
Foi em português que se fez o primeiro e dia extra do Vodafone Paredes de Coura 2022, o festival do regresso às margens do rio Taboão, depois de dois anos malditos de jejum.
A sede de «Couraíso» era evidente e nem a chuva, que caiu impiedosa durante a noite anterior e molhou tudo e todos até meio da tarde, extinguindo-se suave e intermitentemente, inibiu os festivaleiros.
Aos primeiros acordes, a cargo dos The Lemon Lovers, a festa, no recinto, só terminou depois do verdadeiro arraial que foi a atuação dos Conjunto Cuca Monga.
A tarde fez-se de secagem de tendas, roupas, corpos e almas, mas também de muita música.
Noiserv, Club Makumba ou Pluto, com Manel Cruz a ser Manel Cruz e o público, como sempre, rendido deram início a uma jornada que teve também nos The Twist Connection um dos momentos altos da tarde.
O público tranquilamente foi enchendo o recinto e, aproveitando o Sol que, entretanto, decidira mostrar-se aproveitava todos os seus raios enquanto desfrutava da boa música que ia saindo dos dois palcos.
Entretanto, no Palco Vodafone FM, os Paraguaii foram electronicamente intensos, como habitualmente, e os 10.000 Russos, já com uma plateia de perder de vista, elevaram a fasquia, fazendo jus à fama que os precede.
O trio ofereceu o seu «melting pot» de fuzz, noise, kraut, pós-punk, industrial e sabemos lá mais o quê, embrulhado em papel psicadélico, que fez as delícias do muito público que já deambulava pelo recinto.
Samuel Úria embalou a malta no Palco Vodafone, num regresso passados alguns anos que o músico saudou e aproveitou para tocar alguns temas que editou neste interregno courense.
Um dos concertos mais esperados pelo público que gosta de se agitar bastante durante os concertos era o dos Linda Martini. Apesar de não ter sido das melhores performances que este vosso escriba já viu da banda, foi intenso e… agitado.
O público estava sedento de mosh, como já havia mostrado antes no concerto de Pluto, mas foi com os lisboetas de «Olhos de Mongol» que a festa pegou mesmo. Entre mosh, crowdsurfing e muita agitação, a química entre a banda e o público aconteceu.
Mas seria com os “cabrões” dos Mão Morta, como disse na despedida Adolfo Luxúria Canibal, que se deu o momento da noite.
O escriba é suspeito, mas aproveitar o palco de Coura para apresentar «No Fim Era o Frio» foi uma escolha extraordinária.
É certo que algum público, daquele que queria agitação forte, não percebeu bem o que se estava a passar, mas a qualidade da música e a prestação intocável de Adolfo encheram o anfiteatro natural do Taboão de demónios, amor, extraterrestres e frio, muito frio… mental! Expressivo como sempre e de fato posto, Adolfo Luxúria Canibal segurou o público implacavelmente pelo espírito e, uma vez mais, fez magia.
É caso para dizer… “que grandes cabrões estes Mão Morta”!
Sam The Kid com Orquestra e Orelha Negra cedo ganhou a plateia, onde muitos apreciadores o acompanharam na espécie de flashback sonoro que o músico lhes apresentou.
Moullinex armou o bailarico, enquanto Conjunto Corona e Conjunto Cuca Monga arrepiaram as almas que contrariadas se dirigiram aos seus aposentos, onde em muitos a festa continuou até ao raiar do dia.
Hoje há mais e vai ser dureza!