Mão Morta. Créditos: Global News
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Era expectável e assim aconteceu. Ou seja, a terceira e última noite do Maia Compact Records Fest’22, apesar de domingo, oferecia o cartaz mais apelativo e, por isso mesmo, foi a melhor das três e a que levou mais público ao Complexo Desportivo da Maia.

Foi uma noite em que The Legendary Tigerman aqueceu as hostes, os Mão Morta espalharam a sua magia, os Editors foram fantásticos e os belgas dEUS fecharam em grande a edição do festival que celebrou os primeiros 25 anos da Compact Records.

Ainda assim, houve momentos nas duas noites anteriores que ficaram na retina, como o empolgante concerto dos ingleses The Human League, na noite inaugural, e a atuação explosiva dos norte-americanos The Last Internationale, na noite seguinte.

A proposta do Maia Compact Records Fest era um mergulho nos Anos 80 sem, no entanto, deixar de fora a modernidade que resgata sonoridades desses (e desde esses) tempos.

Editors. Créditos: Global News

Nos três dias de concertos, os britânicos Editors conseguiram, sem dúvida, destacar-se dos demais. Tom Smith é um animal de palco e consegue, suportado num som fustigante e desafiante, contagiar todos os que assistem.

«Sugar», «The racing rats» e «Bones» marcaram o ritmo inicial do que seria um concerto impressionante pelo poder de canções como «Blood», «Bullets», «Na end has a start», «Frankestein», «Papillon», «Smokers outside the hospital door» ou a magnânima «Munich».

Editors. Créditos: Global News

Uma hora de intensidade sonora, com guitarras esbaforidas e ritmos alucinantes, orquestrada por um vocalista endiabrado!

E por falar em endiabrado… Definitivamente, Adolfo Luxúria Canibal quando vai para o palco leva o diabo no corpo. Bem, foi mais uma daquelas performances de luxo dos Mão Morta, a primeira com a nova formação, após as saídas de Sapo (guitarra) e Joana Longobardi (baixo). Agora, com Adolfo (voz), Miguel Pedro (bateria), Vasco Vaz (guitarra) e António Rafael (teclados e guitarra) sobem a palco Ruca Lacerda (guitarra) e Rui Leal (baixo).

Mão Morta. créditos: Global News

Do seu vasto repertório saíram 11 temas (eram 12, mas não deixaram!) que levaram o público por diversos momentos da vida da banda, sempre com aquela tensão tão Mão Morta.

Como que possuído, Adolfo vai contorcendo-se, tentando tocar ser imaginários, tal como se o seu corpo conduzisse toda a energia (sonora) que é debitada do palco.

É um concerto todo em ritmo de «Velocidade escaldante», por entre «Facas em sangue» e «Pássaros a esvoaçar». Um assombro, com a banda a exibir toda a sua competência, guiada por um performer imparável.

Mão Morta. Créditos: Global News

«Sitiados», «Tu disseste», «Novelos da paixão», «Deflagram clarões de luz», «Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real)» ou «Vamos fugir» foram temas, entre outros, que se ouviram no concerto que encerrou com uma homenagem a quem já partiu: «1º de Novembro». Um assombro, como sempre (diga-se)!

E por falar em endiabrado, tem de falar-se dos The Last Internationale. Bem, foi um alvoroço, um quase rebuliço.

A endiabrada vocalista Delila Paz, um verdadeiro furacão, transborda sensualidade a cada pose ou meneio e, assim, hipnotiza a plateia.

The Last Internationale. Créditos: Global News

Aos riffs e solos da (também) endiabrada guitarra de Edgey Pires, Delila Paz acrescentou energia e um vozeirão intratável. Rock à bruta carregado de virtuosismo em que a guitarra parece ter uma escala infinita. Em palco, o «one girl show» de Delila Paz que, não satisfeita com as duas ou três idas às grades para desafiar o público, a determinada altura decidiu ir mesmo para o meio da plateia agitar a mole!

Intratáveis, os The Last Internationale presentearam o público com um concerto muito forte e agitado, próprio para estes «Hard times» que vivemos.

The Legendary Tigerman. Créditos: Global News

Mas regressemos à última noite do festival. Paulo Furtado, aliás, The Legendary Tigerman abriu as hostilidades e subiu ao palco numa altura em que ainda muito público estava a chegar ao recinto e isso acabou por ser prejudicial, pois a qualidade do som ressentiu-se da falta de uma plateia mais ocupada. Concertos em pavilhões desportivos são sempre um problema… de acústica!

No entanto, o músico de Coimbra nunca deixa os seus créditos por mãos alheias e, durante uma hora, agarrou o público com o seu rock’n’roll envolto em blues.

Destaque para as prestações do saxofonista Cabrita e da baterista Catarina Henriques (aka Katari) que, cada um a seu jeito, emprestaram um poder-extra à sonoridade do Tigerman.

