créditos: CM Sines
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Estamos a meio da dança da roda, e a dança roda e roda dança e dança e pára e bate palmas. E é então o tempo de entrar na dança. Clap, clap. E siga a roda porque ainda vamos a tempo de dançar muito na ronda da edição 2019 do Festival Músicas do Mundo em Sines. Até sábado, um aluvião de música vai gerar uma corrente de danças, emoções e energia para os que se deixem levar pelos concertos vindos de bandas de 31 países, espalhados pelos três palcos da cidade.

Entramos na dança terça-feira, as atenções concentram-se ainda fora do castelo. Na semana passada foi mesmo fora da cidade, com palcos em Porto Covo, com ineditismos como a mulher da Gâmbia que toca kora (um instrumento quase só tocado por homens), JP Bimeni & the Black Belts – que significou a presença pela primeira vez em Sines de um grupo do Burundi –, os consagrados Gaiteiros de Lisboa, sul-coreanos The Tune, e The Wanton Bishops, do Libano, seguidos de Vaudou Game, banda togo-francesa. Regressemos a terça-feira, que a roda não pára. E siga a música.

Um festival pela cidade, Roda de Samba numa cervejaria. créditos: Filinto Pereira de Melo

Entrar na zona velha de Sines é nestes dias uma aventura musical. Quem deixa o carro na Avenida Vasco da Gama e se vai deslocando orientado pelo gps dos ouvidos é provável que passe em frente à Brewershop Sacarrabos e se deixe ficar na Roda de Samba que os Skalabá Tuka dinamizam ali. Quem percorra depois a rua Vasco da Gama (a toponímia da cidade é rica em celebrar o seu filho dileto) em direção ao castelo vai entrar noutras danças, ouvir outros sons. Djembes, didgeridoos encantam malabaristas que serpenteiam diabolos encantando audiências dançantes, de roupas largas e contrastadas, rastas e barbas várias que nunca conheceram o ofício das barbershops hipster. E bate palmas, e siga a rusga.

Venopian Solitude

Este ano, o FMM Sines voltou ao largo Poeta Bocage para o warm up do festival. Domingo e segunda passaram por lá os Tranglomango, Red Baraat, Davide Salvado e Flávia Coelho, com grande sucesso. Na terça-feira em que entramos na roda foram os Sax Machine com a sua mistura de funk, soul, jazz e eletrónica acompanhada por mc’s que puseram Sines a dançar ao som de uma música que apostou nos metais e que em disco resulta deliciosa com aqueles auriculares – daqueles tamanho camião TIR para explorar um beat, um acorde, uma frase que saia da produção.

E a roda da dança parou. No refrescante Centro de Artes de Sines dois concertos faziam um hiato em tanto jig. Primeiro com a música exploratória de um trio português de respeito em criações de ambientes e massa sonoras, que serão fáceis de imaginar conhecendo o trabalho de Marco Franco, Norberto Lobo e Bruno Pernadas. A banda chama-se Montanhas Azuis e lançou este ano o disco Ilha de Plástico.

Depois com a segunda apresentação em Portugal de Blu Samu. Ainda sem álbum, Salomé tem raízes luso-caboverdianas e influências que vão de Lauryn Hill, a Cesária ou Ella Fitzgerald, cruzando soul, jazz e rap.

Quem já tem disco, e repetiu sistematicamente que estava ali, na frente do palco, “para venda, até porque temos de ter dinheiro para regressar à Malásia”, são os Venopian Solitude. Regressamos à dança da roda no Largo Poeta Bocage. Apesar da sonoridade pop – culminada esta terça-feira com uma versão de um tema dos Backstreet Boys –, o conjunto liderado por Suiko Takahara transporta-nos para composições e universos orientais, daqueles de cinema guia-turístico como banda sonora de algo passado na Malásia. A par do Burundi, a Malásia foi outro dos países que se estrearam neste melting pot musical que é Sines. “Está aqui muita gente, que bom, esperamos conseguir entreter-vos”, disse a muito comunicativa Suiko, pedindo ao público para dançar, bater palmas e até beber. Beber? Sim, beber. “Bebam, que esta música é sobre o fim do mundo”, anunciam. Mas antes do apocalipse, lá lembrou, “eu sei que vocês agora vão ao spotify e ao Youtube mas não se esqueçam que temos CD para vender.”

Suiko Takahara anunciou o fim do mundo, e todo o mundo dançou. créditos: Filinto Pereira de Melo

Mesmo com um bar da Super Bock do lado esquerdo do palco e um da Sagres do lado direito, poucos foram os que quiseram sair a meio daquele crossover entre rock, rap misturando guitarras, teclas, xilofones e pandeireitas tradicionais malaias. E se a noite era de dança e alguém anunciou o fim do mundo, o concerto dos Venopian Solitude culminou com um mosh, que redundou em abraços e sorrisos no fim do concerto. Não foi possível apurar, até ao momento, como correu a venda de CDs.

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