O terceiro dia do Vodafone Paredes de Coura 2022 foi um dia repleto de contrastes, mas nem assim o ambiente se ressentiu ou a festa foi menor.
Do pós-punk bielorrusso dos Molchat Doma ao jazz-rock electrónico dos brilhantes dos The Comet Is Coming, passando pelo rock dos nova-iorquinos Parquet Courts e pelo som Groove de batida intensa dos suíços L’Eclair, até ao hardcore punk (lavado) dos norte-americanos Trunstile e ao festim dançante dos franceses L’Impératrice, entre muitas outras coisas, o dia que assinalou o meio do festival foi um verdadeiro caldeirão de géneros e nacionalidades.
Ainda assim, o público a nenhum negou uma forte presença na plateia e uma participação activa nos concertos. Fosse a dançar, fosse a dar vida ao mosh pit, fosse a cantar, fosse a fazer crowdsurfing houve de tudo. Aplausos muitos, porque o público demonstrava gostar do que assistia e, já com os dois palcos a terem momentos simultâneos de actividade musical, dava para os festivaleiros escolherem a sonoridade que mais lhes apetecia.
De alguma forma estão destacados os concertos do dia, sem deixar de fazer uma referência a que a noite fechou em grande no Palco After-Hours ao som, primeiro, dos italianos Nu Genea e, depois, com o Dj catalão John Talabot.
O dia deste vosso escriba começou a ver a chegad do cometa. E é sempre de forma possante que ele aterra em palco. O trio sedeado em Londres contagia com a sua energia, em que o saxofone irascível e provocador encontra cama na marcante bateria e na electrónica de traços industriais, mas a puxar à dança. A banda aproveitou para mostrar algum trabalho que integra o novo álbum, com lançamento marcado para 23 de Setembro, de seu nome «Hyper-Dimensional Extension Beam». O que se ouviu remete para um universo científico-espacial.
Prosseguiu com a negritude do pós-punk dos bielorrussos Molchat Doma, um momento de introspecção e de grande prazer para os muitos fãs da banda que enchiam a plateia.
O rock nascido em fontes múltiplas que os norte-americanos Parquet Courts praticam levou o anfiteatro natural de Coura ao rubro, com o público mais afoito a dar asas à vontade de fazer mosh e crowdsurfing, mas com a maioria a deleitar-se com temas como «Human Performance», «Dust», «Freebird II», «Walking at a Downtown Pace», «Homo sapiens», «Wide Awake» ou «Almost Had to Start a Fight/In and Out of Patience», entre outras.
Seguiram-se os suíços L’Eclair, que levaram até ao Vodafone FM um groove de laivos rockeiros, muito dançante e com uma alma percussionista impressiva. Fizeram a festa e lançaram a dança no fecho do palco.
Depois… Bem, depois foi o fim da picada. Primeiro com os Turnstile a quase transformarem o anfiteatro num enorme mosh pit e depois com os L’Impératrice a metamorfosearem o mesmo espaço numa enorme pista de dança.
Se os norte-americanos de Baltimore rapidamente ganharam a plateia com o seu rock acelerado (demasiado limpo para os ouvidos deste escriba) e chamativo, gerando uma enorme moshada à sua frente, no que pareceu, a momentos, enormes vagas de um tsunami, já os franceses tiveram que ganhar a plateia a pulso. Ainda muito agistados do concerto dos Turnstile, os festivaleiros mais afoitos ainda tinham muita carga nas pilhas. No entanto, os L’Impératrice, com a sua pop dançante e alguma coreografia lograram espalhar o amor pelo Taboão e conquistar a plateia de forma incondicional, recebendo mesmo uma tremenda e demorada ovação, a maior da edição 2022. A verdade é que os franceses puseram toda a gente a dançar, fechando o Palco Vodafone de forma apoteótica.