
O Salgado fez anos e, uma vez mais, foi uma festa pegada. Tudo começou com a invasão dos 10.000 Russos, que começaram a aquecer as hostes, numa altura em que a fila de convivas e convidados na rua Passos Manuel abaixo ainda era considerável.
Foi um instante até estar toda a gente dentro do Maus Hábitos, aliás, demorou um bocadito mais do que os invasores russos a aquecer a malta, pois estes, tal como já habituaram o público, foi num piscar de olhos que o fizeram.
João Pimenta, na bateria e voz, Pedro Pestana, na guitarra, e Nils Meisel, nos sintetizadores, levaram ao Maus Hábitos temas do seu quinto e mais recente disco de originais, «Superinertia», editado em Setembro passado, mas não só.
Densa e intrusiva, a sonoridade dos 10.000 Russos leva o ouvinte por paisagens sonoras ora incrivelmente belas ora mais agrestes, mas sempre cativantes.
No nono Salgado Faz Anos… Fest, regressado após um ano de interregno devido à maldita pandemia, o bicho corona fez das suas e impossibilitou de actuar meia-dúzia de bandas, das 20 previstas.
De surpresa, porque não constavam do cartaz, surgiram, no palco Super Bock, os Gator, The Alligator com as suas guitarras frenéticas e ritmos estonteantes. O quarteto de Barcelos, em palco, nunca dá tréguas à plateia e isso fá-los ganhar seguidores. Ali, uma vez mais, não falhou e o rock tomou conta do restaurante.

Por este palco passariam mais duas bandas musicalmente bastantes agitadas, em concreto, os Unsafe Space Garden e nuestros hermanos Kings of the Beach.
Entretanto, pelo palco Salgado, passavam Um Gajo com Pés de Roque Enrole, ou seja, Samuel Úria, e os Pluto, numa muito aguardada reunião.
Peixe e Manel Cruz, naquele que foi «Só mais um começo», subiram ao palco perante uma sala à pinha de um público entusiasta a fazer lembrar os tempos pré-Covid.

No palco Stockhausen, destaque para os Gãrgoola pela viagem sensorial proporcionada. O duo de mascarados, formado por João Miguel Fernandes (percussão) e Filipe Miranda (sintetizadores, samples, voz, percussão), cria um ambiente muito imersivo, aliando performance, música e vídeo. Experimentalismo q.b., ritmos ferozes e um ambiente de texturas densas que ia para além da sonoridade debitada.

Já Tatsuro Arai, igualmente aliando música e vídeo, apresentou uma electrónica estrutural, complexa e «noisy». Imóvel e de laptop à frente, o japonês, que está sedeado em Berlim, conseguiu, ainda assim, prender a atenção de muitos dos convivas que deambulavam pelo Maus Hábitos em busca de um dos vários concertos que aconteciam.

O Manipulador fechou o palco Stockhausen, palco das sonoridades mais experimentais e fora da caixa, por assim dizer.
Armado de baixo e alguns pedais, O Manipulador, alter-ego de Manuel Molarinho, atirou-se para os braços do improviso e deixou-se levar por entre luzes e sombras, manipulando eficazmente o resultado final.
Terminados os concertos foi tempo de bailarico, com os deejays a tomarem conta dos palcos Salgado e Super Bock e a prolongarem a festa madrugada adentro.
Para o ano, espera-se que o Salgado volte a fazer anos (é bom sinal!) e que volte a dar-se ao trabalho de organizar a festa.