Entre os excelentes concertos que a estreia do MEO Kalorama teve, foi, sem dúvida, o verdadeiro recital rock de Nick Cave and The Bad Seeds o momento mais alto da primeira edição que ao longo de três dias tomou conta de parte da Parque da Bela Vista, em Lisboa.
Era uma estreia muito aguardada, especialmente, pelos nomes sonantes que integravam o cartaz.

Se o músico australiano e seus pares foi um regresso a Portugal menos de três meses passados, outros nomes como Arctic Monkeys, The Chemical Brothers ou Kraftwerk, entre muitos outros, apresentavam-se pela primeira vez este ano em solo nacional.
Nick Cave foi magnânimo na sua prestação, provavelmente, por ser o concerto de encerramento da digressão pela Europa. Perante uma multidão entusiasta, o australiano foi empático, simpático, extremamente comunicativo e, the last but not the least, esteve sempre bastante sorridente. A sua felicidade passava pelas músicas e contagiava a plateia.

Foi um autêntico recital, com temas eternos, como «Tupelo» (de enorme agrado deste vosso escriba), «From her to eternity», «O children», dedicado a Paula, uma fã que na plateia gritou insistentemente que fazia anos, «Jubilee Street», «Red right hand», «The mercy seat», «The ship song», «Into my arms» ou «The weeping song», entre tantas outras pérolas de décadas de criação extraordinária.
Nick Cave, Warren Ellis e os demais Bad Seeds receberam nos seus braços um público sedento do ambiente e sentimento que as músicas da banda provocam em quem as ouve. Um recital rock de excepção!

Mas a primeira edição do mais jovem grande festival de música nacional teve outras grandes concertos, com destaque para The Chemical Brothers, Róisín Murphy, Meute, Kraftwerk ou Moderat.
A dupla de electrónica formada Tom Rowlands e Ed Simons eram o grande nome da primeira noite e não deixaram os seus créditos por maquinaria alheia. Com um alinhamento pejados de sucessos, os The Chemical Brothers cedo conquistaram a plateia, transformando-a amiúde numa imensa pista de dança.

«Come with us» foi o convite, logo a abrir, encerrando a noite com «Galvanize», o que guindou a multidão ao rubro.
Neste primeiro dia, o destaque vai para dois projectos oriundos da Alemanha. Primeiro, os veteranos Kraftwerk e, depois, os regressados, após um hiato entre 2017 e 2021, Moderat.
Electrónica com força, bem diferente entre si, mas com ambas a congregarem muito público junto ao Palco Colina.

Os Kraftwerk foram iguais a si próprios, repetindo um espectáculo que nunca cansa, apesar da (aparente) repetição sonora que as suas composições têm.
Já os Moderat é… power! Techno burilado de insistente e constante convite à dança, que foi acolhido de braços no ar pelo público. Festa rija, com muito strobe à mistura.

À hora do concerto dos autores do álbum icónico «The Man Machine», num mini-palco ao lado do palco principal, os 2ManyDjs ainda iniciaram a sua actuação, que acabaria mais cedo. Conflito de som entre os dois palcos, foi a explicação avançada, mas a plataforma onde tocavam não os deve ter deixado muito satisfeitos!
No segundo dia, cujo cabeça-de-cartaz eram os Arctic Monkeys, o nosso destaque vai para o espectáculo de Róisín Murphy.

Numa espécie de concerto e passagem de modelos, tal a frequência com que trocou de indumentária, a irlandesa foi deslumbrante, cativando automaticamente o público.
Canções intemporais dos Moloko (a sua antiga banda) e temas da carreira a solo fizeram o momento, com a plateia a acompanhar a irlandesa a cantar. «Overpowered» e «Sing it back» são dois bons exemplos disso.

Já os Arctic Monkeys tiveram o condão de arrastar até ao Parque da Bela Vista o maior número de público, ansioso por ouvir ao vivo o novo álbum da banda, «The Car», lançado este ano.
No entanto, sentiu-se alguma dificuldade entre o público para aderir aos novos temas como aderiu aos mais antigos, em especial, àqueles mais conhecidos.

No derradeiro dia, que encerrou com a discoteca dos Disclosure e teve o recital de Nick Cave, foi ainda abrilhantado pelos germânicos Meute que instalaram o verdadeiro festim no Palco Futura. Enquanto Peaches debochava no Palco Colina, a festa instalava-se no outro lado do recinto com o techno da marching band alemã. Formada por 11 elementos, maioritariamente tocando instrumentos de sopro, é na batida da percussão e do xilofone que o público se agarra para dançar entusiasticamente. São, pura e simplesmente, extraordinários!

Uma palavra, porque a merecem, para os portugueses que passaram pelos palcos. Aliás, o cartaz do Palco Colina foi essencialmente composto por projectos nacionais.
Destaques para The Legendary Tigerman, Ornatos Violeta, Rodrigo Leão, You Can’t Win, Charlie Brown, Moulinex e Club Makumba.

Para primeira edição o cartaz não podia ser mais apelativo, ficando em aberto alguns melhoramentos, por causa dos conflitos de som entre palcos. Por outro lado, não havia grande variedade de comidas no recinto, algo que também pode e deve ser melhorado.
Para o ano há mais e a reunião está marcada para os dias 31 de Agosto e 1 e 2 de Setembro de 2024.

