O verão é particular inimigo da ecologia.
Penso que não há estação do ano que seja de maior poluição do que o Verão, juro!
Inúmeras garrafas de vidro e de plástico espalhadas pelas bermas, pelas praias… beatas de cigarro espalhadas na areia, pessoas parvas que julgam ser donas da estrada, da praia, ou da espreguiçadeira do hotel “porque a minha toalha está aqui desde as 7 da manhã!”, enfim!
Quando ocupamos um quarto de hotel por alguns dias, contribuímos imenso para essa poluição, em coisas tão simples que nem reparamos no resto do ano, porque estamos em casa. Num hotel, levamos a mal não trocarem a roupa da cama todos os dias, mesmo quando em casa o fazemos apenas uma ou duas vezes por semana. Levamos a mal não ter uma toalhinha limpa e perfumada de cada vez que saímos do chuveiro. E até levamos a mal o facto de o hotel ter a desfaçatez de deixar mensagens ecológicas como “apague as luzes quando sair do quarto”, ou “não troque toalhas todos os dias, para poupar água”. E mal pomos os pés fora do quarto, vemos o clássico exemplo de “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”.
Recentemente, tive oportunidade de experimentar esta hipocrisia ecológica em primeira mão. Gozando umas merecidas férias num resort hoteleiro, foi com agradável surpresa que me deparei com um excelente programa de sustentabilidade e consciencialização ecológica. Encontrei vários contentores de lixo para separação de resíduos e as habituais mensagens para o cuidado com a utilização da água e da eletricidade. Toda esta consciencialização caiu por terra a partir do momento em que chego ao bar do hotel. Por um lado, serviam bebidas e cocktails em copos de plástico reutilizáveis. Por outro, todas as bebidas quentes (café, chás e derivados) eram servidas em copos de esferovite! Sim, está a ler bem: Copos de Esferovite. Centenas de copos de esferovite iam, e continuam a ir, para o lixo indiferenciado, todos os dias, contribuindo para o crescimento de aterros sanitários ou intoxicando o ar ao serem incinerados. A mensagem não deixa de ser interpretada desta forma:
“poupe água e luz porque assim pagamos menos. Mas f*** o planeta à vontade com os copos de esferovite que isso para nós são trocos!”
Junho, e julho, de 2019, registaram por quase toda a Europa temperaturas na ordem dos 40 Graus Celsius. Vou repetir: Quarenta. Graus. Célsius. Países “tropicais”, como a Noruega, Dinamarca ou Suécia, registaram temperaturas próximas dos 30o C. Recordes históricos de temperaturas máximas foram assim batidos por toda a Europa, enquanto a sociedade continua a assobiar para o lado quando tentamos falar de Aquecimento Global!
A sociedade política – sim, essa outra sociedade – atira com os chavões politicamente corretos e promete medidas, ações, comissões, para abordar o problema, enquanto varre para debaixo do tapete (que é como quem diz: atira para a próxima legislatura, ad eternum…) a efetividade de alguma medida. E é claro que, depois, tudo tresanda a hipocrisia.
Como não poderia deixar de ser, na sua senda de Consciência Social, muitas empresas agarram a oportunidade de se mostrarem sensíveis às questões ecológicas, e tratam logo de divulgar ações de sensibilização para a reciclagem e reutilização de materiais e embalagens. Publicam estudos que demonstram a eficácia das suas ações. Promovem-se como paladinos da ecologia. Juram, de mão no peito, que têm metas traçadas para acabar com o seu contributo para o flagelo da Poluição.
Ao mesmo tempo, substituem-se os sacos de plástico, de 10 Cêntimos, por sacos de papel reciclado, de 50 Cêntimos. Claro que aqui a malta que anda às compras só vê essa coisa da ecologia como (mais) uma razão para lhe ir ao bolso.
E será que não é assim?
Não deixamos de pensar nisso.
Chegamos à caixa de pagamento e carregamos as embalagens de esferovite, envolvidas em mais plástico, em sacos de papel reciclado e deixamos a loja de consciência tranquila por cumprirmos o dever de ter uma “Consciência Ecológica”, e de carteira mais leve.
Mas voltemos à hipocrisia. Já falamos daquela que experimentamos todos os dias, nas compras, em casa, no trabalho, seja a utilização de cápsulas de alumínio ou plástico na máquina do café ou a preguiça de lavar a lata de atum para reciclar e acabar por colocá-la no lixo indiferenciado, a nossa consciência ecológica é como a das empresas: Por conveniência. A ecologia é fixe, desde que não mexa muito com a carteira, certo?
Gilberto Pereira
Consultor de Marketing, Comunicação e Estratégia Digital, Diretor de Operações na MindSEO – Digital Inteligence Solutions.