Iggy Pop. Créditos: Global News Portugal
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É consensual que o EDP Vilar de Mouros é, essencialmente, um festival memória cujo cartaz é composto por bandas e músicos com longas carreiras ou que há muito debutaram e que, apesar dos hiatos temporais, estão de novo em acção.

Assim sendo, a edição 2022 do EDP Vilar de Mouros teve três grandes protagonistas, aqueles mais marcas deixaram nas cerca de 55 mil pessoas que passaram pelo recinto nos três dias de festival.

Por ordem alfabética: Bauhaus, Iggy Pop e Gary Numan. Três excelentes concertos, cada um no seu universo muito próprio, mas numa diversidade extremamente complementar.

Antes de mais, dizer que The Legendary Tigerman e Tara Perdida, da representação lusa, e Battles, Black Rebel Motorcycle Club, Clawfinger e Suede, dos convidados estrangeiros, tiveram prestações de assinalar positivamente. Já os Placebo foram (muito) pouco audazes, enquanto os Simple Minds forçaram demasiado a pose.

Público ao rubro. Créditos: Global News Portugal

Mas voltemos ao melhor da coisa e isso foi o «fucking» concerto que Iggy Pop deu do alto dos seus 75 anos, a negra performance dos Bauhaus, com Peter Murphy a exibir-se em todo o seu esplendor, e ainda o bailado protagonizado por Gary Numan.

Após um interlúdio instrumental, Iggy Pop entrou em palco ao som de «Five foot one» e, ainda de blazer vestido, levou de imediato a plateia loucura.

Iggy Pop. Créditos: Global News Portugal

Imparável em palco, provando aos olhos de cerca de 22 mil pessoas que o rock é, de facto, sinónimo de juventude, o norte-americano sonorizou a sua explosiva e provocadora actuação com temas próprios, dos The Stooges e ainda de ambos.

Depois de já se ter ouvido «I wanna be your dog», a dupla «Lust for life» e «The Passenger» generalizaram a loucura a toda extensa plateia, que gingava e cantava ao ritmo do irrequieto Iggy, que de seguida avisou que “antes de morrer vou levar-vos todos numa «Death trip»”.

Iggy Pop. Créditos: Global News Portugal

«Fun house», «Mass production», «Free», «Gimme danger», «I’m Sick of You» e «Down on the Street» preencheram um concerto que encerrou com um impetuoso «Search and (“fucking”) destroy».

Iggy Pop. Créditos: Global News Portugal

Perante a plateia mais numerosa de todo o festival, Iggy Pop agarrou o público assim que entrou em palco e não mais lhes deu tréguas. A plateia foi receptiva ao desafio e respondeu à altura, com mosh, crowdsurfing e muito acompanhamento vocal. Nesse capítulo, Iggy Pop já não tem a mesma voz, mas a que tem assenta que nem uma luva na sua performance, que, apesar daquela coluna em S e daquela perna esquerda, é qualquer coisa de impressionante. Para o final, o músico já denotava algum cansaço, mas nada que deixasse a actuação esmorecer. Em alta de princípio ao fim.

Iggy Pop. Créditos: Global News Portugal

É caso para dizer, long live to Iggy Pop!

No fecho da terceira e última noite do festival, logo a seguir ao “fucking” amazing Iggy Pop… os Bauhaus.

O frio já começara a entrar um pouco antes, mas foi só após se instalar uma misteriosa e fria neblina sobre Vilar de Mouros que Peter Murphy, Daniel Ash, Kevin Haskin e David J entraram em palco para oferecer um delicioso e sumarento concerto aos muitos milhares que permaneceram no festival.

Bauhaus. Créditos: Global News Portugal

Murphy, de bastão na mão, foi elegante nos gestos e expressivo na interacção com a luz. Daniel Ash, de árvore de Natal vestido, esteve intratável na guitarra. Haskin foi imperativo na bateria. E David J, apesar da peripécia que quase o impedia de tocar só para assistir ao concerto do “inesquecível” Iggy Pop [<a href=”http://<iframe src=”https://www.facebook.com/plugins/post.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fmcnightshade%2Fposts%2F613350613568565&show_text=true&width=500″ width=”500″ height=”678″ style=”border:none;overflow:hidden” scrolling=”no” frameborder=”0″ allowfullscreen=”true” allow=”autoplay; clipboard-write; encrypted-media; picture-in-picture; web-share”>lê aqui o relato do próprio], esteve imperturbável e irrepreensível no sustento à sonoridade.

Bauhaus. Créditos: Global News Portugal

E nesse capítulo, o alinhamento foi extraordinário.

Com uma versão começou («Rosegarden Funeral of Sores», de John Cale) e com versões terminou, aliás, quase todo o encore foram versões: «Sister Midnight», de Iggy Pop; «Adrenalin», do álbum «Go Away White (2008); «Telegram Sam», dos T. Rex; e «Ziggy Stardust», de David Bowie.

