Diz-se que “o fado agora quer ser samba”! Pois bem, então soltem-se as guitarras, liberte-se o ritmo, acelerem-se as emoções e… o prazer acontece.
Foi assim na mais recente visita dos Linda Martini ao Porto, uma estreia absoluta no Coliseu, em véspera de dia dos namorados, onde uma vez mais ficou evidente a apetência do quarteto para o palco e a enorme devoção dos fãs.
Longe de estar cheio, bem pelo contrário – não será alheio o facto de ter sido a uma quinta-feira! –, o Coliseu do Porto recebeu os Linda Martini à altura e com grande entusiasmo.

E, depois, como os quatro de Lisboa não sabem dar maus concertos – pelo menos este vosso escriba nunca assistiu a nenhum dos muitos já vistos –, a noite foi o que se esperava: intensa como o mar quando bate na areia e balançada como as copas das árvores ao sabor da nortada.
A sonoridade intensa inflige no ouvinte um arrepio constante e permanente, reclama atitude e delicia pelas (poucas) palavras.
Versos como “O chão que pisas sou eu”, “Dá-me a tua melhor faca para cortarmos isto em dois e depois… esquecer”, “Faltou-te sempre uma razão para ver o mundo e eles não te dizem nada” ou “Quando a nossa cara se gastar e tivermos medo de arriscar” desafiam o espírito, enquanto o corpo estremece com os riffs das guitarras e o ritmo enternecedor ou arrebatador do baixo e da bateria.

Resumindo… “parecemos putos”, todos, eles no palco e o público na plateia. Este último, apesar de alguns indefectíveis da primeira hora dos Linda Martini, era composto maioritariamente por uma mole sub-22, que, diga-se, emprestou outra animação à coisa. Vá, também não peçam agitação ou mosh aos trintões e quarentões! As coisas são como são e assim continuarão.
O concerto do Coliseu do Porto encerra um ciclo, sabendo-se que há álbum novo na forja, que teve um momento de criação em Ílhavo, mais concretamente na Fábrica das Ideias, na Gafanha da Nazaré.
O alinhamento serviu na perfeição o propósito do concerto, passando por grandes êxitos e muitos dos temas do último registo discográfico, «Linda Martini», que serviram para este suave encostar de porta.
Houve também tempo para celebrar o génio de Jorge Palma, com a versão de «Frágil», temo muito bem recebido pela plateia.

Do magnífico «Belarmino» ao rebelde «Juventude sónica», do explosivo «Gravidade» ao imersivo «Estuque», entre muitos outros temas, o concerto fez-se um andamento e tomou a forma de um autêntico carrossel de emoções fortes.
À semelhança de anteriores concertos que encerraram com «Cem metros de sereia», também o do Coliseu do Porto acabou com o público em palco, partilhando sensações com os músicos e celebrando em conjunto o refrão “Foder é perto de te amar, se eu não ficar perto”.

