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“O Stop é nosso, o Stop é nosso, o Stop é nosso e há-de ser”

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Centenas de pessoas, muitos músicos, seus familiares, amigos e muita outra gente que, simplesmente, gosta de música e de Cultura juntaram-se em frente à Câmara Municipal do Porto para, entre palavras de ordem, dizerem à cidade que o Centro Comercial Stop é um verdadeiro centro cultural e que, por isso, tem de ser preservado.

A concentração iniciou-se às 15h00 e, até às 19h30 (hora de arranque da marcha até ao CC Stop), muita gente se foi juntando ao protesto, ultrapassando largamente o milhar.

“O Stop é nosso, o Stop é nosso, o Stop é nosso e há-de ser” ou “Menos turistas e mais artistas” foram algumas das palavras de ordem que, ao longo da tarde, se ouviram na Praça General Humberto Delgado, mesmo em frente ao edifício dos Paços do Concelho, e depois por todo o percurso até ao CC Stop, na Rua do Heroísmo. Os manifestantes reclamavam o reconhecimento da importância cultural do CC Stop e isso era bem visível nos inúmeros cartazes exibidos, onde pontuavam muitas críticas a Rui Moreira, presidente da edilidade portuense.

Sempre acompanhado pelo som de bombos e gaitas de foles, o protesto chamou a atenção de toda a gente, com muitos turistas a registarem o momento, pensando, por certo, tratar-se de alguma festividade. Não era, apesar de os músicos terem criado esse ambiente através… da música que acompanhava as palavras de ordem.

Mas não, era um ruidoso protesto em defesa do CC Stop, da música e de toda a Cultura que brota daquele espaço que o comércio há muito deixou e que centenas de músicos têm dado vida há décadas. Aliás, não fosse aquilo um viveiro de músicos, bandas e outros projectos culturais, seguramente há muito o CC Stop já não existiria e, por certo, já lá estariam turistas a passar temporadas num qualquer hotel de luxo!

O aviso, já antigo, de que o CC Stop não tinha condições de segurança e de que poderia ser fechado, aconteceu, na passada semana, sem aviso prévio, com músicos e outros lojistas a depararem-se com um cordão policial que os impedia de aceder aos espaços que têm arrendados no local.

Note-se que a decisão de selar mais de 100 lojas (hoje em dia, salas de ensaio, estúdios de gravação, ateliers de design, entre outras actividades) foi tomada a 21 de Junho, data do despacho municipal, sem que tal fosse comunicado aos utilizadores desses espaços… e executada cerca de um mês depois!

No cerne da questão está a falta de licença de utilização desses espaços, documento que apenas 26 das parcelas possuem atualmente e, por isso, os seus inquilinos não foram impedidos de aceder, ao contrário de todos os outros.

De imediato e espontaneamente, gerou-se um movimento de protesto, até porque os músicos, muitos deles profissionais, estavam impedidos de aceder às suas ferramentas de trabalho. Muitos dos músicos, profissionais ou não, com concertos agendados viram-se impedidos de aceder aos instrumentos e demais material.

Logo nesse dia, estabeleceu-se um diálogo entre elementos das organizações representativas dos inquilinos do CC Stop e as autoridades, que resultou na possibilidade, mediante um pedido de autorização ao município, de acesso aos espaços para retirar o material do seu interior.

Mas onde colocar tanto material? Nos apartamentos exíguos e fora do centro da cidade em que muita desta gente mora, e foi gentrificada primeiramente?

Do que se sabe, a requalificação do CC Stop é muito dispendiosa e não há quem se chegue à frente. Projetos já foram elaborados, inclusive de candidatura a fundos europeus, mas o impasse mantém-se e está difícl ver uma luz ao fundo do túnel.

Perante a situação e o significativo protesto espontâneo na Rua do Heroísmo, e após o agendamento da concentração e marcha para o dia 24 de Julho, o edil Rui Moreira avançou com uma solução provisória, que permite a utilização dos espaços no CC Stop, mediante a presença de uma equipa de bombeiros, durante 12 horas por dia.

O protesto não foi desmobilizado, porque, para além da solução avançada ser provisória, há ainda a falta de consenso quanto ao horário do período das 12 horas em que o CC Stop deverá funcionar. E isto levanta uma questão crucial para os músicos. Para além da utilização diária do espaço ser variável ao longo do dia e da noite, há o problema das cargas e descargas do material aquando dos concertos. No final das actuações é necessário colocar o material nas salas de ensaio, pois é material volumoso e bastante valioso para ficar nos veículos de transporte. Ora, isto acontece, invariavelmente, a altas horas da noite!

E, como quem não se sente, não é filho de boa gente, o protesto desta segunda-feira foi um primeiro alerta à cidade, para que não deixe morrer o viveiro de cultura que é o CC Stop, algo enfatizado pelos manifestantes: “Não é centro comercial, é um centro cultural”.

Entretanto, enquanto decorria a concentração, Ferreira da Silva, administrador do condomínio do CC Stop, reuniu com o executivo camarário, anuindo à proposta feita dias antes por Rui Moreira, passo essencial para que haja um acordo. “Agora depende dos músicos”, disse à saída o administrador do condomínio.

Saúda-se a abertura das partes ao diálogo e espera-se, para o bem do Porto e do País, que o CC Stop não seja a próxima vítima da gentrificação que vem assolando a cidade Invicta. A última foi, precisamente, uma das grandes instituições centenárias da cidade, o Jornal de Notícias.

Bem, depois de quatro horas e meia de arregimentação em frente à Câmara Municipal, a massa humana, bem mais numerosa do que ao início da tarde, iniciou a sua marcha até ao CC Stop, na Rua do Heroísmo. Pela Rua de Passos Manuel acima, o protesto ganhou definitivamente o espírito de festa. Momento simbólico foi em frente ao Coliseu do Porto, outro património cultural da cidade que precisou que a população viesse para a rua para ser resgatado para o seu propósito cultural. Ali, os manifestantes, ruidosamente, evocaram esse espírito.

Foi sempre em festa e a gritar palavras de ordem que, ordeiramente e sempre vigiados pela PSP, as muitas centenas de manifestantes rumaram ao CC Stop, onde se concentraram e voltaram a manifestar-se, inclusive no hall do CC Stop.

O dia de luta estava a terminar e aos poucos os manifestantes dispersaram, progressivamente, tal como se haviam concentrado.

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