O quarto e último dia, o primeiro a ficar esgotado, pelo cartaz já prometia ser o melhor dia de todos… no seu conjunto. E assim foi, com um fecho do Palco Vodafone a, finalmente, ter a festa que o público merecia e tudo por culpa de uns endiabrados Franz Ferdinand.
Mas, já antes, as viagens proporcionadas pelos DIIV e pelos AIR e ainda o recital de Sharon Van Etten haviam instalado o espírito de Coura no anfiteatro natural da música.

E o dia fica ainda marcado pelos extraordinários concertos de Warmduscher e de Gurriers, que criaram um ambiente explosivo no Palco Bacana Play, e ainda pelas irreverentes Hinds, no entanto, uns patamares mais abaixo!
Foi num autêntico festim que Alex Kapranos e os demais Franz Ferdinand encerraram o palco principal perante uma multidão ao rubro, que dançou, saltou, cantou e gritou até à exaustão. Esta é uma das marcas de Paredes de Coura: a festa!

Com um alinhamento em jeito de «best of», incluindo alguns temas do novíssimo «The Human Fear» (2025), a banda inglesa não teve medo, nem tão pouco receio, e atirou-se às feras com tudo o que tinha e, desde o primeiro som, instalou o bulício na plateia.

Foi quase sempre em mosh colectivo que os milhares de pessoas que assistiram ao regresso dos Franz Ferdinand a Coura sentiram e absorveram a música.

Alex Kapranos (guitarra e voz) esteve imparável e a cada tradicional salto que deu em palco, o público reagia ruidosamente. Aliás, foram muitos os temas cantados em uníssono por Kapranos e o público, deliciado que estava e ansioso por aquele momento em que a plateia se transforma numa gigantesca pista de dança.

Arranque em força com «The dark of the matinée», seguindo-se o novo «Night or Day» e, então, uma série de hits, como «No you girls», «Do you want to» ou «Walk Away».

Já no fecho, foi a loucura! Começou com «Take me out» e o alvoroço na plateia prosseguiu com «Outsiders», o novíssimo «Audacious», «Evil and a heathen» para terminar com um incendiário «This fire».

Foi uma espécie de… Os amigos de Alex a celebrarem o lugar do amor que é o Couraíso!

Seguiu-se a habitual festa de despedida, com o visionamento do vídeo-resumo do festival 2025, lançamento de coloridos confetis, fitas e balões, naquilo que é uma espécie de tradicional Passagem de Ano para todos os amantes do Couraíso. “Bom ano”, desejam uns aos outros, enquanto se abraçam, beijam e celebram!

Alegria irradiante e ruidosa, brilho intenso nos olhos e sorrisos rasgados era o cenário no fim da festa… que para os mais resistentes durou até o domingo ir bastante avançado (mas disso já falaremos).

Antes, no Palco Vodafone, houve três momentos excelentes, com as viagens de DIIV e AIR e o recital de Sharon Van Etten. Quando a beleza cai sobre o anfiteatro natural que desagua no rio Coura, a Praia Fluvial do Taboão ganha um brilho especial, que se reflecte nas copas das verdes árvores e nos olhos do ávido público.

Ao longo dos quatro dias de festival, muitas foram as manifestações de diversos músicos em favor da Palestina, sempre acompanhados pelo ruidoso público, e do qual emergiu sempre uma bandeira do povo mártir, mas foram os norte-americanos DIIV os politicamente mais assertivos e acusadores, exibindo no écran de fundo, entre outras, as mensagens «America is the great Satan» ou «Death to America».

São assim as suas músicas, com carga política e social, sem cedências, embrulhadas numa sonoridade delico-doce, que leva o ouvinte por uma viagem mental de reencontro consigo próprio.

A intensidade sonora e a espiral sónica das guitarras, aduladas pela voz singela e sussurrada levaram o público por um caminho de beleza inimaginável. Brilhante!

Nesse mesmo palco, houve outra viagem, em moldes mais electrónicos, mas igualmente inebriante. Falo do duo gaulês Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, mais conhecido por AIR (Amour, Imagination, Rêve – em português, Amor, Imaginação e Sonho).

Os AIR eram uma das grandes expectativas do derradeiro dia do Vodafone Paredes de Coura 2025 e não a goraram.
Foi mais uma viagem, desta feita, por uma espécie de espaço sideral em que a sonoridade electrónica sensual e atmosférica toca todos os que a ouvem.

