A caixinha verde e branca dos bombons da Arcádia, que já na minha infância era estilo vintage, abria a meio e mostrava o sortido de chocolates no meio da “palha” branca. Comprava-se ao peso na loja da Avenida dos Aliados e era frequentemente uma das companhias do meu pai à sobremesa, com o café ou depois dele. Nós também íamos à caixa buscar chocolates e tirávamos sem escolher o que saísse. Desta forma, acabamos por comer toda a variedade existente, ao longo do tempo.
Hoje sou eu que vou comprar os bombons e escolho-os de acordo com as memórias da altura e ao desejo visual da minha prole. Esqueço-me de perguntar na loja da rua do Almada se já não embalam na caixa verde e branca. Ela agora é azul e dourada e os chocolates já não se aconchegam na palha… Contudo, a sensação que tenho é que os chocolates de hoje estão melhores, com texturas mais apuradas e os sabores de sempre mais intensos. Haverá bombons novos, adições que complementam e atualizam esse sortido quase centenário.
Uma das novidades que encontrei recentemente foi uma coleção de tabletes de chocolate que me deixaram muito curioso. Algo recente, pois a tradição da Arcádia não passava por vender chocolate em tablete. Esta é uma forma de comer chocolate que aprecio, pelo que resolvi explorar alguns dos disponíveis. Eis o que tenho para vos contar:
Comecei por um chocolate de terroir (que também os há, não são só os vinhos), o São Tomé 74%, duro e firme com bastante amargor inicial. Derrete muito lentamente e quando o colocamos na boca é preciso esperar. De repente surgem sabores de ervas secas e frutos secos, como avelãs e nozes. Amargo e reconfortante, para aqueles que apreciam o chocolate preto gostam! Também é possível degustar tabletes com origem na Tanzânia e no Equador. Há ainda um chocolate preto genérico, que no nariz propõe aromas de torrefação e nibs de cacau. O amargor inicial também está presente. No fim, o que fica é um sabor prolongado de frutos pretos.
Também se podem escolher chocolates a partir do local de onde o cacau é produzido A tablete de caramelo salgado foi a grande surpresa Chocolate ruby, frutado e fresco A fachada da loja da rua do Almada, no Porto
Uma das surpresas desta coleção de tabletes é a união perfeita entre o caramelo salgado, intenso e doce, e o chocolate de leite. Crocante, com o creme líquido do caramelo a envolver-se inteiramente no chocolate quando trincamos… que maravilha! O chocolate apresenta um aroma intenso e amanteigado, algo floral e um toque de nougat. Na boca, desfaz-se num creme quente e doce da fusão com o caramelo salgado e confirmam-se os aromas do nariz. Tem um final muito intenso e prolongado e parece que não acaba.
A proposta mais inovadora neste segmento é o chocolate ruby, que vem numa tablete pequena. Esta é uma nova forma de produzir chocolate, cuja pasta fica naturalmente cor-de-rosa, sem adição de corantes. É uma técnica recente que surge depois da longínqua criação dos chocolates de leite, preto e branco. O Ruby da Arcádia mostra-se cremoso e redondo na boca e são evidentes os sabores intensos a frutos vermelhos e silvestres, do bosque. O final de boca não é muito prolongado, mas enquanto dura é muito intenso e fresco.
E há outras tabletes para todos os gostos: sabores mais frescos como o maracujá, intensos como a trufa, cremosos como a manteiga de amendoim ou poderosos como o chocolate branco.
Fez bem a Arcádia no dia em que saiu da caixa (verde e branca) do sortido para abraçar o novo mundo gourmet dos chocolates e ainda bem que podemos, por estes dias, comprar online para não haver desculpas!