Pode estar na moda, pode recrutar muita gente para a plateia, mas, definitivamente, não está em modo Coura. Foi um martírio para os amantes das sonoridades que fazem o festival há 30 anos aguentar o concerto de Slow J, em especial, depois de um concerto extraordinário dos Protomartyr, que a par do dos Sprints, que se lhes seguiram no Palco Yorn, foram os melhores da noite em linguagem rock falando.

Na verdade, a enchente que o recinto registou no segundo dia de festividades deveu-se especialmente à presença dos franceses L’Imperatrice, que, diga-se, com a sua pop francesa de sabor a nu-disco transformaram o imenso anfiteatro verde em frente ao palco numa gigante pista de dança.
A banda gaulesa já havia conquistado os amantes do Couraíso na sua passagem há dois anos, apenas confirmaram e reforçaram o que deles se esperava. Energia saltitante a provocar a dança, fez do concerto dos franceses um caso sério de festa. Os hits foram cantados e dançados energicamente e o espectáculo de luz e cor ajudou muito ao bailarico.

E, sim, Slow J também arrastou muito público, especialmente Sub-25, mas este escriba continua a achar que foi um erro de casting para Coura. Um sucesso de bilheteira, um concerto entusiasmante para uma imensa multidão, mas (ainda) não é Coura.
E isso percebeu-se quando o concerto terminou e apenas um número residual se transferiu para o Palco Yorn, onde os Sprints deram um concertaço (parece que é sempre assim, olhando à sua recente passagem pelo Porto).

A banda irlandesa transporta para palco uma energia incrível que espalha sobre as plateias e no Vodafone Paredes de Coura 2024 fez o mesmo e a magia deu-se. Bastaram uns pozinhos.
Karla Chubb, guitarrista e vocalista, é um poço de energia e a forma como a liberta contagiou a plateia de imediato. A incrível intensidade das guitarras, a batida eletrizante e a voz de Karla, em especial nas notas mais exigentes, embrulhadas na agitação em palco, formam um conjunto sonoro que tocou quem assistiu. Bastou ver pelo mosh, crowdsurfing e até por uma wall of death que o povo estava muito satisfeito!

Karla não deixou acabar o concerto sem também ela se juntar ao mosh na plateia, que fez com o concerto chegasse ao rubro… quando terminou. Sempre a subir… até explodir!
Mas antes, no Palco Yorn, um fabuloso regresso a Portugal dos Protomartyr. Habitualmente rotulados de banda pós-punk, os norte-americanos vão mais longe e juntam-lhe noise e garagem, embrulhando tudo nas dissertações filosófico-poéticas de Joe Casey, a voz da banda de Detroit.

Depois, a presença em palco de Joe Casey, aparentemente sempre serena tem, igualmente, momentos viscerais. Aliás, musicalmente há muitos momentos destes. É uma postura entre o «nosso» fadista à moda antiga (mão no bolso das calças do fato e cabeça elevada), o vocalista punk e o cantor lírico, que ao longo do concerto vão surgindo, estas e outras, e o deambular pelo palco se torna mais balanceado.
Enquanto isso… a descarga sonora produzida seduzia o público que rapidamente se agitou na plateia, ao mesmo tempo que cantava as líricas de Casey. Um verdadeiro must… visceral!

Outros momentos são dignos de registo neste segundo dia de Coura’24, como o da banda norte-americana Sleater-Kinney e as suas guitarras bem afiadas e vozes afinadas.
Corin Tucker e Carrie Brownstein, ambas na voz e guitarra, são o núcleo da banda e a sua locomotiva. Sleater-Kinney surgiu há 30 anos e, consideradas um baluarte do indie rock e do movimento «riot grrrl», foram exímias no que sabem fazer, ou seja, libertar as guitarras, imprimir a batida e… rockar.

Por outro lado, Wednesday deixou a desejar e Los Bitchos fizeram a festa no Palco Yorn, mas a sonoridade também ficou aquém do desejado. Porém, a festa aconteceu! Hoje há mais e promete ou não estivessem programados os britânicos Idles.

