Para chegar ao Lapa Lapa é preciso querer lá ir. Tem de se estacionar longe e caminhar até à praia do molhe, na Foz. Passar a praceta que dá para o mar. Quando lá chego, sinto-me numa ilha isolada do burburinho da cidade, sem carros, sem ruas e sem pressas. Nele habitam cores quentes, madeiras, plantas, informalidade e a areia mesmo à frente.
Estar ali é sentir um Porto cosmopolita e autêntico. O restaurante consegue ser reservado, parecendo exclusivo. Não há muitos assim na invicta. Há cada vez mais restaurantes cosmopolitas que não têm uma raiz portuense e há outros típicos onde lhes falta um ambiente contemporâneo. O Lapa Lapa ganha em genuinidade o que outros do mesmo estilo exageram em pretensiosismo. É preciso marcar mesa.


A cozinha é internacional, mas conhece bem pelo que o português gosta de comer. Pisca o olho aos clássicos “bistronómicos” do mundo, como já vamos ver, mas quando se propõe a apresentar portugalidade, não fica atrás de ninguém.


É o caso da Francesinha, boa, húmida, com carnes de qualidade e bem equilibrada na montagem, com pão q.b.. O molho vincado na cerveja é uma opção que funciona e o torna mais fino e fresco. Ou a perna de galo assada, crocante por fora e húmida por dentro, cheia de sabor, acompanhada por batatas assadas com casca e uma couve coração temperada para dar frescura ao conjunto.
Nas entradas, o atum manda. O tártaro apresenta uma matéria-prima muito boa, a lembrar o sashimi do sushi, o que significa uma excelente escolha deste peixe. O molho doce, tipo teriaky meets sweet chili, é que não acrescenta grande coisa à pureza do prato. Nos pratos de atum também é possível pedir tataki, que chegou bem selado, firme, com mais um fio de molho que não contribui para o sabor final. Já a muxama, apelidada de caseira, mostrou-se muito salgada, mesmo sabendo nós como ela é feita e a cura de sal a que está sujeita no seu envelhecimento.


O carpaccio de novilho é uma referência pela sua simplicidade. No seu âmago, foi criado para ser um prato elegante com ingredientes simples originários de Itália, e no Lapa Lapa a mestria deste prato reside nessa simplicidade de sabores intensos, mas descomplicados. A carne, a rúcula, o queijo e o azeite. Um excelente exemplo de como não complicar é, às vezes, muito bom!
Houve ainda espaço para focaccia em massa de pizza. Pedi a de azeite, queijo e alho. A massa estava crocante, o alho pronunciado, o queijo presente, e azeite na quantidade adequada para não enjoar. As focaccias, bem feitas, dão sempre vontade de comer mais e abrem o apetite para o resto da refeição.

Nos principais, para além do acima falado galo pica-no-chão, destacaria o peito de pato, rosado por dentro, partilhando alguns sabores tropicais da manga e aspergido de cebolinho, acompanhado de um linguini intenso, que no global faz deste prato uma boa experiência. Também a carne laminada veio no ponto e com sabor a grelha. Para confirmar o bom trabalho das carnes pela cozinha, o bife do lombo com molho bernaise, jacked potato e espargos não descurou. Peça de impecável qualidade e um molho bernaise muito bem feito que, curiosamente ou não, combina tanto com o bife mal-passado como com as batatas e os espargos.
O serviço é eficiente, está atento às mesas e a lista de vinhos é curta e com poucas opções a copo. Há sangrias equilibradas e frescas no palato e cocktails para começar ou terminar a refeição.
O que é aliciante no Lapa Lapa é que não é um restaurante de verão, um upgrade de um bar de praia onde se come bem. É um restaurante com uma vista fantástica e comida descontraída, onde se está bem todos os dias do ano, faça chuva ou faça sol!