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Entrevista de Álvaro Costa ao ‘Gira-Discos’

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O Gira-discos de Nuno Galopim, mais do que um Blog, é uma verdadeira digi revista sobre cultura pop. A Globalnews.pt e as AC OPTICS recomendam uma visita regular. Desta vez as Optics AC sobre o mundo da Discografia!

É já um veterano nas lides da divulgação musical, atualmente com presença na Antena 3, RTP Memória e RTP2 e com novas experiências online a ganhar forma. Hoje partilha algumas das suas memórias com discos.

Qual foi o primeiro disco que compraste?

Close to the Edge dos Yes, numa das muitas lojas da baixa do Porto, talvez a Melodia ou a Clave. Tenho uma foto em que estou agarrado ao disco com medo que mo gamassem até à estação de Comboios na Avenida de França…

E o mais recente?

A banda sonora de Western Skies de Springsteen, que é uma edição mais ampla do que o álbum original.

O que procuras juntar mais na tua coleção?

Já fui obcecado. E até o meu pai me trazia discos que ele não fazia ideia do que eram quando ia em trabalho a Londres. Uma vez trouxe-me The Glove e Bauhaus… Quando estava na Music Box eu ficava sempre com os “restos” aos quais os meus colegas não ligavam nenhuma. E quando atravessava a fronteira nos anos 80 escondia alguns para que não houvesse problemas com os guardas fronteiriços nacionais….

Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo

O mundo digital tem a vantagem de quase tudo poder estar disponível. Quero adquirir a reduzida mas espantosa discografia do espantoso, bizarro e desaparecido Jim Sullivan, uma lenda ao estilo Twilight Zone!

Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.

Quando mostrei o vinil do infame e famoso Black Album do Prince aos Heróis do Mar no Porto. Na altura o meu irmão Fernando trabalhava na fabulosa Sounds de Genebra e trouxe-me um exemplar. Na altura a polémica fantasmagórica à volta do lado negro e outras lendas sobre o disco era intensa. Lembro-me da cara de espanto do Paulo Pedro e do Rui Pregal quando lhes mostrei o disco. Ainda existia o incrível Griffons na Boavista.

Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?

Não há limites, apenas os financeiros! Aliás devia haver um financiamento bancário para gajos como eu. Quando comecei a ter os meus discos nos anos 70, era algo indescritível e impossível de partilhar com as actuais gerações. Uma alegria intensa quando comprava os discos dos Gentle Giant, Van der Graaf, Yes, Led Zeppelin ou Doors. Um prazer físico mesmo quase sexual…

Lojas de eleição em Portugal…

Não frequento muito as actuais lojas, até porque muito do que pretendo tem a ver com o meu trabalho mais especifico. Mas na baixa do Porto há varias, como sempre a cidade ofereceu alternativas. Eu passava tardes inteiras babado a escutar nas velhas cabines privadas. Como sempre viajei muito fui adquirindo muita coisa como por exemplo uma boa colecção de cassettes que comprava quando vivia em Los Angeles e que usava nas minhas longas viagens pelo deserto californiano ou texano.

Feiras de discos. Frequentas?

Gostava mas o tempo que disponho não é muito e, como disse, o foco é mais o trabalho especifico. Agora, com a Plataforma AC OPTICS, vou refocar algumas coisas e procurar mais do que fiz nos últimos anos.

Fazes compras ‘online’?

Não faço muitas, porque sou algo old school. E a experiência internacional que tive após regressar dos States e ingressar na Antena 3 fazia com que, ao sair do avião, a Time Out e discos eram o primeiro objectivo. Trouxe quilos de coisas de Londres. E de LA enviei um carregamento enorme para Leixões .Um dia, na tanga fui, à Tower Records e disse que queria um de cada e que me enviassem num contentor para Portugal. O office boy deve ter pensado ” mais um queimadinho”. E tinha razão…

Que formatos tens representados na coleção?

Tenho todos e até cheguei a ter cartuchos e muitas white labelspromos sem capa em vinil. O digital serve-me de estudo e busca, mas não ouço por prazer auditivo mas sim para trabalhar e me informar. Nesse aspecto é algo divinal para um ” tolinho” como eu…

Os aristas de quem mais discos tens?

Tenho mais de 200 bootlegs dos Led Zeppelin. Agora estão disponíveis online, mas há uns anos eram adquiridos através de uma espécie de rede clandestina. Tenho muita coisa de Bowie e bootlegs de classic rock, de Hendrix, passando por Santana ou até FranK Zappa. Ouvi os boots dos Zeppelin centenas de vezes e uma vez para o Blitz escrevi uma historia alternativa, já que a ordem cronológica das gravações oficiais não é a mesma da existência das canções, muitas apenas gravadas dois ou três anos após a sua criação.