Bauhaus. Créditos: Global News Portugal

Aquando do regresso ao palco para o encore, a banda relatou o episódio, afirmando que «Sister Midnight» era uma espécie de retribuição a Iggy Pop pela preocupação com David J.

O alinhamento do concerto saiu, quase em exclusivo, dos álbuns «In The Flat Field», de 1980, e «Mask», editado no ano seguinte, no que resultou numa banda-sonora de densa e escura energia, mas que irradiou beleza e alegria pelos milhares de almas que assistiram.

Bauhaus. Créditos: Global News Portugal

Entre outras ouviram-se pérolas como «Double dare», «In the flat field» ou «A God in an alcove», «Spy in the cab», «She’s in parties», «Kick in the eye» ou «Bela Lugosi’s dead», ou ainda, um sempre extraordinário, «Stigmata Martyr». Um luxo!

Bauhaus. Créditos: Global News Portugal

E se foi no fecho do festival que foi possível assistir a duas das melhores actuações da edição 2022 do EDP Vilar de Mouros, logo na primeira noite Gary Numan foi magnífico.

A sonoridade de base rock, textura electrónica e toque industrial, foi a banda-sonora para uma espécie de bailado pós-moderno, em que a indumentária dos guitarristas e as pinturas de guerra que todos exibiam faziam parte do décor.

Gary Numan. Créditos: Global News Portugal

Três rasgos vermelhos na cortina de fundo do palco, como se de três marcas de garras se tratasse, compunha o cenário. Do novo álbum, «Intruder», editado em 2021, ouviram-se alguns temas, como «o tema que dá título ao disco, «The chosen», «The Gift» ou «Is this world not enough». Mas também saíram coisas dos tempos áureos do músico londrino, como «Cars», «Are ‘friends’ electric?», «Pure» ou «Metal», entre outras.

Gary Numan. Créditos: Global News Portugal

Um pouco em contramão, porque se trata de um festival memória, os Placebo apostaram em apresentar o novo álbum, deixando um vasto público desconsolado.

«Never Let Me Go» é o título do oitavo álbum da banda de Brian Molko e Stefan Olsdal e foi o grande contribuinte do concerto dos Placebo em Vilar de Mouros, tendo sido interpretado quase na íntegra. Na recta final da actuação, os londrinos decidiram dar um rebuçado ao público, oferecendo doces como «Too many friends», «For what it’s worth», «Slave to the wage», «The Bitter End» ou «Infra-red», rematando com a versão do tema que trouxe Kate Bush de novo para a ribalta, «Running up that hill (a deal with God)».

«Made in» Portugal, o rock’n’roll de The Legendary Tigerman e o punk-rock dos Tara Perdida salvaram a honra do convento.

The Legendary Tigerman. Créditos: Global News Portugal

Paulo Furtado levou até Vilar de Mouros um alinhamento já rodado na estrada e isso nota-se na forma como conquista o público. A atitude dos músicos em palco contagia a plateia e a música faz o resto. Já no final da actuação, Tigerman ainda se chateou, puxou pelo pessoal, partiu uma guitarra que atirou ao ar, sempre cantando “rock’nroll, rock’n’roll, rock’n’roll», num fecho que parecia atribulado, mas que não passou de… rock’n’roll!

The Legendary Tigerman. Créditos: Global News Portugal

Já na véspera, segundo dia do festival, os Tara Perdida salvaram a noite depois de um entediante concerto dos Simple Minds, que só animaram, devidamente, o numeroso público que assistia nos dois últimos temas, concretamente «Don’t you (forget about me)» e «Alive and kicking». Foi um Jim Kerr a forçar demasiado as poses que têm 40 anos e o que consegue em palco deve-o aos músicos que o acompanham.

Mas voltemos ao punk-rock dos Tara Perdida, que mesmo sem João Ribas, estão aí para que os fãs possam desfrutar de temas memoráveis. Em palco, Rui Costa, Tiago Ganso, Pedro Rosário e Filipe Sousa agitaram as águas e, finalmente, nasceu um mosh pit. Não foi nada que se comparasse ao mosh durante a actuação de Iggy Pop, mas foi uma boa amostra.

Tara Perdida. Créditos: Global News Portugal

Destaque ainda para os concertos do duo nova-iorquino Battles, dos californianos Black Rebel Motorcycle Club (BMRC), dos suecos Clawfinger e também dos londrinos Suede.

Zak Tell, vocalista dos Clawfinger, e Brett Anderson, o dos Suede, foram estrelas maiores no palco de Vilar de Mouros, dando tudo e tirando tudo também do público, protagonizando dois concertos daqueles que ficam na memória de quem assiste.

Clawfinger. Créditos: Global News Portugal

Apesar das sonoridades mais difíceis (há quem lhes chame mais inteligentes), os Battles e os BRMC foram incisivos e agradaram. Ritmos avassaladores e guitarras endiabradas fizeram as delícias da plateia.

O Festival Vilar de Mouros regressa em 2023, entre 24 e 26 de Agosto… no sítio do costume.

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