Ancorados num passado longínquo, mas douradamente brilhante, os britânicos The Chameleons passaram pelo Mouco, pela mão da Hell Xis Agency, também para mostrar o que andam a preparar de novo.
Dos três primeiros álbuns da banda saiu a esmagadora maioria dos temas que se ouviram na quente sala de Campanhã (diga-se, para gáudio do público!) e falo do incontornável e extraordinário «Script of the Bridge» (1983) e ainda de «What Does Anything Mean? Basically» (1985) e «Strange Times» (1986).

Não é que haja muito mais coisas, mas há e, ao que parece, a serem editadas em álbum ainda este ano. No Mouco ouviram-se «Where are you?», que integrou de forma imperceptível a dinâmica do concerto, e «Saviours are a dangerous thing», que abriu o grandioso encore, no qual a banda presenteou a plateia rendida (há muito) com clássicos como «Monkeyland», «Second Skin» e «Don’t fall» (com um cheirinho de «Rebel Rebel», de David Bowie) e a loucura dos anos 1980 a tomar conta da subterrânea sala de Campanhã.

Perante a morte do baterista John Lever, em 2017, e a saída do guitarrista Dave Fielding, os fundadores Mark Burgess (voz e baixo), e Reg Smithies (guitarra) abordam o presente em palco e em estúdio juntamente com Stephen Rice (guitarra), Danny Ashberry (teclados, baixo e voz) e Todd Demma (bateria), sentindo-se que a banda respira saúde e muita vontade de, também oferecer músicas novas, mas fazer brilhar o legado de uma das maiores referências do pós-punk/new wave dos maravilhosos anos 1980.

O concerto no Porto foi isso tudo. O público vibrou do primeiro ao último acorde, viajou no tempo e sentiu-se reconfortado no final. Este vosso escriba sentiu e viu os sorrisos nos diversos rostos que lotaram a sala. A viagem começou com «Mad Jack» e, logo pelas trombas acima, o público levou com (a pérola) «Pleasure and pain».

Foi deveras inebriante para todos os presentes na plateia ouvir e sentir temas eternos de uma juventude vivida a viver, como «Perfume Garden», o genial «Up the Down Escalator», o impactante «Swamp thing» ou o melodioso «P.S. Goodbye».
Guitarras de uma delicadeza enervante, cama para sonhos e riffs embriagantes, num conjunto melodioso e entusiasmante. Foi assim, modo geral, o que se passou e… foi muito bom.

O final, com «Don’t fall» e uma espécie de «live sample» de «Rebel Rebel», de David Bowie, foi apoteótico e fabulosamente agradável.
Ali, no Mouco, no passado dia 19 de Junho… “I realise a miracle is due/I dedicate this melody to you/But is this the stuff dreams are made of?/No wonder I feel like I’m floating on air”, in «Second skin».
A primeira parte ficou a cargo dos portugueses Decline and Fall, projecto de Armando Teixeira (Bizarra Locomotiva e Balla), que motivos de força maior impediram este vosso escriba de assistir.

Em memória do meu grande amigo e apreciador incondicional dos The Chameleons Luís António Mexia (1967-2025).