Sucessos com «Sexy boy», «La femme d’argent», «Highschool lover» ou «Cherry blossom girl» integraram um vasto alinhamento, que nos momentos mais calmos teve um respeito enorme por parte da plateia.

Antes, Sharon Van Etten levou na bagagem até Coura o seu mais recente álbum de originais «Sharon Van Etten & The Attachment Theory» (2025). Este concerto foi, provavelmente, o mais erudito desta edição do festival, uma espécie de recital em que sobressaíram a qualidade das composições e a interpretação da norte-americana.

A maviosidade da sua voz é impressionante e cativa e o público, que encheu a plateia, apreciou e, uma vez mais, apesar da excitação, soube respeitar a imponência musical de Van Etten. Muitos queriam ouvir «Seventeen» e o tema chegou no fecho da actuação.

E se após as viagens sonoras chegou a festa total no palco principal com os Franz Ferdinand, no Palco Bacana Play, os couraísenses viveram mais uns momentos de alvoroço e rebuliço.

O aquecimento foi dado pelas espanholas Hinds, moças irreverentes lideradas por Carlotta Cosials (voz e guitarra) e Ana García Perrote (voz e guitarra), mas bem acompanhadas por Ade Martin (baixo e coros) e Amber Grimbergen (bateria).

Mostraram garra, entusiasmaram o público, mas, no final, o pessoal estava apenas morno. Teriam que esperara pela primeira verdadeira descarga de energia, que aconteceu depois com os londrinos Warmduscher.

Os ingleses chegaram e venceram com o seu peculiar pós-punk, a cada passo a experimentar novos caminhos, mas sempre a desafiar as fórmulas e prosperando no caos. Assim, foi em Paredes de Coura, com o público sequioso de mosh e crowdsurfing (o festival estava a acabar!) a agitar as águas logo aos primeiros acordes.

Guitarras desafiadoras, electrónica provocadora e ritmos convidativos à dança ou ao mosh foram as marcas da actuação do sexteto londrino, que na bagagem levava o mais recente álbum «To Cold To Hold» (2024).

Conquistaram a plateia, serviram o espírito de Coura e dariam lugar, já finda a festa no palco principal, aos irlandeses Gurriers, que desfiaram a barulhenta reflexão sobre os tempos que vivemos, em que as crises se sucedem ininterruptamente, suportada por um instrumental rápido e, por vezes, até agressivo.
Depois do festim com os amigos de Alex, o pessoal precisava da catarse e ela chegou em forma de «Come and See», o álbum de estreia da banda de Dublin.

E o que se viu foi mais um rebuliço pegado, uma agitação física imparável, enquanto o crowdsurfing se sucedia e o mosh pit se alargava.
A sonoridade punk, em que as guitarras enervadas espalham o caos, juntamente com uma batida em aceleração constante, são o exército naquilo que parece ser um confronto que os irlandeses têm com as maleitas do Mundo. Não esquecer que esta é uma banda filha da pandemia da Covid-19.

Seguiu-se o português Xinobi, que acalmou os espíritos e lançou a dança entre os muitos milhares que ainda resistiam. Fim de festa dançante, que haveria de continuar junto à Praia Fluvial do Taboão até às… 18h00.

Posso estar enganado, mas não creio que os muitos festivaleiros/campistas, depois de quatro dias (muitas das vezes mais), apreciem muito o tipo de música escolhido para os embalar durante a madrugada e manhã. É que a maior parte, à hora do almoço já não está em Paredes de Coura. Tentar descansar um pouco, desmontar tendas e arrumar toda a parafernália de utensílios necessários para se ter uns dias de conforto não é muito compatível com música techno. E este vosso devoto escriba é um grande apreciador de techno. Provavelmente, uma coisa mais suave, talvez, ajude o pessoal a ultrapassar melhor a primeira sensação de saudades do Couraíso.

Entre os três dias de Sobe à Vila e os quatro e meio de festival, foram cerca de 120 almas que viveram a edição 2025 de Paredes de Coura, que em 2026 regressa ao Taboão entre os dias 12 e 15 de Agosto.

Assim sendo, Bom Ano para todos vós e até Agosto’26!