
E ao segundo dia os festivaleiros tiveram aquilo que desde o arranque mais desejavam: agitação. Foi o dia do mosh, com Idles a liderar o ranking, mas também de momentos feitos de beleza etérea, em que os Beach House foram os guias.
Foi, seguramente, o concerto da noite, pela imensa massa humana que congregou no anfiteatro natural do Taboão, pela força que debitou musicalmente, pela energia que transmitiu a todas essas almas. E, só por isso, é um dos fortes candidatos a melhor actuação do festival.
Era muito aguardada a actuação dos ingleses e eles não defraudaram. Aos primeiros acordes de «Colossus», o público agitou-se para não mais parar e insistiu em cantar em uníssono com Joe Talbot. Começou por criar um «mosh pit», que o vocalista queria que fosse até o cimo do anfiteatro, ganhou força com o rock agressivo dos britânicos e não mais parou.
Com alinhamento semelhante aos que vêm fazendo na digressão pelos festivais de Verão, os Idles desfiaram muitos dos seus hinos, que a plateia acompanhou efusivamente no mosh, no crowdsurfing, cantando, dançando ou, simplesmente, gingando ao som dos riffs e das (quase) palavras de ordem de Joe Talbot.
O concerto foi forte, cativante e tocante perante uma moldura humana impressionante e compacta, que transbordava felicidade e do próprio anfiteatro natural.
«Never fight a man with a perm», «Crawl!», «Love Song», «A Hymn» ou «Rottweiler» geraram um verdadeiro turbilhão de emoções ao público e um autêntico motim de corpos no «mosh pit».
Mas foi com «Danny Nedelko» que clímax se deu, que até o vento começou a soprar e as águas do rio Coura se agitaram.
Como, habitualmente, o guitarrista Mark Bowen fez a sua vocalização em crowdsurfing, levando ao êxtase os milhares de espíritos inquietos que assistiam. Antes, logo num dos primeiros temas, o também guitarrista Lee Kiernan já havia investido sobre plateia, onde foi calorosamente acolhido pelos afoitos fãs que o seguraram e mostraram a toda a gente.
A passagem dos Idles pelo anfiteatro natural da música fica na memória das muitas almas que apostaram neste concerto e saíram satisfeitas.
Após uma espera considerável e inusitada, desceu sobre as margens do Coura a dream pop dos Beach House, que de forma serena, bela e escura embalou o muito público que permaneceu em frente ao Palco Vodafone. Para muitos era já tempo de debandar, mas muitos foram logo tomar posição no Palco Vodafone FM, onde os Viagra Boys tinham concerto agendado para as 2h15! Mas isso é outra história.
Sobre a prestação da dupla formada pela francesa Victoria Legrand e pelo norte-americano Alex Scally, apesar de ter sido a seguir a The Murder Capital e Idles, conseguiram conglutinar as energias astrais lançando uma espécie de pó mágico sobre quem assistia.
Não se cingindo ao último álbum, («Once Twice Melody»), os Beach House ofereceram alguns dos seus temas mais antigos e bem conhecidos, como «Myth» ou «Space song».
Foi um embalo, um mergulho numa espécie de espaço sideral, polvilhado por feixes de luz, por vezes intermitentes, mais ou menos intensos, mas deliciosamente vocalizados por Victoria Legrand. Foi um momento de beleza e serenidade, que serviu também para acalmar alguns dos espíritos inquietos que ansiavam pelos Viagra Boys.
Já os suecos, que sucederam no Palco Vodafone FM aos interessantes The Murder Capital, foram… o que costumam ser.
O vocalista Sebastian Murphy foi igual a si próprio, ajavardou o quanto quis, cuspiu palavras e cerveja e, acima de tudo, agitou a massa compacta que se comprimia na plateia (demasiado pequena para tanta gente), enquanto os seus pares nos instrumentos davam ritmo e gás ao momento.
Depois dos Beach House, o mosh voltou em força ao palco secundário. Apesar de terem álbum novo («Cave World»), os Viagra Boys não se ficaram por aí e deram algumas pérolas do seu repertório para o público se deliciar.
Punk-rock rasgadinho, com atitude ébria e provocadora, que fez e faz as delícias dos apreciadores.
Já antes, nesse mesmo palco, The Murder Capital estreou-se em terras lusas com uma actuação que teve altos e baixos, mas que globalmente foi uma das melhores do dia. Energia a pontapé, muito mosh e rock destravado animaram os mais resistentes, cuja noite acabou com a elctrónica dançante da londrina HAAI.
Ontem foi o primeiro dia do Jazz na Relva, por onde passaram Caio e Homem em Catarse, que embalou, ao piano e à guitarra, muitos dos corpos que ao Sol desfrutavam das suas composições.
Como prevíramos, ontem foi uma jornada cansativa, muito exigente para o público, no fundo, uma dureza, mas daquela boa!










