E às três da manhã a magia de Coura, finalmente, aconteceu! Num primeiro dia do Vodafone Paredes de Coura’24 morno, muito morno, as sonoridades que têm feito o festival ao longo dos últimos 30 anos só chegaram às três da matina com os nova-iorquinos Model/Actriz e Sextile.
Num dia inaugural em que o chamariz era um rol de artistas pouco ou nada interessantes para quem de rock gosta, tudo começou na recta final.

Cole Haden (voz), Jack Wetmore (guitarra), Aaron Shapiro (baixo) e Ruben Radlauer (bateria), ou seja, os Model/Actriz, abriram as hostilidades e que bem o fizeram.
A diva que é Cole Haden encheu não só o palco, mas também a plateia para onde se deslocou amiúde, arregimentando a populaça eufórica e transformando o pedaço num autêntico formigueiro.

Cole Haden é vocalista, mas é igualmente um modelo e uma actriz, modo diva, pintando os lábios em palco, pavoneando-se com plumas, exibindo e despois atirando umas cuecas para a plateia! A massa humana delirou com as incursões de Cole pela plateia e, em especial, com a performance em palco, que muitas vezes se transformava em passerelle.
A voz varia entre a erudição de uma diva e o punk mais visceral, submetida à guitarra distorcida e à batida a roçar o industrial, o que criou um ambiente de sã loucura. Extraordinário!

A sessão prosseguiu com os Sextile, mas o horário de início (4h15) e o cansaço levaram este vosso escriba a retirar. Do que ainda foi possível ouvir, o regresso dos nova-iorquinos, pontuado por uma nova dinâmica, altamente energética e intensa, levou o quase caos ao Palco Yorn.

Nota ainda para a estreia dos israelitas Sababa 5, que transformaram a plateia numa espécie de pista de dança, com o seu som balanceado de guitarra exigente. Final de tarde soalheiro com música a condizer.
Seguiram-se, no Palco Vodafone, os Glass Beams, que ocuparam o lugar deixado vago pelos Bar Italia, que cancelaram por motivo de doença de um dos músicos.

Escondidos por detrás de máscaras de vidros brilhantes, os australianos conduziram uma espécie de nave espacial, tendo animado as hostes no anfiteatro natural, já muito preenchido e sempre muito bailante.
Uma espécie de Khruangbin mais electrónicos, de batida mais hipnótica… bastante agradável.

À viagem espacial com os Glass Beams, seguiu-se o buraco negro no palco principal. Sem autorização para fotografar nenhum dos três artistas que actuaram a seguir é impossível a este escriba mostrar o que acha serem desvios ao espírito de Paredes de Coura, porque também não assistiu. Trata-se de Andre 3000, Sampha e Killer Mike, músicos que encabeçaram o cartaz da estreia da edição 2024 (!!!).
A sensação de liberdade no Couraíso leva, especialmente, os mais novos, muitos estreantes, a rapidamente se entusiasmarem e se comportarem como se num concerto de punk estivessem. Mais valia que fosse punk.

A abertura para este texto fez-se com o ensemble Noiserv, First Breath After Coma e a Banda Musical de Mateus perante uma plateia já muito bem composta e que demonstrou gostar do que viu.
Para um primeiro dia morno, muito morno, com os melhores concertos a acontecerem as horas impróprias para quem quer desfrutar do Couraíso, o grande saldo positivo foi a enorme afluência de público.

Hoje há mais com Protomartyr, Sprints, L’Impératrice e muitos outros.