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Foi em lágrimas que Tó Trips se despediu do público e do seu companheiro de estrada e de criação Pedro Gonçalves, cuja notícia da morte havia sido conhecida algumas horas antes, naquele que foi, seguramente, o momento mais emotivo e, provavelmente, o mais marcante da primeira edição do Courage Club, que nos dias 3 e 4 de Dezembro aconteceu em Paredes de Coura.

Ainda assim, Tó Trips fez questão de celebrar a vida com um conjunto de temas que, no ambiente escuro, triste e soturno que se sentia no Caixa da Música Stage, conduziu o público por sentimentos de dor e raiva, mas também de alegria e esperança.

Tó Trips. créditos: DR

Foi uma actuação pesada, é verdade, mas o momento também a impunha e a plateia juntou-se ao músico naquilo que foi a homenagem à metade dos Dead Combo que agora deixou o mundo dos vivos… fisicamente, porque a sua música será eterna!

Entre outros temas, Tó Trips pegou na guitarra e andou pela «Península dos índios» e pela «Rua Escura», assistiu a «O Processo de uma Aparição» e a «Íntimas coisas», venerou o «Deus do Vento», saboreou uma «Pinacoolata» e celebrou o «Amor em tempos fodidos».

O público gostou, agradeceu e confortou o músico, que logo de início se dirigiu à plateia de voz embargada e dedicou o concerto a Pedro Gonçalves.

Diga-se ainda, o momento sentido que foi a actuação de Tó Trips fez todo o sentido na estreia do Courage Club cujo ADN do cartaz era, marcadamente, lusitano. À excepção dos britânicos PVA, todos os demais 23 músicos, bandas e deejays eram portugueses.

E por culpa deles todos, houve uma vasta série de momentos muito interessantes no debute deste festival, que manteve o público concentrado no centro da vila de Paredes de Coura, mostrando que a terra tem versatilidade suficiente para acolher um festival do género e que nada, ou muito pouco, tem de ver com aquele que pôs a localidade alto-minhota no mapa-mundo dos festivais de Verão.

Gator, The Alligator. créditos: DR

Logo na primeira noite, um muito enérgico concerto dos Gator, The Alligator arregimentou muitas das centenas de pessoas que gravitaram em torno dos três palcos do Courage Club.

No Caixa da Música Stage, a hiperactiva banda de Barcelos libertou energia a rodos e contagiou a plateia de tal forma que… assistiu-se mesmo a uma tímida demonstração de mosh, por um grupo de mascarados (sinais do tempo, mas as máscaras bem poderão ser úteis para o pó nos eventos de Verão!).

O pessoal anda a sentir falta de algumas coisas e, em tempo de distanciamento físico, o mosh é uma delas!

Destaque ainda, na primeira noite, para os concertos de Sensible Soccers e Moullinex, dois momentos altos dos dois dias do festival.

Sensible Soccers. créditos: DR

Soprando melancolia e experimentalismo e criando, tema após temas, atmosferas tranquilas e viajantes, os Sensible Soccers prenderam a atenção da plateia, mesmo sem a projecção dos filmes, mas a estrear músicas novas do último álbum.

No Courage Club Stage, a tenda montada no centro da vila, a banda de Barcelos conduziu as centenas de pessoas presentes por uma daquelas viagens que já habituaram os seus seguidores, passando por locais maravilhosos e melodiosos, sustentados em diversos e inebriantes ritmos.

Moullinex. créditos: DR

E por falar em ritmo, seguiu-se Moullinex que, pura e simplesmente, transformou a tenda numa pista de dança, com o público a aderir ao apelo musical que vinha do palco.

Em formato banda, o live act de Moullinex constituiu o primeiro grande momento de dança do Courage Club, que contou com um apreciável número de deejays que nos dois dias fecharam as noites com os seus ritmos cheios de balanceamento.

créditos: DR

No segundo dia, sábado, com um pouco mais de público – segundo a organização, entre público e staff, o festival envolveu 800 pessoas –, apesar das atenções estarem centradas no cartaz da tenda, os outros dois espaços receberam concertos muito interessantes.

Paraguaii, no Quartel Stage, e Whales, no Caixa da Música Stage, são dois dos bons exemplos disso. E são igualmente dois bons exemplos da força e diversidade que a electrónica empresta à música.

B Fachada. créditos: DR

No Courage Club Stage, sozinho em palco, mas acompanhado pela viola braguesa, B Fachada aqueceu as hostes, com um animado alinhamento, a incidir em «Rapazes e Raposas», último álbum do multi-instrumentista lisboeta, lançado em plena pandemia (Julho 2020).

Samuel Úria. créditos: DR

Sem fazer falta, até porque “carga de ombro é legal”, Samuel Úria subiu ao palco e encantou. Com um percurso carregado de êxitos, o músico natural de Tondela rapidamente agarrou a plateia e proporcionou dos melhores momentos que se viveram na tenda no centro da vila.

«A contenção», «Carga de ombro», «Aos pós», «Fusão» ou «As traves» foram alguns dos temas que Úria ofereceu para deleite do público, que, em muitas ocasiões, cantou em uníssono com Úria. Um belo concerto!

PVA. créditos: DR

O palco fecharia com… Chico da Tina, mas antes a lança em África, ou seja, os únicos estrangeiros presentes no cartaz. Os londrinos PVA levaram até Paredes de Coura a sua pop electrónica dançante e libertaram-na em doses suaves para a plateia, onde o público se foi agitando e… até dançando!

O festival fecharia umas horas mais tarde, num muito concorrido Quartel Stage que virou club, com Nuno Lopes, deejay residente do Couraíso, aos comandos da banda-sonora.

Muitas outras bandas, músicos e deejays actuaram no Courage Club 2021 ajudando a fazer a primeira edição de um evento que tem todas as condições para continuar, até porque, a avaliar por este ano, nem a chuva, nem o frio são factores intimidantes. E o público pareceu estar e sair satisfeito. Venha mais para o ano!

A fechar, citar apenas Samuel Úria, em «As Traves»: “Quem diria que um dia era eu?”.

Alinhamento do concerto de Tó Trips. créditos: DR
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