E ao terceiro dia o (verdadeiro) espírito de Coura desceu, finalmente, sobre o festival. Os britânicos Idles, com uma actuação plena de pujança e energia, fizeram estremecer o anfiteatro natural do rock, ficando claramente provado que esta é a sua verdadeira vocação.
A imensa mole humana que preenchia a plateia fez-se notar, fosse no mosh, no crowdsurfing ou no cantar em uníssono com Joe Talbot.
Ao segundo tema («Colossus»), o guitarrista Lee Kiernan já estava nos braços do público no mosh pit, onde a agitação começou logo aos primeiros acordes.
Em palco, Talbot corria de um lado para o outro e saltava como uma criança a brincar no parque infantil, onde, por vezes, contava com a companhia do guitarrista Mark Bowen.
Bem, se Talbot cativou pela postura provocante e desafiante, Bowen e Kiernan enlouqueceram a plateia com as suas guitarras bem esgalhadas e igualmente provocadoras.
Talbot dirigiu-se ao público diversas vezes expressando-lhe gratidão e satisfação pelo momento que em conjunto estavam a viver, incitando os presentes “a olharem pela pessoa do lado”, com “amor e carinho”.
Houve tempo ainda para um “Viva a Palestina”, efusivamente aplaudido pelos milhares de pessoas presentes e gritado repetidamente a plenos pulmões.
“Vocês são o melhor público para quem tocámos nos últimos tempos”, disse, a certa altura Joe Talbot, algo que soa sempre bem, mas também a… palmadinha nas costas. Talvez não, porque, se o quinteto britânico ofereceu um concerto extraordinário, o espectáculo do público esteve ao nível. Seguramente, as tendas no campismo e as árvores abanaram com tanta energia libertada.
Energia em forma de espírito de Coura, aquilo que os festivaleiros do Couraíso esperam dele, ou seja, carregado de rock. Foi um assombro.
Temas como «Never fight a man with a perm», «Mother», «I’m Scum», «Gift horse», «Mr. Motivator» ou «Danny Nedelko» (com Bowen em crowdsurfing a cantar) levaram o público à loucura, com o mosh pit num autêntico rebuliço.
Um momento houve em que Bowen e Kiernan foram para o o olho do furacão, mas a coisa não correu como o esperado por Talbot, que queria um círculo em torno dos guitarristas. Mesmo assim, correu bem e foi um momento especial na loucura toda que se vivia no imenso mosh pit.
Concerto impressionante, com uma resposta do público à altura, naquilo que foi a prova, se é que era necessário, que estas são as sonoridades esperadas pelos amantes do festival de Paredes de Coura.
Antes também no palco principal, Girl in Red, alter-ego de Marie Ulven Ringheim, uma jovem norueguesa, de 25 anos e lésbica, como fez questão de repetir por várias vezes, também armou a o festim, contando em grande parte com a colaboração dos seus colegas sub-25. Estão em todas. Seja Slow J, Killer Mike, Girl in Red, Model/Actriz ou Idles… estão em todas!
Com um espectáculo pleno de luz, cor, fogo e fogo-de-artifício, Girl in Red conquistou a plateia de Coura, sedenta que estava que chegasse o concerto dos Idles, mas ainda assim com uma larga franja em êxtase com bulício que se passava em palco. É que a rapariga é buliçosa, muito agitada e irreverente.
A viagem pelo terceiro dia deste escriba começou com os norte-americanos Allah-Las, mas a coisa foi muito morna… mesmo.
No Palco Vodafone, dois concertos de versões, uma vez que o repertório dos Nouvelle Vague disso se trata e, depois, a norte-americana Cat Power, exibindo um vistoso «Fuck War» nas costas, optou pelo alinhamento do concerto de Bob Dylan de 1966, aquando da transição deste para o som eléctrico.
Nesta altura, o público ficou um pouco ensonado, mas Girl in Red tratou de os acordar.
No Palco Yorn, Beach Fossils e o seu indie rock prometeu muito, mas não deu grande pica.
A noite fechou com Mdou Moctar e Tramhaus, a horas já impróprias para depois do excelente concerto dos Idles.
Hoje há Jesus And The Mary Chain, Slowdive e Fontaines D.C.!