Assisti incrédulo às “medidas históricas” apresentadas pelo primeiro-ministro Português, para apoio aos jovens portugueses, nesta rentrée política!
Incrédulo porque em pleno século vinte e um, continuamos com medidas populistas e ineficazes saídas das cartilhas de manipulação social do século dezanove… até recuaria mais e diria que parece uma lição tirada do império romano: “pão e circo”.
Os jovens não precisam de esmolas. De almoços grátis. Os jovens não precisam da perpetuação daquilo que foram habituados a acreditar, desde que nasceram. A acreditar que mais tarde ou mais cedo, há-de aparecer uma esmola que lhes dá para mais uns dias.
Os jovens não necessitam de passes grátis para utilizar transportes públicos para ir à escola. Precisam primeiro de uma rede de transportes públicos eficiente, que sirva também o interior e as zonas limítrofes às grandes áreas metropolitanas. E isso ainda não existe. Os jovens para ir à escola, necessitam de escolas decentes, acessíveis, que não obriguem a caminhadas ou viagens de transportes públicos de mais de uma hora. E necessitam de escolas com professores competentes.
Os jovens não necessitam de passes de comboio e Pousadas de Juventude para explorar o país. Necessitam é que os seus pais tenham vencimentos dignos, que lhes permitam ir conhecer o país em família, algumas vezes por ano.
Os jovens não necessitam de cheques-livro para promover a leitura. A promoção da leitura deve ser feita nas escolas, deve ser feita em casa, pelos pais, pela família. Não é um cheque para comprar um livro de graça, que vai dar mais vontade a um adolescente de pegar nos Maias ou n’As Vinhas da Ira e sentar-se no sofá a ler até que lhe doam as pupilas!
Os jovens não necessitam de ir engordar a máquina do estado e tornar-se em mais encargos para os contribuintes. A função pública já está sobrecarregada de recursos humanos. A gestão da função pública é que necessita de uma discussão séria e atenta sobre obrigações e produtividade.
Os jovens não necessitam de isenções no IRS, que apenas irão servir para que entidades patronais menos sérias as utilizem como desculpa para oferecer salários base mais baixos. Os jovens necessitam é de oportunidades de emprego sérias e de vencimentos sérios, que se coadunem de facto com as suas funções. Necessitam que a carga fiscal sobre as empresas seja menor, para que estas possam oferecer melhores condições salariais. E necessitam também que o estado cumpra o seu papel de supervisão para garantir que, de facto, esses benefícios fiscais às empresas são aplicados em melhores condições para os trabalhadores (jovens e não jovens).
Não será um prémio salarial anual para os jovens qualificados, que os fará querer ficar a trabalhar em Portugal. Principalmente quando esse prémio anual corresponde, inevitavelmente a um valor irrisório comparativo ao que irão ganhar por mês, nas mesmas funções, fora de Portugal.
O que os jovens necessitam, Sr. Costa, é que o governo governe, trabalhe, crie condições de sustentabilidade e longevidade para que eles possam olhar para o futuro e acreditem que vale a pena ficar neste jardim à beira-mar plantado. Os jovens não precisam de esmolas. Precisam de ser tratados como cidadãos, e ter oportunidades como cidadãos, bem governados, neste país.