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A tentação de proibir e o fracasso de ensinar.

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A tentação de proibir e o fracasso de ensinar

O arranque do novo ano escolar trouxe também novos desafios para pais e professores. A decisão de proibir o uso de telemóveis no 1º e 2º ciclo de escolaridade, avalizada pela presidência da República, traz à luz a incapacidade da escola em lidar com a evolução social e tecnológica e deixa claro que, tal como em diversas áreas, é mais fácil proibir (eliminar o “problema”) do que trabalhar para encontrar soluções. Recentemente, o governo português decidiu proibir a utilização de telemóveis por alunos do 1º e 2º ciclos. Aplaudida por uns, criticada por outros, a medida abre espaço a um debate inevitável: será que o caminho é mesmo proibir ou será apenas mais um gesto simbólico que nada resolve? E o que acontecerá quando a discussão se alargar, como inevitavelmente já está a acontecer, ao 3º ciclo e ao ensino secundário?

A escola, mais do que um espaço de transmissão de conteúdos, é uma estrutura de educação e desenvolvimento humano. É nela que aprendemos a viver em comunidade, a lidar com diferenças, a gerir conflitos. Quando o Estado decide afastar os telemóveis do espaço escolar, pode parecer que está a proteger os alunos de distrações, de vícios digitais ou de fenómenos como o cyberbullying. Mas será mesmo isso que acontece? Ou estaremos apenas a empurrar o problema para fora de vista, sem o enfrentar?

A história mostra-nos que a proibição nunca resolveu problemas de fundo. Proibiu-se o álcool, proibiu-se a literatura subversiva, proibiram-se músicas, ideias, símbolos. O resultado foi sempre o mesmo: o proibido encontrou forma de sobreviver, quase sempre mais forte e mais tentador. O telemóvel não é exceção. Retirá-lo da escola não apaga a sua presença, apenas adia o confronto e impede que a escola cumpra o seu papel: o de educar para a realidade.

Porque a realidade é esta: vivemos ligados a um ecrã. Comunicamos, trabalhamos, informamo-nos, apaixonamo-nos e até sofremos através dele. Fingir que esse objeto não existe dentro da escola é fingir que o mundo lá fora não existe. E uma escola que fecha os olhos ao mundo trai a sua própria missão.

O desafio não é proibir, é integrar. Criar espaços de reflexão sobre o uso do telemóvel, ensinar práticas de autocontrolo, promover literacia digital desde cedo. Organizar ações de sensibilização sobre os riscos reais, como o cyberbullying, o assédio online, a manipulação algorítmica, o vício da dopamina instantânea. Não só para os alunos, mas também para os pais e professores, muitas vezes tão ou mais dependentes dos seus dispositivos do que os filhos e alunos.

Uma escola que educa para a responsabilidade digital é uma escola que prepara cidadãos. Uma escola que proíbe é uma escola que abdica de ensinar.

Gilberto JS Pereira

O telemóvel pode ser um instrumento de distração, sim, mas também pode ser um recurso pedagógico poderoso. Pode ser usado para pesquisa, para comunicação, para criatividade. O problema não está no objeto, mas no uso que dele fazemos.

Em vez de gastar energia em leis que escondem os sintomas, talvez fosse mais sensato investir em programas que tratem a causa. Porque a educação nunca se fez de proibições. Fez-se sempre de diálogo, de consciência, de responsabilidade.

A questão que fica é simples: queremos escolas que eduquem para a vida real ou escolas que inventem uma realidade artificial onde os problemas não entram? A escolha está à frente de todos. E talvez seja essa escolha, mais do que qualquer telemóvel, que defina o futuro da educação em Portugal.

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