Depois de ter ganho as eleições de maio, Zelensky, o comediante de 41anos transformado em Presidente da Ucrânia, embalado pelo ímpeto de modelar o Parlamento e gerar uma maioria que lhe fosse mais favorável, aí e no Governo do país, decidiu anunciar a dissolução do Parlamento na cerimónia de posse, provocando eleições antecipadas.
Os seus intentos parecem conseguidos. No momento em que escrevo este texto ainda se aguarda o apuramento final, mas os resultados já conhecidos apontam para uma maioria absoluta, dispensando o partido de Zelensky – criado para estas eleições e cujo nome numa tradução mais ou menos literal é Servidores do Povo – da coligação com o partido pró-europeu Voz, cujo líder é uma estrela do rock. Um resultado bastante distanciado dos partidos tradicionais.
Acabar com a guerra, garantir o regresso dos ucranianos detidos na Rússia e no território temporariamente ocupado da Crimeia e combater a corrupção, foram as principais promessas eleitorais que acompanharam o sucesso da candidatura de Zelensky nas eleições presidenciais e nas legislativas, receita à qual se juntou o desejo de alternativa manifestado pela população e de uma aposta em novos protagonistas.
Num país fortemente marcado pelo conflito no leste – que ao longo dos últimos 5 anos causou mais de 13 mil mortes – apenas foram eleitos 423 dos 450 membros do Parlamento, dada a inexistência de condições para a realização de eleições na Crimeia e Sevastopol, assim como em certas zonas das regiões de Donetsk e Luhansk. Ficaram, assim, por ocupar 27 lugares e é de realçar a capacidade de resposta evidenciada pela administração na gestão de um processo eleitoral antecipado, bem como o modo como os ucranianos acorreram às urnas num domingo de altas temperaturas.
Findo este ato eleitoral Zelensky e o seu partido ficam agora com a responsabilidade de responder a uma população cansada dos velhos políticos e da lentidão das mudanças dos padrões de vida, num dos países mais pobres da Europa que depois de 2014 viu frustradas as esperanças depositadas em mais uma revolução.
Zelensky não terá muitas oportunidades para mostrar que é capaz de proceder às reformas necessárias, a que se juntam muitos outros desafios como a negociação dos contratos de fornecimento de gás, matéria particularmente sensível, sobretudo no estado em que o país se encontra.
O facto de aparecer muito ligado a um dos mais proeminentes oligarcas, deixa no ar dúvidas sobre a real concretização do caminho de mudança por si anunciado e desejado pelo povo ucraniano.
Contudo, como foi dito por David McAllister, líder da missão do Parlamento Europeu que integrei, os recém-eleitos membros do Parlamento têm agora de, em conjunto com o Presidente da Ucrânia, desenvolver esforços no sentido de ir finalmente ao encontro das expetativas da população. “Não serão aceites adiamentos e hesitações”. Boa sorte Ucrânia!
Isabel Santos
Deputada ao Parlamento Europeu