Diz o povo na sua imensa sabedoria que “Março virado de rabo é pior do que o diabo”, por isso, mais vale enfrentá-lo e, com boa-disposição, desfrutar do muito que os palcos da cidade do Porto têm para oferecer no que ao rock diz respeito. E mais não fosse, Março é mês de festa e bailarico, pois o Barracuda – Clube de Roque celebra seis anos de vida (… e que vida!), em fim-de-semana santo e abençoado. Mas muito mais vai preencher os palcos da Invicta, do qual aqui ficam algumas sugestões.
Logo a abrir o mês, a aniversariante sala da Rua da Madeira recebe sexta-feira (dia 1) os ingleses Menace, banda formada em 1976 e que conta apenas com o membro fundador Noel Martin na sua atual formação. Neste mesmo dia, os Therion levam ao Hard Club a «Levithian Tour 2024», contando ainda com as actuações de Keops e Satra, para uma noite da pesada… Já o palco do Maus Hábitos é de PZ, que vai apresentar o seu novo álbum de originais «O Fim do Mundo em Cuecas».
Sábado (dia 2), há muito trash e death metal no Woodstock 69, com a noite «Terapia Invicta II», com Biolence, Phenocryst e Gallows Rittes. Já os portuenses Madmess levam até à Socorro a sua fusão única de heavy rock com elementos psych para um fim de tarde bem maluco! No Ferro Bar, os Lonzdale’s Fantasy, duo formado pelos também Sereias Nils Meisel (banjo e electrónica) e Kenneth Stitt (voz e performance), apresentam a sua electrónica dançável e fortemente performativa.
Na quinta-feira seguinte (dia 7), um senhor do rock e da flauta apresenta-se no Coliseu do Porto com a sua banda de sempre. Trata-se de Ian Anderson e os seus Jethro Tull, uma verdadeira instituição do rock progressivo, que conta 23 álbuns de estúdio, o primeiro editado em 1968, «This Was», e o último, «RökFlöte», no ano passado. São só 55 anos, com um hiato de cinco anos na década passada. Em palco com Ian Anderson estarão o baixista David Goodier, o teclista John O’Hara, o baterista Scott Hammond e o guitarrista Joe Parrish. Já pelo Maus Hábitos passam os Trasgo, que definem a sua sonoridade como “noise roque coise”.
No dia seguinte (8), os impagáveis e desnudados albicastrenses Pussy Lickers apresentam-se, ou melhor, exibem-se no Barracuda.
Sábado (dia 9), o M.Ou.Co. recebe Art School Girlfriend, projecto de Polly Mackey, que passou pelos Deaf Club até em 2015. A escocesa vem ao Porto apresentar o seu segundo e mais recente disco de estúdio, «Soft Landing», mas não só. Já no Woodstock 69, os Linchpin apresentam ao vivo o seu EP de estreia «Blossoming Decay». A noite conta ainda com actuações dos míticos e místicos Redemptus, do Porto, e com o sludge esmagador dos Thörne, de Viana do Castelo. Já o palco do Barracuda é dos The Panic Party, enquanto, mais acima na rua da Madeira, em concreto no Ferro Bar, os protagonistas são O Manipulador e Galgo.
E para os que dizem que «Não se passa nada às segundas», no dia 11, com curadoria da Saliva Diva, há Youth Yard, na Socorro.
No dia 14 (quinta-feira), há skate punk na Socorro, com os Antillectual e os Painting Landscapes, e, no dia seguinte (15), o Hard Club recebe os Tara Perdida para uma noite, garantidamente, agitada. E enquanto no Maus Hábitos Mary Ocher mostra a sua música apaixonada, descomprometidas e provocadora, no Barracuda há cimeira ibérica, com os Revert, do País Basco, e os Dishuman e os Palegazer, ambos produto nacional.
