
Para um homem ter sucesso, necessita que uma mulher esteja nos bastidores, a alimentá-lo, a acarinhá-lo, a cuidar da casa, da cama, da mesa, da roupa, dos filhos… Em pleno século XXI e no dia que se assinala, que sentido toma este ditado português?
Haverá algo abonatório para uma máxima atirada desta forma? Será o homem tão inapto para um papel de sucesso, que necessite de um amparo feminino, adicional? Será o papel da mulher apenas acessório na ascensão ao sucesso, remetendo-se a um papel de retaguarda, de apoio? Não vou aprofundar estas questões para evitar uma quezília a duas frentes com feministas aguerridas de um lado e o eleitorado do Chega e do novo CDS do outro, a ver quem me atira mais pedras à testa.
Vou antes falar da influência que as mulheres tiveram, e têm, na minha vida.
Poderão considerar discutível o facto de eu ser, ou não ser (eis a questão. Certo, Hamlet?) um grande homem. Mas olhando para a minha vida, até aos dias de hoje, posso orgulhosamente afirmar, que sempre tive, e tenho, grandes mulheres a meu lado.
Não atrás de mim.
Sempre a meu lado.
Desde que nasci, tive três grandes mulheres a meu lado, que me educaram e apoiaram e protegeram: A minha mãe, a minha tia e a minha avó. Cada uma, à sua maneira, sempre ocupou um lugar fundamental, a meu lado.
A minha mãe sempre com aquele amor de mãe que lemos nos livros, atravessando tempos em que equilibrar a vida entre um emprego, as lides caseiras e educar uma criança irrequieta (como todas as crianças) era um verdadeiro malabarismo, que ainda se tornou mais desafiador com o nascimento do meu irmão. Um amor e um apoio incondicional que se mantém inalterável apesar dos nossos caminhos se tornarem mais afastados.
A minha tia com um papel professoral, de quem iniciava uma carreira no ensino, e me ensinava a ler e a escrever, ainda mal eu caminhava, e tomava o papel de uma mãe, sempre que as suas colocações lhe permitiam, aliviando as pressões do dia-a-dia que pendiam sobre a minha mãe.
A minha avó que tomava as rédeas da casa, com o meu avô emigrado numa Venezuela que prometia riquezas e sucessos, e cumpria com os seus netos a obrigação de uma avó, que é a de mimar os netos e garantir que não faltavam doces e brinquedos, em qualquer canto da casa. E garantir que a minha mãe e a minha tia atingiam os seus objetivos.
A minha vida académica não deixou de ser marcada por outras grandes mulheres, que se sentaram a meu lado e me ensinaram tudo o que sabiam. Desde a escola primária, com uma professora que me abriu as portas da sua casa e me colocou na vida uma amizade que perdura nos dias de hoje, apesar da distância, apesar dos dias… semanas… meses… em que não trocamos palavras – basta um smile, um distraído “gosto” numa qualquer rede social, para o conforto de sabermos que estamos aqui, um para o outro.
Tive a meu lado, mulheres-crianças, que cresceram comigo, e outras que vi crescer, que se tornaram grandes mulheres. Que se tornaram amizades sinceras, verdadeiras, companheiras de viagem para a vida toda. Mulheres que o tempo trouxe ao reencontro em várias alturas do tempo que passa por nós a correr. Mulheres que se desprenderam dos estereótipos e nos educaram – ensinaram (a mim e a quem comigo e com elas partilhou as horas que passamos juntos) – a igualdade, o respeito, o apoio, o futuro. E a perceber que o sucesso, os direitos e as obrigações ultrapassam a dicotomia biológica do género.
Mulheres que ocupam o centro da minha vida, como a minha esposa, mulher-guerreira, companheira, mãe de nossos filhos,, que distraidamente esteve a meu lado durante toda a minha vida, até um reencontro que nos envolveu numa relação de amizade, de amor, de partilha, de apoio. Um ao lado do outro, a estabelecer os nossos objetivos, num caminho que trilhamos a dois e que me trouxe – que nos trouxe – outra mulher para a(s) nossa(s) vida(s): a nossa filha, irrequieta, curiosa, impaciente, persistente, livre de estabelecer os seus objetivos, as suas escolhas, com o apoio do seu pai e da sua mãe, a seu lado.
Como podemos falar de igualdade quando perpetuamos, com mais ou menos leviandade, um ditado que coloca uma grande mulher atrás de um grande homem?
As grandes mulheres elevam-se na multidão, comandam o seu próprio destino, marcam a vida das pessoas que as rodeiam, e decidem por si mesmas o lugar que pretendem ocupar nas suas vidas e na vida que partilham com quem querem, lado a lado, ombro com ombro, em igualdade.