O quarto e derradeiro dia, aquele em que as guitarras imperaram, teve excelentes concertos, mas a fasquia estava muito elevada, tudo por culpa dos britânicos Idles, que na véspera haviam feito estremecer o habitat natural da música. Ainda assim, nomes como The Jesus And Mary Chain, Slowdive, Baxter Dury, Hotline TNT ou Fontaines D.C., o grande chamariz do dia e que arrastou o maior número de público até ao festival num dia só, protagonizaram concertos muito bons no fecho e despedida da edição 2024 do Vodafone Paredes de Coura.

Só este conjunto de concertos iguala o número de actuações dignas de nota muito boa nos demais três dias de festival. Uma pena e algo que não devia persistir no futuro, porque o rock é a banda-sonora do Couraíso.

Havia grande expectativa em torno da estreia dos irlandeses Fontaines D.C. no Vodafone Paredes de Coura e, na verdade, o último dia do festival contou com a maior enchente de público, que no total dos quatro dias rondou as 100 mil pessoas. No entanto, a proposta ao vivo da banda de Dublin ficou um pouco aquém do esperado.
As músicas estão lá, a qualidade está lá, o potencial está lá, mas parece que no palco de Coura ficaram a meio da ponte.

Musicalmente, os autores de «Boys in a Better Land» foram irrepreensíveis, mas faltou ali uma qualquer chama que guindasse o concerto ao nível dos temas que interpretam.
A actuação incidiu nas canções do último disco, «Skinty Fia», e as guitarras embalaram e arrepiaram, o público agitou-se na plateia (sem grande razão para tal, diga-se!) e a cativante voz de Grian Chatten a ecoar no Couraíso tornaram o momento muito especial, mas este escriba queria algo mais…

De álbuns anteriores também saíram algumas pérolas, como o cavalgante «Televise Mind», o estimulante «A hero’s death» ou o hit «Boys in the Better Land», tema que deu a conhecer os irlandeses ao Mundo. E, com disco novo na forja, os Fontaines D.C. ainda interpretaram alguns dos novos temas, como «Here’s the thing», «Favourite» ou «Starburster».

Posto isto, no balanço da noite, também contando com os Fontaines D.C., foram os veteranos The Jesus And Mary Chain e Slowdive que lograram as performances de maior destaque, com referência ainda para as prestações de Baxter Dury e de Hotline TNT, mas também para as dos Still Corners e dos Destroy Man.

Depois do enorme fiasco que foi a sua passagem pela Alfândega do Porto, no North Music Festival’22, os irmãos Reid e companhia protagonizaram um concertaço, pleno de distorção, escuridão e intensidade, no fundo, o que se espera de uma das mais influentes bandas nascidas nos anos 1980.

Sem espalhafato em palco, mas com muito fumo e cores intensas, ouviram-se pérolas dos Anos 80 e não só, como «Darklands», «Sidewalking», «Reverence» ou «Just like honey», que contou com a participação de Rachel Goswell, dos Slowdive. Mas também houve espaço para as coisas novas, saídas do mais recente álbum de originais, intitulado «Glasgow Eyes». Deste disco, editado este ano, saíram, entre outras, «Venal joy», «Chemical animal» e «Girl 71», que teve a colaboração na voz de uma outra Rachel, no caso a companheira de Jim Reid.

Na plateia, com uma larguíssima representação de maduros, ou seja, daqueles que acompanham os autores de «Psychocandy» desde a primeira hora, o público recebeu a descarga sonora e vibrou, cada um à sua maneira, como quem absorve a distorção como se de ar se tratasse.

Escuro, intenso e vibrante foi assim o excelente concerto dos The Jesus And Mary Chain. E excelente foi também a viagem dos Slowdive, que uma vez mais brilharam no anfiteatro natural da música.
As densas texturas sonoras dos Slowdive vivem das etéreas e dinâmicas guitarras de Christian Savill e Neil Halstead, do coração impactante do baixo de Nick Chaplin e da bateria de Simon Scott e, obviamente, da maviosa voz de Rachel Goswell.

Ao som da banda inglesa, o espírito voa livremente e isso permitiu ao público mergulhar em si mesmo e apreciar, de olhos fechados, as belezas que o rodeavam em ambiente envolvente e idílico.
Um prazer fazer parte da viagem que os Slowdive sempre proporcionam e que, uma vez mais, fizeram em Paredes de Coura.

A surpresa do dia foi Baxter Dury, que se apresentou, ainda de dia, no Palco Vodafone e, com uma performance muito cativante, agarrou o público desde cedo.
O inglês, filho de Ian Dury, encheu o palco com uma presença forte e cheia de energia, coreografando as narrativas que debitava. Um belo concerto!

Também os Still Corners embalaram com as suas guitarras e os Destry Boys agitaram através do mesmo instrumento. Cada um à sua maneira satisfizeram os muitos que se aglomeraram junto ao Palco Yorn para os «ouver». Ainda uma nota para a estreia, em Portugal, dos Superchunk, a deverem um concerto aos portugueses há muitos, muitos anos.

E, pronto, fechou mais uma edição do festival de Paredes de Coura, no ano em que celebrou 30 anos, e que viu crescer no cartaz sonoridades que soam a estranho no habitat natural do rock. Parece estar a processar-se uma renovação de público, aparentemente, forçada através das escolhas da programação. No entanto, e contra todos os profetas da desgraça que defendem que o rock morreu, sempre que o seu espírito do rock desce sobre o Couraíso a magia acontece. E se foi a espaços ou mais presente na recta final do festival, a verdade é que ele esteve presente e foi, uma vez mais, uma enorme festa em torno da música, do convívio, da natureza e do bem-estar.

Até para o ano, Coura, vemo-nos entre os dias 13 e 16 de Agosto de 2025.

A organização confirmou a contratação de “uma grande banda” para a edição de 2025 e a aposta deste vosso escriba vai para Justice, porque sei que vocês sabem que eu sei que vocês pensam o que eu estou a pensar! Até para o ano, Couraíso, e regressa com mais rock, por favor!…