The Legendary Tigerman. Créditos: Global News

«Fix of rock’n’roll», «Black hole» ou «Storm over paradise» foram alguns dos temas que se ouviram na Maia, tal como as versões, que integram o álbum de duetos «Femina», de «These boots are made for walking» e «The saddest thing to say», com interpretação virtual de Lisa Kekaula.

Mais tarde, os dEUS fecharam em beleza a noite e o festival. Muito apreciados entre os portugueses, os belgas não desiludiram os seus seguidores e levaram à Maia um alinhamento com muitos dos seus mais icónicos temas, como «The architect», «Instant street», «Quatre mains», «Sun Ra», «Nothing really ends» ou os empolgantes «Bad timing» e «Suds & Soda», entre outros.

dEUS. Créditos: Global News

De resto, nos dias anteriores, foi o tal mergulho nos anos 80, exceção feita aos The Gift, que presentearam o público com um concerto forte e enérgico, como lhes é habitual, numa noite em que o destaque vai todo para os britânicos The Human League.

The Gift. Créditos: Global News

O vocalista, compositor e único fundador ainda na banda, Philip Oakey, acompanhado pelas vocalistas Joanne Catherall e Susan Ann Sulley e ainda três músicos, levou até à Maia um cheirinho dos maravilhosos anos 80 através da sua synth-pop de sabor new wave.

Com uma forte componente visual, em que as mudanças de indumentária foram frequentes, os ingleses proporcionaram uma viagem ao passado com temas como «The Lebanon», «Love action (I believe in love)», «Tell me when» ou «(Keep feeling) Fascination».

The Human League. Créditos: Global News

Mas foi com sucessos como «Human», «Don’t you want me» ou as versões de «Together in electric dreams», de Philip Oakey e Giorgio Moroder, e de «Behind the mask», dos Yellow Magic Orchestra, que a plateia se animou mais. Ainda assim, os The Human League deram um dos melhores concertos do Maia Compact Records Fest’22, pois apesar dos anos a alma continua lá.

Já o segundo dia do festival trouxe o mergulho mais imersivo na década de 1980, exceção aos já referidos The Last Internationale.

Os portugueses Táxi e UHF e os ingleses Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD) foram os guias até esse passado algo longínquo, mas tão presente ainda no espírito de quem viveu esses anos loucos da explosão da música pop-rock.

Orchestral Manoeuvres in the Dark. Créditos: Global News

Com um alinhamento carregado de hits, a dupla Andy McCluskey e Paul Humphreys cedo conquistou a plateia, não apenas pela música, mas muito pela postura em palco.

Em constante incentivo ao público, os OMD fizeram a festa com canções como «(Forever) Live and die», «Messages», «If you leave», «Souvenir», «Joan of Arc», «So in love», «Pandora’s Box» ou «Sailing on the seven seas».

Porém, foi no fecho da atuação que a coisa animou definitivamente, quando se ouviram os sucessos «Electricity» e «Enola Gay», que levaram o público ao rubro.

Táxi. Créditos: Global News

Antes, os Táxi começaram bem lá longe no «Cairo», passaram pela «Rosete» e pelo «Sing Sing Club», viram o «Ás dos Flippers» ter uma «Vida de cão» e acabaram a mastigar «Chiclete». Para além destes temas, houve muito mais, com o vocalista João Grande a mostrar que a antiguidade pode ser algo apenas psicológico. Em constante interação com o público e com “o companheiro de sempre” Rui Taborda (baixo), João Grande tomou o palco de ponta a ponta para contentamento do público, que demonstrou ser apreciador do que ouvia.

O mesmo aconteceu com os UHF, sem, no entanto, António Manuel Ribeiro andar de ponta a ponta do palco. Não, isso foi mais com o seu filho e guitarrista António Côrte-Real, rapaz irrequieto… que veste cabedal!

UHF. Créditos: Global News

Os UHF, ao contrário dos Táxi, nunca interromperam a carreira e isso ouve-se ao vivo. António Manuel Ribeiro, ou seja, os UHF, escolheu um naipe de temas iniciado em 1980, com o intemporal «Cavalos de Corrida», até 2022, com o atualíssimo «Ucrânia livre».

De resto, houve «Matas-me com o teu olhar», «Modelo fotográfico», «Rua do Carmo» e ainda as versões de «Menina estás à janela» e de «Vejam bem», esta do imortal José Afonso.

Nota final para o magnífico «Rapaz caleidoscópio», provavelmente, a música que mais define os UHF (pelo menos, para este vosso escriba!).

A última noite acabou por ser a melhor casa. Créditos: Global News

Por fim, referência ao erro de casting que foi Herman José, com honras de abrir o festival. Por entre músicas das personagens que criou ao longo dos anos para a televisão e piadas brejeiras polvilhadas de palavrões pouco ou nada se aproveitou.

Por fim, referir que o público começou tímido, mas ao longo dos dias foi aumentando significativamente, o que permitiu à Compact Records, com o apoio da autarquia, doar 20.000 euros a instituições sociais que estão a prestar apoio a refugiados ucranianos acolhidos no concelho da Maia.

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