
Há quem diga para aí que o rock está a morrer. Este vosso escriba diz que há quem queira matar o rock, vai-se lá saber porquê! Porém, o rock, nas suas mais variadas facetas, está vivo e bem vivo. Por exemplo, quem assistiu ao recital de Michael Gira, no Auditório de Espinho, no passado dia 8, teve erudição, contemporaneidade, emoção e intensidade, tudo embrulhado em… rock.
Rock sincero e cru, de palavra forte e acutilante, debitada por uma voz intensa e ‘zangada’, embalada por uma simples guitarra.

E o que se ouviu foi? O futuro! Sim, o futuro álbum dos Swans, banda que Michael Gira fundou no dealbar dos anos 1980, mas num registo diferente, a solo, estilo cantautor, que mais não foi do que um autêntico e deslumbrante recital rock.
Tudo começou com um momento de concentração de Gira, espalhando-se um silêncio tumular pela sala cheia de Espinho. O músico norte-americano explicou que, entre outras coisas, o público iria escutar o álbum feito com os Swans, mas que ali iria ser tocado de forma diferente.

«The Beggar» é o título do que será o 16º álbum dos Swans e que ainda não tem data de lançamento. Do material que integrará o disco, ouviu-se «The Parasite», «The Memorious», «Unforming» e o tema que dá nome ao álbum «The Beggar». Deus, amor e liberdade são algumas das temáticas abordadas em temas intensos e, por vezes, sombrios, sempre com a palavra a servir de guia pelas nuances musicais. Bem, depois do que se ouviu, fica a expectativa de ouvir aqueles temas em formato banda e com toda a paleta instrumental dos Swans.

O silêncio no auditório era sepulcral, apenas interrompido por aplausos no final de cada tema. No entanto, a guitarra e voz de Micheal Gira enchiam, não apenas a sala, mas igualmente os espíritos inquietos que preenchiam a plateia.
Seguiu-se «Two Women», do outro projeto que Gira criou, os Angel of Light, e ainda um regresso ao repertório dos Swans, com «New Mind», um single de 1987.

A fechar o recital, que serviu de apresentação do álbum que ainda não o é já o sendo, o músico norte-americano ofereceu «Blind», o único tema composto apenas por si do seu primeiro álbum a solo, «Drainland», de 1995.
O recital rock de Michael Gira foi impressivo e intenso e seguiu-se à actuação de Kristof Hanh, também ele um músico dos quadros dos Swans e dos Angel of Light.

Igualmente sozinho em palco, o músico alemão começou por desafiar o público a desfrutar do momento, esquecendo os telemóveis, para, depois, com a sua «lap steel guitar» encetar uma viagem sonora, muito sensitiva e deslizante.
Arrancou com uma espécie de “Espinho over tour”, até porque aquele foi o derradeiro concerto da digressão que fez com Michael Gira, e que já havia passado pelo bracarense GNRation.

Seguiu-se um tema em língua alemã, uma versão de «Heartbreak Hotel», original de John Cale, e, por fim, uma criação baseada numa canção dos Roxy Music, que o músico explicou de forma muito divertida. Aliás, Kristof Hanh estava bastante bem-disposto e satisfeito com a recepção que o público em Espinho lhe proporcionou em Espinho.

A performance de Kristof Hanh foi um momento imersivo, um excelente preparo para o recital de Michael Gira.












