peço só o arroz thai. O “med” e tem a vantagem de já vir com a salada. A conjugação de todos os elementos do prato é ótima e equilibrada.
Já no Honorato, sou sempre tentado a pedir o Capitão Fausto. Com pickles e agrião como ingredientes para além da cebola, queijo e tomate, a mistura com a carne muito presente torna toda a dentada uma rapsódia de sabores e doçura. A magia complementa-se harmonizando o prato com um… cocktail! O Honorato é o cocktail da casa, um long drink refrescante baseado em gin e gengibre que combina muito bem e deixa a boca seca e fresca.
Um franchise personalizado à invicta e ao país, com o mural de Joana Vasconcelos a fazer de ponto turístico, é o Steak and Shake. As salas não são os locais mais confortáveis do mundo, mas o smash burguer mushroom suiss vale a visita, para comer lá ou para levar. Os bifes são pequenos, espalmados e bem passados, mas com sabor a grelha. Os cogumelos frescos intensos misturam-se cremosamente com a cebola caramelizada. Há um lado de sabores do campo que permanecem na boca durante muito tempo.
Já no Peebz viajo até ao México ao comer o hot japapeño. Com as malaguetas que lhe dão o nome frescas e mordazes a cada dentada, é o queijo abundante que liga tudo, do pão à carne bem alta e mal passada no interior. Uma grelha experiente que propõe um bom hambúrguer.


Termino as minhas propostas com a sugestão mais recente, mais estilosa e que, convenhamos, tinha a expectativa que se estreasse no Porto: o ensorsement do Rui Unas aos hambúrgueres Like a Lord. A proposta, fora experiência gastronómica, é tão boa que até podemos receber uma mensagem do Lord de charuto na mão a explicar-nos o que estamos a comer e a desejar bom apetite. Quanto à comida em si, escolhi o Maluco Beleza. Os Like a Lord também são smash burgers, tendencialmente bem passados com sabores intensos por estrem mais próximos da grelha ou serem temperados. Este hambúrguer é bem construído e é todo ligado por uma maionese picante de Sriracha que deixa na boca um final picante. Esta maionese líquida também pode ser pedida para acompanhar as batatas.
Uma das minhas primeiras experiências de hambúrgueres artesanais em Portugal foi no Munchie de Matosinhos. Sempre com as ofertas centradas nos pecados capitais, era um espacinho perto da praia que atraía os surfistas e veraneantes. Para mim, foi onde tudo começou.
Aquilo que foi uma moda tem hoje casas estabelecidas. Ficaram as que souberam crescer, que propuseram informalidade e sabor aos seus clientes e, em alguns casos, estilo e modernidade. Fossem todas as modas assim.

