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O Elefante na Sala: O país votou e os partidos fingiram que ganharam.

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O Elefante na sala: a opinião por Gilberto JS Pereira, só Globalnews!

O elefante na sala, que paira na boca de toda a gente como se fosse novidade, são os “grandes” resultados das autárquicas. Grandes, dizem! Quem me dera que fossem. As eleições locais são o espelho mais cru que o país tem para oferecer. Nelas não há uma encenação possível, há o desenrolar de emoções apenas possível no recanto das terras que chamamos nossas. Longe do microscópio das objetivas e opiniões nacionais, não há tempo de antena que disfarce o que se sente nas ruas. As autárquicas são o voto do quotidiano, onde o eleitor conhece o candidato pelo nome e pelo café que frequenta, e não pela agência de comunicação que o promove ou pela bandeira que ostenta na lapela. É o voto que nasce na conversa de café e no buraco na estrada, não das promessas com PowerPoint e toneladas de maquiagem debaixo dos holofotes. Por isso, quando os partidos nacionais se apressam a transformar cada freguesia conquistada num troféu nacional, o espetáculo é quase comovente. Chega a ser enternecedor ver tanta gente a reclamar vitórias onde o país apenas murmurou resignação. As autárquicas não foram um triunfo, foram um retrato. E, como todos os retratos honestos, não favoreceram ninguém. No entanto, as autárquicas revelaram o que os discursos nacionais escondem. Revelaram quem ainda acredita, quem já desistiu e quem apenas vota por inércia. Este ano, como sempre, todos diziam que iam ganhar e, como sempre, quase todos perderam.

Montenegro e o seu PSD apressaram-se a clamar vitória nacional, como quem grita “golo” antes da bola entrar. A verdade é menos gloriosa: a maioria das autarquias só foi conquistada graças a coligações, acordos de circunstância e abraços de conveniência, que encostam o PSD a uma extrema-direita que teima em roubar ao povo tudo aquilo que abril conquistou! É a vitória dos arranjos, não das ideias. É a vitória da soma de siglas, não de uma força política. No fundo, o PSD celebra um sucesso emprestado, como uma nota vinte num trabalho de grupo onde foi um elemento que se encostou aos marrões e se apressou a reclamar inteligência.

Do lado do CHEGA, a ressaca é inevitável. Depois de meses a prometer uma revolução eleitoral e a insuflar números como quem enche um balão de feira, os resultados mostram o vazio do discurso. Ganharam algumas câmaras, sim, mas ficaram muito aquém da epopeia revolucionária que anunciavam com o mesmo à vontade de um D. Sebastião regressado no meio da neblina. A realidade é uma péssima companheira para quem vive do espetáculo e, desta vez, o fogo de artifício foi pífio e soou a festa de aniversário rasca!

O PS, que muitos davam por adormecido, que seria varrido por essa “onda de mudança” que clama “chega”, mostrou que ainda sabe o que é ser partido e não uma feira de vaidades. Nas candidaturas unipartidárias, o domínio é claro. Sozinho, sem coligações, sem cedências, sem precisar de fingir pluralidade. É certo que, se houvesse vontade e insistência, com algumas coligações os resultados seriam outros, mas é, ironicamente, o único a demonstrar que “andar de mãos dadas” nem sempre é sinal de força. Às vezes, é apenas um medo de cair.

Mas o umbigo lisboeta e o centralismo mediático lá encontraram ânimo para declarar vitórias. Lisboa continua entregue a Moedas (o “independente” mais partidário do país, cuidadosamente embrulhado pelo PSD e pelo CDS) e o Porto fica entregue a uma coligação de três cabeças, que nem assim conseguiu ter mais vereadores que o PS. É a vitória da ilusão: ganha-se no ecrã, perde-se na contagem de cadeiras.

E é justamente essa ausência de maiorias absolutas que salva o país. Porque, no meio desta dança de vaidades, foi a democracia que saiu de cabeça erguida. Os eleitores dividiram o poder, espalharam-no, evitaram que um só mandasse em tudo. Ganhou a lucidez coletiva (o demónio assustador que as máquinas partidárias tanto temem).

Por isso sim, o PSD pode cantar vitória, o CHEGA pode continuar a berrar e o PS pode respirar fundo. Mas quem realmente venceu foi o cidadão comum, esse eleitor incómodo que insiste em não seguir guiões. A democracia, essa teimosa, ainda sabe surpreender os que se acham donos dela, e ainda bem que assim é.

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