Editoras cujos discos tenhas comprado mesmo sem conhecer os artistas…

Adoro a Elektra e a Atantic. Cheguei a conhecer o Jack Holzman e o Nesuhi Ertegun esteve várias vezes no Porto na altura em que a WEA era representada pela Radio Triunfo. A importância dos irmãos Ertegun é brutal na história e preservação da música negra norte-americana. Gostava muito do grafismo original da WB com a estrada que dava entrada no edifício principal que vim a conhecer mais tarde e frequentava muito, já que fiz amizade com representantes da WB quando vivia em Los Angeles. E claro a A & M records onde Chaplin se encontrava no tempo da United Artists. Fui lá muitas vezes e era sempre emocionante!

Uma capa preferida.

Close to the Edge dos Yes. Era grande fan das capas do Roger Dean, foi o meu primeiro disco, “gatefolded” e passava tempos infinitos completamente “high” a descobrir, ou a tentar, os segredos do Universo. Também tenho uma ligação enorme ao misticismo de Houses of the Holly dos Led Zeppelin, o meu segundo álbum adquirido a lavar a louça da minha mãe que, na brincadeira, me oferecia uma mesada. Eram outros tempos de algumas dificuldades e cheguei a gamar discos. Um deles dá-me um especial orgulho: foi o Women and Children First dos Van Halen que “palmei” numa loja em Biarritz, mal tinha saído do comboio do Hendaye. Uma espécie de Arsene Lupin dos discos!

Como tens arrumados os discos?

Estão em vários spots, e não tenho espaço para uma arrumação como gostaria. Mas sei onde os encontrar. A tua pergunta é excelente e obriga-me a repensar como vou reinventar espaços. Aos discos, CDs, K7s, etc., juntam-se milhares de livros e revistas… Um “glut” saboroso….

Um artista que ainda tenhas por explorar…

Posso dizer que já devo ter ouvido quase tudo o que eventualmente exista. O mundo digital é uma ajuda preciosa, mesmo que nem sempre na melhor qualidade áudio. Continuo a ficar excitado e feliz quando algo inesperado aparece. E para ter uma ideia do que tenho ouvido nesse contexto tenho dezenas de caderninhos com apontamentos. Recentemente Jim Sullivan, que desapareceu sem deixar rasto, e essas historias meio Twilight Zone fascinam-me. As referências do autor aos ovnis e a área do seu desaparecimento acrescentam sal e pimenta à sua historia…

Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.

Os álbuns do Gino Vanell: o canadiano não o cantor de opera com o mesmo nome. O nome para o artista pop fazia-me lembrar a canzione italiana com que cresci e lembro-me de uma rejeição pateta criada por isso. Coisas da juventude e de uma postura de combat rock que felizmente o tempo, como diria Maeguerite Yourcenar, é o grande juiz, altera. Hoje são pérolas de produção e procura do melhor áudio que a época permitia, a que se juntam canções como I Just Wanna Stop que “enchem” uma telefonia de uma ponta à outra.

Já compraste discos que, afinal, já tinhas? Caso sim, quais. E o que fazes com os discos repetidos?

Nunca me aconteceu. Livros sim e o que faria era oferecer a amigos. Por vezes, agora muito menos, a indústria discográfica tinha outra saúde e por vezes lá consegui um disquito para oferecer. Em alturas de aperto vendi algumas cópias de editora, mas CDs e em Los Angeles. Um “pecado” que já pedi perdão. Mas comprar repetidas não.

Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respectiva história?

Um dia escutava religiosamente Houses of the Holy dos Led Zeppelin. Não tinha muitos e esse era obrigatório nas minhas tardes vilacondenses dos anos 70. Lembro-me de um dia primaveril de 1974, já depois de Abril, e de durante The Song Remains the Same ter escutado um estouro violento, que mais tarde soube que era uma granada de um ex-soldado que inadvertidamente deflagrou, criando muita intensidade noticiosa local. Ainda hoje não consigo ouvir esse álbum sem ser imediatamente transportado para o meu “cubículo” e como que sentir o barulho seco que não era em um break do Bonham, nem um riff do Jimmy Page ou uma vocalise operática do Plant ou uma linha de baixo complexa do Paul Jones… O efeito físico e o espaço temporal desse momento fica eternamente ligado a um disco que nada tinha a ver com o ocorrido,,,

Um disco menos conhecido que recomendes…

Não direi que é um disco menos conhecido per si. Mas que estará hoje no baú de algumas memórias, ou completamente desconhecido dos melómanos mais jovens. No entanto e em 1979 marcou a minha vida radiofónica e, mais importante, trouxe a tecnologia ainda incipiente mas já definidora dos tempos em que novos instrumentos, máquinas e processos iriam marcar a musica dos anos 80 e décadas subsequentes. Voltei a escutá-lo para este quizz dezenas de anos mais tarde e sem mais o ter escutado. Chama-se Arc of a Diver de Stevie Winwood que conhecia dos Traffic e não como soul man à procura de uma identidade. Posso acrescentar um outro, muito semelhante no apontar de caminhos futuros em que a pop e a tecnologia conspirara: Looking for Clues de Robert Palmer, este exatamete de 1980. Que comecei a escutar nas coffee shops durante a minha primeira viagem a Amsterdam!

autoria: giradiscos.me

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