O mundo está esquisito, diferente e (muito) mais perigoso. E se há coisa que pode ajudar a melhorar as coisas é a arte, em especial, a música. No primeiro dia do Primavera Sound Porto ouviram-se palavras de ordem pela liberdade da Palestina, contra a abantesma de Donald Trump e ainda um grito de alerta para a importância de preservar os oceanos.

Assim, numa noite que acabaria com Israel a atacar o Irão, ecoou um grito de revolta pugnando pela liberdade do povo palestiniano, massacrado às mãos dos israelitas. Os principais porta-estandarte desta causa foram os irlandeses Fontaines D.C., que encheram a plateia do palco Porto e conseguiram que o público a espaços gritasse em uníssono “Free, free Palestine”, mas também os britânicos High Vis, no Palco Super Bock, lembraram o povo mártir da Palestina.

Por seu turno, no encerramento do Palco Revolut, os norte-americanos the Jesus Lizard pôs, primeiro, a plateia em alvoroço e, depois, a gritar “Fuck Trump”.
Sinais do tempos que na actuação de Anohni and the Johnsons teve um capítulo peculiar. O concerto do britânico, detentor de uma voz que parece vinda dos céus, foi uma espécie de aula sobre os oceanos, com a exibição entre música de um documentário a propósito do tema. Os fotógrafos não foram autorizados a captar imagens, pelo que…

Bem, sublinhadas as principais mensagens passadas no primeiro dia da edição 12 do Primavera Sound Porto, musicalmente, numa noite em que quem (parecia) encabeçar o cartaz era a Charli xcx, the winner is… the Jesus Lizard.

É por concertos como o protagonizado pela banda de Chicago que este vosso devoto escriba vai a festivais. Momentos de pura catarse rock e de total empatia entre músicos e público, com o vocalista do quarteto norte-americano, David Yow, do alto dos seus 65 anos, a fazer um longo crowdsurfing… logo ao primeiro tema («Puss»)!

Uma hora e pouco de pura loucura punk-rock, com um vocalista endiabrado e disruptivo, de intensidade imensa e em constante desafio. Energia a rodos de princípio ao fim, um vocalista avassalador e um público com uma enorme vitalidade a criar o maior mosh do primeiro dia do festival. Para os que duvidavam: Também há mosh no Primavera Sound Porto, assim o cartaz o permita!

Fontaines D.C. é uma espécie de… coisa intensa, mas que não… uma coisa fofinha, que, definitivamente, não é… mas um conjunto sonoro que empolga e emociona. Um concerto mais consistente do que em Paredes de Coura em 2024, em que o público esteve mais do que à altura e a banda correspondeu em pleno. Ouviram-se os temas que tinham de se ouvir e, quando é assim, e toda a gente está satisfeita, óptimo.

Enquanto no Palco Porto a Charli levava o pessoal ao êxtase, no Palco Super Bock, os britânicos High Vis foram a tábua de salvação para milhares de festivaleiros. E que bem que estiveram, o vocalista Graham Sayle e os seus companheiros de banda, a agitarem os corpos e as mentes do muito público acabado de sair do embalo promovido pelo mergulho de Ahohni and the Johnsons nos mares do Mundo e que não queria xcx, mas rock’n’roll.

Nota para o extraordinário concerto dos Glass Beams, no Palco Vodafone, provavelmente, a banda com as máscaras mais fantásticas de todas e que ainda dão mais brilho à sonoridade inebriante do trio australiano.

Reconhecimento ainda para os Dehd, que serviram de aquecimento no primeiro dia do festival e que foram um bom preparar de pernas e ouvidos para o que ainda se iria seguir.

Hoje há mais…