Os Rádio Macau dizem-nos que “há dias assim” e eu digo-vos que, às vezes, há sábados assim… de “alma vaga”, mas também de um enorme sentir prazeroso pelo que se ouve e vê e ainda pelas sensações que se tem. Começou no M.Ou.Co. com a avalancha sonora dos ingleses bdrmm e terminou com a agitação punk anti-fascista dos tripeiros Renegados de Boliqueime, em regresso aos palcos no Woodstock 69.

O início de noite foi estupendo, com o quarteto inglês bdrmm a presentear o público que encheu a sala do M.Ou.Co. com uma torrente sonora de intensidade avassaladora.
A energia em palco é disseminada pela plateia sem pruridos, sempre com as guitarras desafiadoras e electrizantes a guiarem a viagem, seguindo a marcante rota traçada pelo baixo e bateria. Poderoso!

Ryan Smith (voz e guitarra), Jordan Smith (baixo, sintetizadores e voz), Joe Vickers (guitarra) e Conor Murray (bateria) iniciaram o concerto pelos temas do álbum editado em 2023 («I Don’t Know»), começando o mergulho por «Alps», seguiram-se «Be Careful», «It’s Just a Bit of Blood», «We Fall Apart», «Hidden Cinema» e «Pulling Stitches», apenas entremeados por «Gush».

Depois, bem… depois foi um mergulho no passado (recente, diga-se), ou seja, ao álbum de estreia, «Bedroom» (2020), não sem antes tocarem o seu mais recente tema, «Standard tuning», editado já este ano.

«Three», «If…», «Forget the credits», «Push/Pull» foram alguns dos temas que ecoaram na sala do M.Ou.Co., com a banda a encerrar as hostilidades shoegaze com «Happy», «(Un)happy» e ainda «Port», em novas demonstrações de poder sonoro. Uma autêntica torrente de som electrizante e catártico.

Se o público acolheu a banda de braços abertos, o quarto de Hull estava maravilhado com a recepção, mostrando amiúde rasgados sorrisos.
Em S. Roque da Lameira, mais concretamente, no Woodstock 69 a música foi outra. À chegada ainda os Vurmo mantinham o espaço num rebuliço pegado, mas mesmo a terminar.

Com uma espécie de manifesto anti-fascista punk na mão, os Renegados de Boliqueime regressaram aos palcos, com o vocalista Frágil a mostrar-se em grande forma.
Aos primeiros acordes a sala estava conquistada. O caos em palco rapidamente se estendeu à plateia e a festa… aconteceu.

Guerra e Paz, na guitarra, Giró, na bateria, e Rui, no baixo, arrancaram com «Sofrer até morrer», com Frágil logo a dar tudo…
Bem, foi sempre assim. Na plateia, a agitação era alucinante, com a «velha guarda» punk a mostrar como é.

Amiúde, o público cantava em uníssono, acompanhando o desassossegado Frágil no vociferar de palavras de ordem! Um cartaz, caricaturando o edil Rui Moreira e onde se podia ler “Oh Moreira que te parta a cadeira”, dava o mote para a rebelião.

«Falência ideológica», «Do lado de ninguém», «Militar», «Straight edge», «Bêbado», «Não acredito em Deus», «Solidão», «Estrada perdida», «Animal zoológico», «Troco Deus por uma cerveja», «Chaos tag», «Longe de tudo», «Desordem», «Deixa-me viver», «Ser ou não ser» formaram o manifesto punk debitado pelos Renegados de Boliqueime, de regresso aos palcos e em boa hora o fizeram.

A mensagem final foi «União e força», mas antes já o público estendia a plateia até ao palco, já passeara o cartaz de Moreira pela sala, já o (Frágil) vocalista havia sido derrubado, enquanto sangrava da testa, depois de ter dado com o microfone na mesma. Não era um gelado, era o micro!
Apesar de algum caos musical, o ambiente que os Renegados de Boliqueime conseguem criar é de sã anarquia, de agitação emocional e de festa… muita festa!

Noite grandiosa, entre o shoegaze poderoso dos bdrmm e o punk caótico e anti-fascista dos Renegados de Boliqueime.

