A propósito deste novo restaurante em Lisboa, dirigido pelo Chef Luís Gaspar, vem-me à memória que sendo nós um dos países da Europa que consome mais carne vermelha, temos muito pouca tradição em grelhá-la, conhecemos mal os pontos de cozedura e investimos pouco em cortes com este desiderato: potenciar o prazer de comer um bife!
A história e o tempo levaram Portugal para outras paragens no que à carne diz respeito e embora tenha havido casas com muita tradição em bifes, só agora começam a surgir conceitos profissionais centrados nesta realidade: as steakhouses.
Esta é uma realidade que aprecio muito e até recomendo um passeio pelo site da Smith&Wollenksy e uma visita a um dos seus restaurantes aquando de uma ida aos EUA ou a Londres. São a minha referência em steakhouses, não só pela execução das carnes como pela sua maturação feita em cada um dos espaços abertos ao público. Findo este aparte, digo-vos que estou muito contente em poder experimentar estas novas propostas no nosso país.
A “Sala de Corte”, por trás do mercado da Ribeira no Cais do Sodré é um caso sério! Local pequeno com uma decoração baseada em luz indireta e confortável, remete-nos para um café tipo “bistrot” por um lado e paredes cruas e muito metal por outro. Deste modo faz-se um bom trabalho ao harmonizar dois ambientes aparentemente antagónicos. No entanto, o espaço é curto para todos os serviços que se pretendem cumprir no restaurante. Isto torna-se mais evidente quando o serviço dedicado às bebidas se encontra escondido por trás do frigorífico de maturação e os serviços de mesa do balcão tem que ser feito pelas costas dos clientes. Pouco confortável.
Mais do que confortável é a comida servida. Lista simples e direta centrada em vários cortes de carne, quase todas maturadas, com os respetivos pesos indicados e guarnições à escolha. Existem outras opções para quem não quer centrar sua refeição na carne.
A proposta é simples. Um bife grelhado num grelhador fechado, vai a descansar e é servido depois numa tábua de madeira, acompanhado com tomate cherry assado, sal, um molho à escolha e uma quenelle cremosa. Solicitar uma guarnição à parte, por favor!
Nas visitas efetuadas, os cortes escolhidos foram o lombo, o entrecôte e vazia. As guarnições foram os legumes salteados, os corações de alface e o puré trufado. De todas as vezes os pontos de cozedura estavam corretos, o que muito me apraz, pois ainda não se complica com oferta de muitos pontos intermédios e se serve melhor o cliente: “Médio ou mal passado?”. Os pontos de cozedura certos realçam as diferenças de sabores entre cortes e assim aconteceu. As guarnições estavam todas boas e destas destacam-se o molho vinagrette de mostrada e mel que cobria os corações de alface e a cremosidade, intensidade e balanço do puré trufado. Dos molhos escolhidos para acompanhar os bifes, o bernaise destacou-se: apresentou-se fresco, acídulo e com final intenso, com muita vontade de acompanhar os bifes.
A lista de vinhos é pequena mas equilibrada e acompanha bem as exigências das ofertas gastronómicas da casa. É organizada pelo escanção Rudolfo Tristão, o que nos dá sempre garantias de diversidade e qualidade. Há uns vinhos mais em conta do que os outros e alguns estrangeiros que sabemos serem harmonias clássicas para bifes, como o Malbec argentino.
Afirmar uma steakhouse em Portugal vai dar trabalho, mas a “Sala de Corte” está atenta e é competente nesse sentido. É visita obrigatória para steak-lovers…
A próxima crónica não vai deixar de fora o trabalho semelhante que está a ser feito no Porto: O “Rib Beef and Wine”, na Ribeira.
Paulo Russell-Pinto