No dia em que as propostas dançantes eram de qualidade, diferenciadas e muito apreciadas entre os festivaleiros, o rock (sempre o rock!) voltou a fazer das dele e, uma vez mais, deixou o resto para trás.

E no dia da moshada desbragada provocada pelos Turnstile e do empolgante concerto de Wet Leg, das britânicas Rhian Teasdale e Hester Chambers, foi a disrupção impetuosa dos também ingleses Squid, no Palco Revolut, que mais encheu as medidas a este vosso devoto escriba.

É uma coisa inexplicável, porque na parafernália sonora que a banda de Brighton debita, em ritmo, invariavelmente, bem esgalhado, é a disrupção sonora e rítmica que provoca e enche o vazio e… provoca o caos.

Energia não falta aos Squid e o desafio ao público é constante, com este a responder à altura, gerando também algum caos na plateia, onde houve mosh pit e crowdsurfing q.b.. Uma animação como os festivaleiros que perseguem o rock gostam e privilegiam.

O cartaz do terceiro dia do Primavera Sound Porto 2025 – o último de bandas em palco o penúltimo da edição 12, pois, este domingo (15), a festa continua e fecha com música de dança a cargo de alguns deejays – apresentava propostas que geram sempre grandes expectativas e os protagonistas não deixaram os seus créditos por mãos alheias.

As britânicas Wet Leg reuniram a primeira multidão que se acercou do Palco Porto e souberam manter o público em alta com o seu indie rock perfumado, mas bem agitado.

Foi uma actuação empolgante, de uma jovem banda que sabe capitalizar o nervo da sua música, não deixando de piscar um olho à pista de dança.

Já no Palco Vodafone, a prestação dos norte-americanos Turnstile, à semelhança do que são todos os seus concertos, foi um alvoroço.

E para que não restassem dúvidas, arrancaram logo com «Never enough», o que como era de esperar gerou de imediato o caos na plateia.

Foi sempre em grande agitação, em palco e na plateia, que o concerto decorreu, com a banda de Baltimore a desfiar uma série de hinos seus, feitos de um punk hardcore, diria, ‘limpo’.

«I care», «Look out for me», «Seein’stars», «Blackout», «Dull» e «Birds», entre outras, fizeram as delícias do muito público que se juntou para ver e ouvir os Turnstile.

Ainda assim, sentem-se as boas referências na banda e no público mais jovem que os segue fielmente. Uma sonoridade que mais não é do que um novo colorido numa tela que existe há muitos anos.
Antes, também, no Palco Vodafone, os Parcels transformaram o anfiteatro natural numa enorme pista de dança, com a sua música alegre, feliz e bem-disposta.

Aos primeiros acordes, da banda australiana os corpos na plateia entraram numa dança que só terminaria no fim da actuação. Electropop saltitante e fresco que levou o público ao êxtase. Há uma beleza intrínseca na música dos Parcels, que foi potenciada pelo facto de o Sol ainda brilhar alto à hora do concerto. O vento era desagradável, mas o Astro-Rei juntamente com a música dos australianos ia aquecendo os corpos e as almas da plateia.
Mais tarde, Jamie xx criaria a sua própria pista de dança no Palco Porto, que registou a maior enchente do dia 3 do festival, enquanto este escriba assistia a uma das mais peculiares actuações de todo o festival.

O concerto dos maduros Cap’n Jazz, banda criada pelos irmãos Mike e Tim Kinsella, em 1987, foi um inesperado, mas muito bem-disposto e até hilariante momento em todo o festival.

O vocalista Tim Kinsella é um tratado! Vocalmente, a coisa não foi o melhor, mas a performance foi de luxo. Depois de experimentar o crowdsurfing, manteve um interessante diálogo com a plateia através de um simples ‘tamborine’! Ou seja, nos momentos que não precisava do instrumento, enviava-o para o público que o guardava até ele necessitar novamente. Depois, Tim Kinsella mostrou ter graves problemas com as camisolas. Foi um chorrilho de situações, que levaram o público quase às lágrimas. Um momento único, bem-disposto, em que não é de ignorar a música de uma banda que após oito anos suspendeu a atividade pela primeira vez e que agora, 30 anos depois e algumas reuniões a espaços e concertos, regressa aos palcos para tocar o único álbum que gravaram, «Shmap’n Shmazz».

Notas finais para o concerto de Kim Deal, antiga baixista dos Pixies, uma senhora do rock, que merecia ter mais público na plateia, mas que teve uma prestação irrepreensível. Sem grandes arrepios rítmicos, Kim Deal ofereceu uma prestação consistente e bem sustentada em canções bem feitas e interpretada por uma banda competente.

Por fim, menção à actuação dos espanhóis Carolina Durante, que levou muitos dos seus compatriotas presentes no festival a fazerem a festa com a banda. Num palco transformado numa espécie de escritório dividido em gabinetes, os madrilenos entusiasmaram o público com o seu indie rock de sabor castelhano, mas… Destacar a prestação do vocalista Diego Ibáñez, em palco de muletas, devido a um visível problema físico no joelho esquerdo. As melhoras para ele!

Pronto, e com o pessoal do djing neste domingo (15), encerra a edição 12 do Primavera Sound Porto, que, segundo a organização, recebeu cerca de 110 mil pessoas ao longo dos quatro dias, e que em 2026 regressa nos dias 11, 12 e 13 de junho.

Esperamos estar cá todos para desfrutarmos de um cartaz que orgulho toda a gente!