De lotação esgotada à partida, o Passos Manuel preencheu a plateia de forma serena e tranquila e, pouco depois da hora marcada, os Indignu subiam ao palco para apresentarem «Adeus», o quarto álbum da banda oriunda de Barcelos.
Perda e distância são dois sentimentos que atravessam os cinco temas do novo álbum e que compuseram a actuação, a primeira da banda em nome próprio desde o seu lançamento em Novembro.

Seguindo o alinhamento do disco, o concerto foi um constante sentir, para os músicos em palco, o que se notava a olho nu, e para quem assistia na plateia.
O público que preenchia a sala mergulhou de tal forma na sonoridade contemplativa de «Adeus» que na primeira metade da actuação parecia estar dormente, batendo palmas timidamente… para não incomodar!

Entretanto, o palco, predominantemente em tons de azul, ia-se enchendo de fumo, adensando o ambiente misterioso por onde os sentimentos provocados pela música vagueavam.
A música faz alguns dos que assistem desligarem deste mundo inflacionado, levando-os por paisagens não necessariamente idílicas… no entanto, esperançosas! A outros faz subir a temperatura, proporcionando-lhes sensações emocionalmente febris. Outros ainda absorvem simplesmente.

O concerto, tal como o disco, segue um crescendo que encontra o seu ponto triunfal em «Urge decifrar o céu», depois de momentos mais contemplativos e melancólicos até, na senda daquele espírito da portugalidade, tão marcado pelo “nosso triste fado”.
O sabor a fado é claro, esse fado que, quer se goste ou não, amarra a um passado triste e desgraçado. Porém, os Indignu conduzem a narrativa em direção à luz cujos raios de esperança iluminam o que ainda está para vir… e que devemos abraçar impetuosamente.

Foi um concerto entre o contemplativo e o desenfreado, um carrossel pelo melancólico e o triunfal.
Afonso Dorido, na guitarra e teclados, Graça Carvalho, no violino e teclados, Pedro Sousa, no baixo, e Ivo Correia, na bateria, estavam deliciados com a recepção no Porto e ofertaram, no encore, dois temas de «Umbra», álbum de 2018, em concreto «Marcha sob Marte» e «Levitação no Sahara», rematando em beleza uma actuação de luxo, que mereceu ovação final de pé de uma plateia lotada.
