Barramos manteiga no pão quase sem pensar. Comemos pão com manteiga por hábito, quase sem pensar. Ligamos pouco à escolha da manteiga quando a compramos, sempre sem pensar.
É raro os portugueses usarem manteiga como gordura para cozinhar. O azeite é a nossa preferência. Por causa disso damos pouca importância à manteiga e ela fica lá perdida no fundo do frigorífico e no fundo da nossa memória. É um produto básico, a que atribuímos pouca importância. Povos que gostam de manteiga, que aprenderam as suas subtilezas e que investiram durante séculos na sua produção, têm habitualmente muitas vacas à volta. São do norte da Europa. Nós não, tirando os Açores. O leite é o ingrediente fundamental da manteiga e se ele for abundante, os seus derivados aparecem logo, em quantidade e em diversidade.
Em tempos idos, ter uma vaca era caro e os portugueses aprenderam a encontrar a gordura para cozinhar em ingredientes mais baratos, sobretudo o azeite, de base vegetal, mas também a banha de porco, hoje tão rara e mal vista. Nos Açores não, por exemplo. A relação deles com a manteiga já é completamente diferente dos continentais.

Esta manteiga belga é uma surpresa no LIDL 
La Motte, um clássico dos amantes de manteiga 
A conhecida manteiga de Esposende 
A Rainha do Pico vende-se na Queijaria do Almada 
Rara em Portugal, a manteiga de cabra destaca-se pelo sabor peculiar
Por isso, hoje proponho-vos um exercício que vos vai reavivar memórias antigas e suscitar novos prazeres. Em cima de um bom pão devemos investir numa manteiga que nos dê um enorme prazer. Nas lojas portuguesas há muito mais para escolher do que imaginamos e não é preciso andar quilómetros para encontrar verdadeiras relíquias. Às vezes, mesmo ao lado da manteiga que compramos sempre, pode estar outra diferente e especial que vale a pena provar.
No Supercor e supermercados do El Corte Inglês é fácil encontrar a tão famosa “Manteiga das Marinhas”, original de Esposende. Suave e delicada, deixa de lado a exuberância de outras. É muito cremosa na boca, espalha-se enquanto se mastiga e o toque ligeiro de sal revela-se apenas no final.
Na Queijaria do Almada, no Porto, é possível encontrar a densa e amarela “Rainha do Pico”, açoreana, de que já falei aqui. Consistente na boca e densa a barrar, tem um sabor muito prolongado, ficando no palato durante muito tempo.
Nos supermercados grandes é comum encontrar uma caixa amarela e azul cilíndrica, que é a francesa President “La motte”. Anuncia logo as pedras de sal marinho no rótulo e é uma bomba de intensidade e força, prevalecendo um lado lácteo rematado com o sal grosso espalhado por toda a manteiga.
Também com sal marinho, mais delicada mas ainda intensa, é a da gama “Deluxe” do LIDL. Vem da Bélgica e é muito leve e cremosa, apresentando um bom equilíbrio entre a manteiga e as pequenas pedras de sal.
Finalizo com outra proposta disponível no SUPERCOR e El Corte Inglês que é a manteiga de leite de Cabra “Girau”. De um consumo ainda mais raro em Portugal, é uma manteiga para quem gosta de queijo de cabra. Apresenta-se branca, alva, de um sabor muito leve e marcado pela origem do leite.
Comer manteiga faz reavivar aquela máxima de que o prazer está nas coisas mais simples. É só acrescentar o pão!

