De uma curta conversa com o Thiago Tavares, responsável pelo Holy Sandwich na Ribeira do Porto, percebi que a arte dos hamburgueses é uma paixão de todos os elementos que compõem a administração deste grupo que começou em São Paulo em 2013 e que aqui abriu em 2020.
No Holy Sandwich Shop não interessa só servir hambúrgueres. Interessa fomentar a cultura muito própria desta comida, mostrar a sua diversidade e empenho criativo a cada novidade que surge no menu. Seja em novos hambúrgueres ou nas entradas, molhos, sobremesas e bebidas. É para isso que todo o pessoal trabalha, com foco e simpatia.
Foi uma dessas novidades, o Pony Line, que me levou a um espaço que estava sempre na lista, mas que por desculpas cada vez mais esfarrapadas ia ficando sempre na lista. O facto de agora abrir ao almoço fez que com elas acabassem e levou-me a descobrir coisas surpreendentes num mundo onde eu pensava que estada tudo descoberto ou inventado.
Há um novo momento hype nesta área, agora dos smashburgures, que todas as casas que abriram recentemente fazem. A verdade é que o mundo burger é muito mais complexo do que parece, seja através do tipo de carne ou da sua confeção.
O Pony Line tem a particularidade de ser feito com carne maturada de mais de 60 dias, o que dá o sabor peculiar à carne, mais terrosa. É depois colocado por cima de um molho espesso de melaço e bacon, bem ligado, muito escuro, que nos remete para essa américa exagerada onde o doce e o salgado se unem em harmonia.
Já o Franz foi uma surpresa imediata porque é servido num croissant alto, folhado e fofo, pouco doce, que combinou na perfeição com a carne esmagada na chapa e a cebola grelhada que a acompanhou. É servido com uma maionese com alho negro e trufa, densa, a trazer sofisticação à proposta. É nestes pormenores que percebemos que o Holy quer mostrar diferente.
Propondo a casa outros formatos, veio uma sanduiche aberta e outra com o pão brioche em formato club. O Hambúrguer da Serra, a puxar pela portugalidade, com o queijo da dita servido suave e salgado q.b., de modo a não se sobrepor a uma carne alta e no ponto médio-mal, e o outro, o Sloppy Joe, que de desastrado não tinha nada, porque a sua construção demonstra ser muito cuidada e complexa. Com o tal formato de sanduiche club em brioche tostado, o recheio conseguiu equilibrar pimento jalapeño, abacate, molho picante bem cremoso e a carne malpassada, tudo montado por camadas bem definidas.
Não posso deixar de referir as batatas fritas, french fries, secas e estaladiças sem falhas, acompanhadas por um ketchup especiado com um toque a caril, diferente de todos os outros mais comuns que encontramos por aí.
As entradas são merecedoras de destaque. São grandes e querem-se partilhadas e aportam sabores menos comuns à oferta gastronómica portuense. A coxinha de pastrami, com queijo grana padano e maionese de sriracha é uma excelente opção para começar a refeição, assim como a interpretação de ovos rotos com as batatas da casa, ovos estrelados e pastrami caseiro a substituir o presunto. Para os mais corajosos, as Devil´fried chicken, asas fritas ao ponto da crocância com molho picante por cima.
Nas bebidas, há uma parceria com a MUSA para as cervejas que são servidas, a limonada da casa, rematada com groselha, é muito fresca, embora assumidamente doce, e o ginger ale caseiro deve ser bebido por quem gosta de gengibre, porque é forte.
Não devemos ter preconceitos quando entramos no Holy. Estamos perante um restaurante com uma cozinha feita de pormenores que é especializado em hambúrgueres, mais do que uma hamburgueria gourmet com as novidades do nosso tempo, que depressa se desvanecem. Já o Holy parece estar para ficar!