
Emociona ouvir Lisa Gerrard. Isto dito assim, parece nada, no entanto, diz quase tudo do que é assistir a um concerto da australiana que se tornou mundialmente conhecida como a voz deliciosa dos Dead Can Dance.
Inserida no Misty Fest, a digressão de Lisa Gerrard, na companhia do teclista Jules Maxwell, pelo nosso país passou, entre outros locais, pela Casa da Música, no Porto, onde a dupla assinou uma actuação de elevado quilate.

Aliás, não se espera outra coisa de Lisa Gerrard cuja voz permanece imaculada e portentosa como sempre. Entre o erudito e a pop, a contemporaneidade é a marca de água da música da australiana.
«Burn», o mais recente registo discográfico, elaborado na companhia de Jules Maxwell, companheiro nos Dead Can Dance, e editado em 2021, foi o grande protagonista desta digressão por terras lusas e, na Casa da Música, encantou e emocionou quem assistiu.

A música é simples e confortável cama para a singela e singular voz de Lisa Gerrard. Assistir de olhos fechados é uma experiência aliciante, até porque em palco pouco ou nada se passa. Jules Maxwell movimenta-se apenas entre o piano e os teclados electrónicos e quase não se dá conta que ali está, não fosse pelo som que debita, e Lisa Gerrard, de frente para o músico e de lado para a plateia, exala imponência, escondendo por debaixo das habituais vestes compridas e largas e do seu icónico cabelo em torre a delicadeza que vocaliza nas suas músicas. Praticamente imóvel, gesticulando apenas com a mão esquerda, como um maestro dirige uma orquestra, é pela voz que Lisa Gerrard emociona. Tão maviosa quanto portentosa, a sonoridade vocal da cantora australiana impressiona. Lisa Gerrard emociona e o público emocionou-se.

Como se de um recital se tratasse, Lisa Gerrard e Jules Maxwell tocaram «Burn» na íntegra, proporcionando ao público uma viagem auditiva de reflexo visual por paisagens mentais etéreas.
Nota ainda para a participação de um par de bailarinos do Ballet Douro, que abrilhantaram o tema de abertura do concerto «Heleali (the sea wil rise»).

A actuação terminou com o público completamente rendido, depois de um arranque mais soturno com a apresentação, por Jules Maxwell, de «Cycles», o último álbum de originais do músico irlandês. Música para pensar na vida… ou talvez não, se ela não andar a correr muito bem!
