É já uma espécie de tradição (recente, que ele também não é assim tão velho), no final de Janeiro, o Maus Hábitos acolher O Salgado Faz Anos… Fest, uma espécie de festival, com quatro palcos e muitas bandas e muitos deejays e que tem sido e, este ano, voltou a ser uma enorme festa.

Cedo e paulatinamente, o 4º andar mais conhecido da Rua de Passos Manuel, na cidade Invicta, começou a encher-se de gente de sorriso no rosto e grande disponibilidade de espírito.

O cartaz 2025 tinham pontos de grande interesse, como a primeira audição ao vivo no Porto de temas do novo álbum dos Linda Martini, que tinha acabado de sair, ou a audição na íntegra do álbum de estreia dos X-Wife, obra com 20 anos e que teve uma das suas primeiras apresentações ao vivo, precisamente, no Maus Hábitos, mas também poder ver e ouvir alguns projectos emergentes na cena musical da cidade, do país e até do estrangeiro, como o caso de Monchmonch, um projecto super-excitante, liderado pelo brasileiro Lucas Monch.

Pelos palcos Stcokhausen, Salgado e Super Bock, as propostas sucederam-se e, apesar de muitas actuações decorrerem em simultâneo, todas as salas apresentavam molduras humanas muito apreciáveis, tal como todo o Maus Hábitos, com as muitas pessoas, simplesmente, a beber um copo e a dar duas de letra ou a circular entre salas.

Os Linda Martini, que no cartaz surgiam com o nome de Ideia de Merda, protagonizaram o concerto surpresa e apresentaram alguns temas do novo disco. O som não estava o melhor, mas logo ali ficou a sensação de que «Passa-Montanhas» é um álbum de grande qualidade.

Ali, na sala escura e suada nos fundos do Maus Hábitos, lotada de almas irrequietas e corpos vibrantes, o quarteto de Lisboa, intercalando temas novos com outros que lhes garantiram muitos seguidores ao longo das duas décadas de carreira, lograram uma prestação muito coerente e bastante intensa, que manteve a plateia em ponto caramelo até ao fim.

Também no Palco Salgado, os X-Wife recordaram «Feeding The Machine», álbum de estreia do trio portuense no ido ano de 2004.

A sala encheu-se, principalmente, de gente que viveu intensamente esse início de Milénio, que tanto mexeu com a cena musical, mas não só, na cidade Invicta, e quis recordar e experimentar sensações vividas há muito. Note-se que «Feeding The Machine» teve a sua terceira apresentação pública, precisamente, no Maus Hábitos. E isto é História que se escreve.

Mas não foi só de nomes consagrados que se fez O Salgado Faz Anos… Fest 2025. As propostas eram muitas e diversas, mais calmas e introspectivas ou mais agitadas e explosivas.

Na retina ficaram os concertos irreverentes dos Trasgo, dos Offtides e ainda dos Gatafunho, mas também as prestações mais delicadas de Calcutá, MaZela ou Evaya.

Mais do que ficar na retina, Monchmonch entra pelos olhos dentro e entusiasma quem assiste. Foi o que aconteceu no Maus Hábitos, com o irrequieto Lucas Monch a dividir-se entre o palco e o crowdsurfing sobre uma plateia efervescente e em delírio com a entrega do músico.

Rapidamente o espaço onde habitualmente funciona o restaurante do Maus Hábitos lotou e se agitou ao som do rock nervoso de Monchmonch, carregado de experimentalismo e sotaque brasileiro, e que, em palco, ganha uma dimensão impressionante.

Anunciado como o derradeiro concerto de Monchmonch nos próximos tempos no nosso país, espera-se que o seu regresso não diste muito no tempo e que a ida para o Brasil seja inspiradora.

Em resumo, foi uma bela noite de música e de convívio que terminou madrugada adentro ao som de deejays e muita dança, porque quem dança (também)… seus males espanta!
