Tal como o algodão, os God Is An Astronaut também não enganam e assistir a um concerto dos irlandeses é uma experiência única e bastante íntima, apesar de vivida em multidão.
No arranque de mais uma digressão europeia, os irmãos Kinsella Niels (baixo) e Torsten (guitarra e voz) subiram a palco acompanhados por Anxo Silveria (bateria), que substitui o companheiro de longa data Lloyd Hanney, baterista da banda desde 2003.

Em qualquer concerto dos irlandeses, a viagem interior é garantida e levam o ouvinte por atmosferas diversas, por vezes até ao alheamento de onde se está física e mentalmente.
Perante uma Sala Suggia lotada, os God Is An Astronaut foram enormes na intensidade, acuidade e competência sonora, esmagadora no ritmo e disruptiva e desbragadamente q.b. para gerar as mais diferentes emoções a todos os que, num silêncio sepulcral, assistiam na plateia. Aliás, só os entusiásticos aplausos no final de cada tema quebraram esse silêncio!
«Falling leaves», tema do mais recente álbum «Embers» (2024), abriu as hostilidades na Casa da Música, mas foi com uma pérola («From dust to the beyond») do longa-duração de estreia, «The End of the Beginning» (2002), que o soberbo concerto dos God Is An Astronaut fechou, com o público, que estoicamente, permaneceu sentado de início ao fim, a brindar a banda com uma ruidosa ovação.

Do mais recente disco ainda se ouviram mais quarto temas – «Apparition», «Odyssey», «Oscillation» e «Embers» –, dois polvilhados pelo alinhamento e outros dois seguidos no embalo para o final majestoso com «From dust to the beyond».

O primeiro momento de exaltação/exultação aconteceu ao terceiro acto, com o brilhante «All is violence, all is bright».

O fio condutor da guitarra é majestático, enquanto baixo mantém as coisas na linha e a bateria ora empolga ora mitiga as emoções. O ouvinte, esse, levita, viaja e contempla… emoções!

«Suicide by star», «Frozen twilight» e «Fragile» também foram momentos marcantes de um alinhamento que foi fiel ao que os irlandeses habituaram os que apreciam a sua sonoridade.

A primeira parte esteve a cargo de Jo Quail, violoncelista que acompanhou os God Is An Astronaut nos últimos quatro temas do concerto.

No palco certo para exibir a sua arte no violoncelo – Guilhermina Suggia que dá nome à sala principal da Casa da Música foi uma enorme violoncelista –, a londrina apresentou algumas das suas composições, demonstrando uma sonoridade intensa e profunda.

Com a distorção e outros efeitos a serem maravilhosamente manipulados pela artista, o som eléctrico-electrónico do violoncelo redunda numa sonoridade complexa e evocativa, que, igualmente, convida à contemplação. Jo Quail, baseando-se no seu mais recente álbum de originais, «Notan» (2025), proporcionou um delicioso momento e deu um verdadeiro recital de violoncelo na sala da violoncelista.

