Foi um primeiro dia bravo o que ontem deu início à 30ª edição do Festival Vodafone Paredes de Coura. Um dia com boas propostas de rock, mas também com alguns tiros falhados.
Foi um dia de guitarras alucinadas, noise e muita atitude.

Os londrinos Dry Cleaning, de regresso a Portugal, foram os primeiros a brilhar no Palco Vodafone, ainda também o Sol brilhava intensamente. O brilho e a temperatura atmosférica propiciavam um ambiente apelativo, sendo a cereja em cima do bolo a música dos ingleses.

A guitarra irrequieta de Tom Dowse faz grande parte do trabalho, por entre solos ou simples riffs, mas a voz e a postura de Florence Shaw são desconcertantes e deliciosas. Não precisam falar muito com o público para rapidamente o terem na mão, porque a sonoridade é maravilhosa e embala quem ouve.

Quem também teve momentos de grande embalo do público foram os Yo La Tengo. De regresso a Paredes de Coura, os veteranos norte-americanos lograram momentos de noise extraordinários, por entre canções de embalo, que… A guitarra de Ira Kaplan é um portento de devaneio, uma inquietação constante que leva o ouvinte por percursos catárticos, enquanto Georgia Hubley, na bateria e teclados, e Dave Schramm, no baixo, seguram e amplificam todas as sensações que o conjunto provoca.

Os norte-americanos Julie e os britânicos Squid, no Palco Yorn, foram os primeiros a agitar fortemente os festivaleiros ansiosos por mosh e crowdsurfing.
A sonoridade mais agreste e poderosa que se ouviu no dia de arranque foi a proposta por estas duas bandas, com muitas guitarras alucinadas e alucinantes e que inquietaram toda a gente.

Inquietou inclusive os seguranças que foram surpreendidos, tal como a banda e o restante público que lotava a plateia no concerto dos Squid, quando um festivaleiro logrou esgueirar-se para o palco e dançou, saltou cumprimentou músicos até que, finalmente, a segurança deu por ele e o retirou.

Agressiva, na voz e na postura, foi Alli Logout, vocalista dos norte-americanos Special Interest, num concerto em que a guitarra e a electrónica rivalizam com a vocalização. Senhora de um vozeirão e uma figura a lembrar as formas de Lizzo, Alli Logout enche o palco, dançando, saltando, meneando e vociferando constantemente.

De resto, Frank Carter & The Rattlesnakes, apesar de ter conseguido animar as hostes, deixou uma sensação de ser mais fogo de vista do que outra coisa. Sobre Jessie Ware dizer apenas que este vosso escriba não encontrou qualquer relação entre a sonoridade da artista inglesa e o espírito que há 30 anos celebra o rock no taboão. Erro de casting? Provavelmente, mas dizer ainda, em abono da verdade, que congregou uma numerosa e animada massa humana no anfiteatro natural de Coura, que, também, findo o concerto debandou. Pareceu mais um espectáculo de variedades, com bailarinos de qualidade, mas espremido…

Neste arranque da edição que celebra 30 anos de rock nas margens do rio Coura, como habitualmente foi a electrónica que fechou, primeiro com a dupla Bicep e, por fim, com o amuleto Nuno Lopes, o dia começou no rio a banhos.
A primeira noite ainda assim apresentou um número de festivaleiros menor do que seria expectável, ficando em aberto para avaliar nos próximos dias se esta sensação de menos gente corresponde à realidade.