Assistir a um concerto dos Sleaford Mods é um autêntico desassossego. E o desassossego começa logo assim que o vocalista Jason Williamson, o homem da palavra, dos tiques, da postura insolente, dos malabarismos com as garrafas de água, dos meneios cativantes e até perturbadores, entra em acção.

A verdade é que o desassossego de Jason, que é bem evidente, contagia quem assiste e que, por entre passos de dança ou simples balanços, se desassossega inevitavelmente.

E foi assim na Sala Suggia, da Casa da Música, no passado dia 13 de Abril. Logo aos primeiros sons de «UK Grim», todos os corpos sentados se levantaram como se um qualquer mecanismo propulsor os tivesse disparado. E Jason capta de imediato a atenção do público. No entanto…

‘Meanwhile’, Andrew Fearn, o homem da música e do dedo rápido que carrega na tecla enter do computador que debita a música, dança inflamadamente por todo o palco como se não houvesse amanhã. Uma postura bem diferente da de outros tempos, em que permanecia em palco impávido e imóvel de copo de cerveja na mão, batendo o pé e… bebendo!
A dupla, com a sua postura única e contagiante, mantém a plateia animada, enquanto os corpos se balançam e as mentes se desassossegam com o discurso prolixo, as palavras de ordem e a batida dançante.

«Routine Dean», «A little ditty», «Air conditioning», «Force 10 from Navarone», «Tiswas», «Stick in a five and go», «Fizzy», «Tarantula deadly cargo» foram exemplos disso mesmo, com a dupla ainda a oferecer relíquias como «TCR», «Jolly Fucker», «Mork n Mindy», «BHS» ou «Nudge it».
A meio da actuação ouviu-se ainda a versão do sucesso «West End girls», dos Pet Shop Boys, que imprimiu um balanço diferente ao concerto.

Já na ponta final do concerto, os Sleaford Mods levaram o público à satisfação plena, com as pérolas como «Tied up in Nottz», «Jobseeker» e ainda «Tweet tweet tweet». Um must!
Se já o vinha sendo até aí, o final do concerto na Sala Suggia foi de total desassossego, com o público rendido e a querer mais.

Antes, os Sereias demonstraram uma vez mais porque são tão considerados no universo underground da música feita no Porto. A noite de 13 de Abril foi um bom exemplo do que a Casa da Música devia fazer mais pela música que não a erudita e a clássica. Seria bom que a instituição voltasse a ser a Casa de todas as músicas para todos os públicos e não apenas uma Casa de música erudita para elites.