Já no sábado (16), acontece a estreia no Porto dos Cara de Espelho, banda formada pelos ilustres Pedro da Silva Martins (ex-Deolinda), Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa), Mitó Mendes (A Naifa), Nuno Prata (Ornatos Violeta), Luís J Martins (ex-Deolinda) e Sérgio Nascimento (Sérgio Godinho e Humanos), que na Casa da Música apresentam o epónimo primeiro álbum editado já este ano.
Na semana seguinte, quinta-feira (dia 21), no Maus Hábitos estará o italiano Sarram, para “uma cerimónia obscura inspirada nas selvagens paisagens da Sardenha”, com electrónica, doom e post-rock minimal q.b.. A passagem pelo 4º andar do nº 178 da rua de Passos Manuel insere-se na digressão de apresentação do quinto álbum do italiano, intitulado «Pàthei Màthos». Na Casa da Música há Coisa Ruim, projecto que juntou João Vidigal, João Santos e João Saraiva a Ricardo Rodrigues e Mike Ghost para uma espécie de libertação pós-pandémica. Já o Woodstock 69 promove a estreia no Porto dos catalães Prision Affair e que conta ainda com os fantásticos Ideal Victim.
No dia 22, o power trio brasileiro Deafkids mergulha no Understage do Teatro Rivoli, munido da sua “música urgente para tempos de colapso da ‘democracia’, da justiça, da verdade, da realidade e do nosso sistema nervoso”!
Já no sábado (dia 23), The Legendary Tigerman apresenta o seu novo álbum «Zeitgeist» no Hard Club, enquanto Sérgio & Os Assessores estreiam o concerto «Liberdade25», no Coliseu do Porto, com nova apresentação no dia seguinte (24), às 17h00. A um mês da comemoração de meio século da Revolução dos Cravos, «Liberdade25» é a celebração de uma carreira que tem numa canção composta em 1974 um dos seus hinos obrigatórios.
Ainda no domingo, na Socorro, há «Oscila II», com Felix-Florian Tödloff e ainda Amuleto Apotropaico, para um fim de tarde experimental e imersivo.
Com o fim do mês chega também a Páscoa, tempo de ressurreições e celebrações. Enquanto o Barracuda arranca com as comemorações do 6º aniversário (já falamos disso), na quinta-feira (dia 28), Filipe Sambado leva até ao Maus Hábitos «Três Anos de Escorpião em Touro», o quarto álbum do músico, um disco muito íntimo e revelador. No Café da Casa da Música, apresentam-se os portuenses Marquise.
E se Ele morreu para nos salvar, então, celebre-se e faça-se de sexta-feira santa (dia 29) uma festa. No Maus Hábitos, há noise rock e art punk com os Sunflowers e que dia excelente para Carlos de Jesus (guitarra, sintetizadores e voz), acompanhado por Carolina Brandão (bateria e voz) e Frederico Ferreira (baixo), se mostrar bem vivo! A noite conta ainda com os Penumbra, que levam na bagagem o EP de estreia «Banda Gástrica». Mas também no Ferro Bar há agitação prometida, com mais uma noite «Cvlto Shovvs», que leva até à Rua da Madeira os franceses Ran e Ignito e ainda os jovens tugas Itami. Junto ao rio Douro, no Hard Club, a festa faz-se com os magistrais Pop Dell’Arte, em mais um regresso ao Porto para não deixar ninguém indiferente.
Sábado (dia 30), encerra o mês de Março e encerram as comemorações do Barracuda. Três noites de muita música com Gary Yamamoto e Saci Pererê (dia 28), Great Fool (29) e Os Overdoses (30) para celebrar uma casa que mantém acesa a chama do rock e dos concertos ao vivo na cidade do Porto. Sim, porque a urbe não vive (só) de concertos em arenas, em queimódromos, em coliseus ou em estádios. A cidade mexe com os nichos, onde a vontade pode (quase) sempre mais do que o dinheiro e a amizade ainda conta muito. E para que não restem dúvidas, a entrada é livre! Parabéns ao Barracuda e ao seu mentor Rodas e… muitos anos de vida.