Não nasceu popular, mas é. Tem um lado indie e fica num bairro burguês do Porto. Tem dois irmãos dedicados à restauração. A tranquilidade e afabilidade fazem parte do menu.
Pode um espaço novo acomodar uma identidade gastronómica quase perdida? Pode. O Xau Laura corre os petiscos tradicionais das tabernas do Porto, como bolinhos de bacalhau quentes e impecáveis ou rissóis de carne grandes e intensos. Ao mesmo tempo, propõe Brás vegetariano e uma bela vazia grelhada.
Quando entramos na sala térrea, o lado esquerdo do quadro de ardósia propõe todos os petiscos das tabernas do Porto. Os rissóis, as moelas, os bolinhos de bacalhau e a chouriça. Do lado direito, os pratos mais substanciais com o destaque principal que é a sande de pernil, sem ou com “queijo da serra”. Um bacalhau da casa, uma alheira em prato e um “bife”, que na verdade é uma vazia elegante e fatiada.
Posso começar mesmo pelo fim, com a proposta da vitela barrosã, que chegou à mesa grelhada no ponto pedido, com sabor a grelha e muito tenra. As batatas, caseiras e muito finas, não vieram todas igualmente fritas, surgindo umas mais estaladiças e outras mais moles. No entanto, comeram-se todas. O bacalhau à Laura, posta alta muito bem demolhada e assada, acompanhada com batatas e grelos, foi daqueles clássicos que são espetaculares quando bem feitos (e um desastre quando são mal cozinhados). Foi um prazer partilhá-lo com o resto da mesa, depois de uma alheira de boas origens, com carne e fumo intensos, bem grelhada e quentinha.
Já o Brás de alho francês pisca o olho aos clientes vegetarianos, mas falta ligação entre os ingredientes. Os sabores da receita estavam presentes, mas pouco ovo fez com que se tornasse desligado e seco.
Voltando aos petiscos, não há nada que falhe. Os bolinhos de bacalhau são sequinhos por fora e cremosos por dentro, com sabor do peixe bem presente e o toque da pimenta branca a refrescar a massa. Os rissóis de carne e leitão acabados de fritar, puxam pelo picante e a carne é esfiada bem fina. Os de cogumelos, de pasta firme, é especiado com predominância para os cominhos. Qualquer rissol é boa opção, de acordo com o nosso desejo no momento.
Termino com a referência do restaurante, a sande de pernil. O Xau Laura existe para nos dizer que a sande de pernil não é uma exclusividade do Guedes. Carne de fibra firme e saborosa é cortada na hora, ritual que se impõe a cada pedido, com pão bijou levemente torrado para o deixar crocante. É acompanhado com batatas às rodelas muito finas temperadas de sal e ervas e, desta vez, sempre estaladiças. Quem quiser, cobre o pernil de “queijo da serra”. Gostaria de destacar a escolha do pão, que é de mistura contra o normal molete, o que impede o pão de se ensopar no molho da carne e se desfazer. Desta forma, acabamos de comer a sande com as mãos limpas!
A escolha de vinhos é limitada, mas com ofertas menos obvias que os vinhos mais populares, o que a torna a escolha mais interessante. Toda a equipa de sala é simpática e presente e o serviço é rápido. O propósito do restaurante, anunciado na sua password wifi, “tasco cosmopolita”, cumpre-se a cada visita: Um resgate calmo dos sabores dos tascos portuenses, associado à proximidade que os clientes têm com os donos da “taberna”, criando uma comunidade que repete a experiência e acaba por se conhecer melhor.
créditos das imagens: Paulo Russell-Pinto.