Estamos em negociações com o orçamento de estado por isso, livre de mim estar a tentar influenciar alguma decisão do hemiciclo em termos de aprovação ou não de tão badalado documento.
A World history Encyclopedia define, resumidamente, a social-democracia como:
“(…) uma ideologia que visa equilibrar o dinamismo económico da economia de mercado com a justiça social, utilizando o Estado como um instrumento para alcançar este objetivo dentro dos limites de um sistema democrático.”
Os seus principais pilares assentam na Igualdade Social e Económica, no Estado de bem-estar e numa Economia de Mercado Regulada. Nós por cá, vemos o partido social-democrata apoiado apenas num desses pilares: “Economia de Mercado Regulada”, mas com tudo ao contrário. Centra-se na economia de mercado e na propriedade privada e deixa sempre cair o mais importante, prevenir monopólios e proteger os direitos dos trabalhadores. A não ser que esses trabalhadores se sentem atrás de grandes secretárias, de fato e gravata e iPhone na mão!
São muito interessantes e social-democratas alguns pontos do orçamento de estado em discussão, por exemplo: Defende o pagamento de prémios de produtividade não tributados – estamos fartos de saber quem os recebe, certo? – mas só para empresas que tenham aumentado o número de trabalhadores. Por isso, Sr. Empresário, não se esqueça de contratar mais uma empregada de limpeza a salário mínimo, senão o prémio de 2 milhões anual vai levar com impostos, e todos sabemos que é melhor assim: limpinho, limpinho.
A defesa do desporto, da saúde e do bem-estar, continua em cima da mesa. Aliás, depois de tão criticadas e esmiuçadas as prestações dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos, o Governo Social Democrata decidiu, neste orçamento de estado, cortar ainda mais os apoios ao desporto. Realmente, se é para não se ganhar nada, e só discutir que não se ganha nada, não é preciso estar o estado a financiar isso. E depois, é preciso ir buscar os aumentos para as forças policiais, para as forças armadas, e a recuperação de vencimentos dos professores a algum lado, certo?
A privatização da TAP volta a estar em cima da mesa, resta saber é se a companhia ainda tem dinheiro suficiente para se comprar a si mesma outra vez, e descobrir qual o “amigo secreto” que vai ficar com a negociata!
As mexidas nos escalões de IRS vão deixar mais de metade do país a salário mínimo, o que parece bem para uma economia concorrente a angariar investimento produtivo de riqueza. Não tardará nada, as grandes fábricas da Birmânia, Bangladesh e Burkina Faso, estarão a deslocar produção para as grandes planícies desertas alentejanas.
E continuando a falar de IRS, o aumento do salário mínimo trará também isenções, o que deixará muita gente satisfeita por ter mais alguns Euros no bolso, até chegar a altura da declaração de IRS e verificarem que vão ter que pagar em vez de receber…
E como as empresas necessitam de liquidez para poder pagar os chorudos prémios de produtividade a quem se senta atrás das mesas de direção a mandar trabalhar, baixa a taxa de IRC às empresas, que vão pagar menos impostos sobre os lucros e ainda os vão poder distribuir à vontade sem pagar mais impostos por isso! É a social-democracia, estúpido!
Entretanto, o governo queria que só os “meninos e meninas de bem”, com canudos catolicamente bem tirados, pudessem receber a benesse de usufruir do famigerado “IRS Jovem”, mas ao perceber que os jovens de canudo na mão (salvo-seja) agarram nas malas com a outra e vão para onde lhes valorizam de facto o trabalho, decidiu deixar cair essa exigência. Agora basta ser jovem para ter benefícios na medida… ser jovem e ter contrato de trabalho. Ainda assim, para um benefício real o “jovem” deve auferir 2 000 (sim, leu bem, dois mil) Euros brutos, por mês. O que, como sabemos, é o salário médio de um recém-licenciado ou um jovem com 2 ou 3 anos de experiência de trabalho!
Só me resta mesma questionar, se quem nos governa estará assim tão despegado da realidade, ou se acreditam mesmo que somos todos parvos!
O que será?